A Polícia francesa deteve mais de 220 pessoas e efectuou mais de 20 mil controlos de identidade nas manifestações deste sábado, revela o portal da France24, com base nos dados divulgados pelas autoridades. A Prefeitura de Paris informou que as pessoas foram detidas «por levarem objectos proibidos».
Na capital, os manifestantes concentraram-se em frente ao Ministério da Economia, para iniciar uma marcha até os arredores da catedral de Notre-Dame, em protesto contra as políticas do presidente francês, Emmanuel Macron.
Com a capital francesa em estado de alerta, restrições às manifestações em vários pontos e mais de 60 mil agentes mobilizados em todo o país, o ministro do Interior, Christophe Castaner, quis evitar a repetição da violência registada nas mobilizações de 16 de Março, quando prédios e viaturas foram incendiados, vitrines partidas e lojas saqueadas – actos de vandalismo alegadamente perpetrados por elementos infiltrados nos protestos.
Ontem, isso não se verificou, mas registaram-se vários focos de incêndio – nomeadamente em Paris, onde grupos de manifestantes ateram fogo a contentores de lixo – e confrontos entre manifestantes e a Polícia francesa. Os agentes procuraram dispersar as mobilizações com gás lacrimógéneo e balas de borracha, e, tal como em sábados anteriores, recorreram a uma violência extrema que as TV raramente mostram, mas que é possível ver nas redes sociais.
Não há dinheiro, mas os ricos dão milhões para a reconstrução...
A 23.ª semana de protestos do movimento dos Coletes Amarelos contra as políticas sociais e as reformas económicas do governo de Macron esteve marcada pelo incêndio que atingiu a catedral de Notre-Dame no dia 15 de Abril.
Em declarações à imprensa, citadas pela Carta Capital, os militantes não escondem a tristeza que lhes causou o incêndio, mas também a revolta que lhes provocam as «doações» num abrir e fechar de olhos. «Estamos aqui a ver esses milhões a juntar-se, depois de andarmos cinco meses nas ruas a lutar contra a injustiça social e fiscal», disse Ingrid Levavasseur, uma das fundadoras do movimento.
«Milhões para Notre-Dame. E para nós, os pobres?, lia-se precisamente num cartaz de uma manifestante este sábado. «O que aconteceu com Notre-Dame é trágico e a maioria dos Coletes Amarelos está triste com o incêndio na catedral. Mas, ao mesmo tempo, há pessoas que estão nas ruas há cinco meses a exigir mudanças e a ouvir que o governo não tem dinheiro», disse o militante Jérôme Rodrigues, citado pela Carta Capital.
Frédéric Mestdjian reforça a ideia: «O que mais choca as pessoas é que, de um lado, se conseguiu mobilizar todo esse dinheiro rapidamente para uma causa importante, mas material. Enquanto isso, há uma verdadeira emergência humana para a qual recebemos a resposta de que não há dinheiro.»
As pessoas? Não, dos ricos para a catedral
Mestdjian acrescenta que a imensa recolha de «doações» para a reconstrução da Notre-Dame mostra que «o movimento dos Coletes Amarelos não representa os ricos. Ou seja, há menos interesse em financiar a "ajuda" a eles. Em relação à catedral, há um interesse fiscal e também de imagem. É uma jogada de marketing desses doadores», denuncia.
Em pouco tempo, a reconstrução da catedral já conseguiu quase mil milhões de euros. Duas das famílias mais ricas da França, a Pinault e a Arnault, ofereceram, respectivamente, 100 milhões e 200 milhões de euros. Também o grupo L’Oréal, da família Bettencourt-Meyers, anunciou uma «doação» de 200 milhões de euros.
A estes juntaram-se empresas e instituições no anúncio de ajudas milionárias, como o grupo Total (100 milhões). Quanto aos bancos, o Crédit Agricole anunciou que iria ajudar na reconstrução com 5 milhões de euros. Société Générale, BNP, Crédit Mutuel e CIC também confirmaram a participação na recolha de fundos, sem precisar as verbas. Por seu lado, a empresa de informática Capgemini disse estar «solidária» com o esforço nacional e anunciou que ajudaria a reconstruir Notre-Dame com 1 milhão de euros.
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