A resolução, que passou com 154 votos a favor e 72 contra, foi apresentada por Sylvain Maillard, deputado do La République en Marche – o partido do presidente francês, Emmanuel Macron. Maillard propôs que fosse adoptada a definição de anti-semitismo da International Holocaust Rememberance Alliance (IHRA), de acordo com a qual a crítica a Israel e ao sionismo podem constituir uma forma de anti-semitismo.
«Em França, em toda a Europa, mas também em quase todas as democracias ocidentais assiste-se a um ressurgimento do anti-semitismo, provavelmente sem precedentes desde a Segunda Guerra Mundial», diz o texto da resolução na sua parte introdutória, citado pelo diário Haaretz, que refere que França, onde reside a terceira maior comunidade judaica do mundo, registou um grande aumento nos ataques anti-semitas em 2018 (cerca de 70%).
O texto diz ainda que «tais abusos tornam cada vez mais o anti-sionismo "uma das formas contemporâneas de anti-semitismo" nas palavras do presidente da República»[, Emmanuel Macron].
O ministro israelita dos Assuntos Estratégicos e da Segurança Pública, Gilad Erdan (de extrema-direita), aplaudiu a aprovação da resolução na Assembleia Nacional francesa, sublinhando que, «sob a "crítica política" ao Estado de Israel se dissemina conteúdo anti-semita, envenenando o discurso e denunciando o direito de Israel a existir com um Estado judaico», indica a mesma fonte.
Erdan disse esperar medidas práticas do governo francês contra figuras ligadas ao movimento BDS [Boicote, Desinvestimento e Sanções] e contra «activistas anti-semitas que espalham o ódio em França contra Israel e os judeus».
Petição de académicos judeus e israelitas contra a resolução
Esta semana, 129 académicos judeus e israelitas assinaram uma petição criticando o conteúdo da resolução agora aprovada, nomeadamente por obliterar os cidadãos palestinianos que vivem em Israel e os judeus que se opõem ao sionismo, bem como por «diminuir a experiência palestiniana».
«Para os palestinianos, o sionismo significa privação, deslocação, ocupação e desigualdade estrutural. É cínico e insensível estigmatizá-los como anti-semitas por seu oporem ao sionismo», lê-se na petição.
«O anti-semitismo precisa de ser combatido em termos universais, tal como outras formas de racismo e intolerância, para responder ao ódio». «Pôr de lado esta abordagem universal irá conduzir a uma maior polarização em França, que causaria danos à luta contra o anti-semitismo», alertam.
Legitimidade da crítica ao sionismo e às políticas de Israel
Num documento divulgado em Julho, o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) denunciava a adopção – por muitos países, incluindo os EUA, o Reino Unido, a Alemanha e Portugal – da definição de anti-semitismo da IHRA, que é defendida por Benjamin Netanyahu e confunde «deliberadamente anti-semitismo com a crítica à política de Israel e ao sionismo», abrindo «as portas à limitação da liberdade de expressão e à criminalização da solidariedade com a causa do povo palestiniano».
Personalidades, movimentos e partidos políticos solidários com «os legítimos direitos do povo palestiniano são alvo dessa linha de ataque», que é activamente promovida pelo Estado de Israel, nomeadamente através do seu Ministério dos Assuntos Estratégicos, lembra o MPPM, frisando que se assiste a «uma cada vez maior aproximação entre o regime sionista de Israel e governos e forças políticas de extrema-direita, racistas e mesmo, esses sim, anti-semitas».
Neste contexto, o organismo solidário português reafirma «a inteira legitimidade da crítica ao sionismo e às políticas de Israel, e rejeita que esta seja assimilada ao anti-semitismo», como já fizeram centenas de académicos e intelectuais israelitas e judeus.
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