Os chefes da chamada «Comuna de Seattle», uma das expressões decorrentes dos grandes protestos que atravessaram os Estados Unidos contra o assassínio pela polícia do cidadão negro George Floyd, pediram aos seguidores para desmontarem as tendas, regressarem a casa e apoiarem a campanha de Joe Biden e do Partido Democrata para as eleições presidenciais de Novembro.
Terminou assim, nas mãos do sistema dominante, um mês de ira e revolta genuínas, na América e também na Europa, contra o racismo e, em alguns casos, contra o neoliberalismo em particular e o capitalismo em geral. Como era de prever, para que tudo continue na mesma – ou pior.
Dezenas de milhares de pessoas, talvez centenas de milhares, dos dois lados do Atlântico, exprimiram durante semanas, de maneira autêntica e pacífica, o seu repúdio por um comportamento assassino assumido por um símbolo institucional de uma sociedade criminosa como é a que aceita funcionar com base na discriminação da cor da pele, da segregação sistemática e violenta entre os que possuem quase tudo e os que têm acesso a pouco mais do que nada.
Ao cabo de um mês, durante o qual a comunicação que serve este tipo de sociedade e muitos dos seus doutos analistas chegaram a falar empolgadamente de «revolução» e de um «abanão no sistema», a raiva e o descontentamento foram canalizados para uma das facções poderosas da grande mafia global capitalista. Tal como acontecera anteriormente com o movimento Occupy Wall Street e outras expressões do mesmo género, eventualmente menos mediatizadas.
«Sabe-se onde chegaram os movimentos genuínos e espontâneos nascidos da revolta contra o assassínio de Floyd; sabe-se também como se iniciaram. Conhecem-se menos bem o momento e as circunstâncias em que começaram a ser manipulados e instrumentalizados.»
Agora, o epílogo dos levantamentos populares contra o assassínio de George Floyd e o racismo em geral sugere uma aposta no neoliberal, racista, corrupto e militarista Joe Biden contra o neoliberal, racista, corrupto, militarista, fascista e fundamentalista cristão Donald Trump.
Alguns dirão que é a «escolha do mal menor». Como se houvesse diferenças de fundo entre mandar matar sérvios, líbios, sírios, patrocinar o encarceramento massivo de negros e instaurar o fascismo na Ucrânia, como foi o caso de Joe Biden, incrustado ao mais alto nível nas administrações democratas de Bill Clinton e Barack Obama; ou tirar proveito do fascismo da Ucrânia, dar golpes na Venezuela e matar à fome venezuelanos, iranianos, sírios, palestinianos e outros povos, como é o caso do republicano Donald Trump.
Sabe-se onde chegaram os movimentos genuínos e espontâneos nascidos da revolta contra o assassínio de Floyd; sabe-se também como se iniciaram. Conhecem-se menos bem o momento e as circunstâncias em que começaram a ser manipulados e instrumentalizados. É importante, portanto, ir um pouco mais fundo na identificação de entidades que, praticamente desde o início, surgiram à cabeça dos protestos, como a organização Black Lives Matter (BLM), sigla significando que «as vidas dos negros são importantes».
Pequena história exemplar e com muitos milhões
O Black Lives Matter existe desde 2014, formado por três activistas negras profissionais que gerem uma constelação de entidades inseridas na «Organização Socialista Estrada da Liberdade», que em 12 de Junho de 2020, em pleno período de protestos, escreveu o seguinte no seu website: «O capitalismo é um sistema fracassado que prospera na exploração, desigualdade e opressão (…) O capitalismo é um sistema moribundo com o qual é preciso acabar.»
Estaremos, pois, perante uma organização não apenas antirracista mas também socialista, no mínimo anticapitalista.
Uma das activistas que fundou o BLM, Alicia Garza, já era anteriormente gestora de organizações integradas na «Estrada da Liberdade», como Direito à Cidade, Escola da Unidade e Liberdade (SOUL) e POWER, sigla relativa a uma agremiação lutando por direitos laborais.
De que vive este complexo universo com uma fachada cívica?
Entre 2011 e 2014, por exemplo, Alicia Garza recebeu mais de 10 milhões de dólares doados pela Fundação Ford, por duas fundações tituladas pelo milionário globalista e das «revoluções coloridas» George Soros, pela Fundação Rockefeller, pela Fundação Heinz (produtos alimentares da família do secretário de Estado de Obama, John Kerry) e pela Fundação Kellog, entre outras. Estas «fundações» permitem aos maiores expoentes do capitalismo escaparem aos impostos sob a cobertura de donativos para causas cívicas.
Verificamos, e continuaremos a verificar, que estes ícones do capitalismo – com a fama e o proveito – financiam generosamente entidades que alegadamente lutam contra o capitalismo.
Uma das cofundadoras de BLM é também Opal Tomati, gestora executiva de outros grupos inseridos na «Estrada da Liberdade», designadamente «Projecto Avançado» – «direitos cívicos multirraciais de próxima geração» – em cooperação com um ex-procurador geral da administração de Bill Clinton.
«Verificamos, e continuaremos a verificar, que estes ícones do capitalismo – com a fama e o proveito – financiam generosamente entidades que alegadamente lutam contra o capitalismo.»
Este «Projecto Avançado», associado a BLM, recebeu pelo menos 30 milhões de dólares das seguintes Fundações: Ford, Kellog, Rockefeller, Soros, Hewllet (do departamento de guerra da HP).
Mais recentemente, a Fundação Ford e a Borealis Philantropy criaram o Black-Led Movement Fund (BLMF), uma campanha com o objectivo declarado de reunir 100 milhões de dólares para o Movement for Black Lives (M4BL), do qual o Black Lives Matter é o núcleo central. Antes disso, as fundações Soros já tinham encaminhado mais 33 milhões directamente para o BLM – que assume ter entre os seus principais criadores também as Fundações Ford e Kellog.
A campanha de donativos BLMF afirma oficialmente que «fornece subsídios e recursos para a constituição de movimentos e assistência técnica a organizações que trabalhem para avanços na liderança e visão de jovens líderes negros, feministas, imigrantes que moldam e dirigem um diálogo nacional» sobre vários aspectos sociais.
Os fundos recolhidos na campanha destinam-se ao M4BL. E quando clica no botão «doações» do website deste movimento o internauta é direccionado para ActBlue Charities, uma instituição que, segundo diz, «facilita doações para democratas e progressistas».
No passado dia 21 de Maio, portanto ainda antes dos protestos contra a morte de George Floyd, o ActBlue Charities já tinha contribuído com 119 milhões de dólares para quem? Para a campanha do candidato presidencial «democrata e progressista» Joe Biden.
Apesar de a teia de entidades envolvidas nestes tráfegos de milhões ser complexa e nebulosa, não é difícil perceber nela as vias para os grandes expoentes do complexo militar e industrial que governa os Estados Unidos fugirem aos impostos financiando ilegalmente candidatos presidenciais, dos quais receberão posteriormente as contrapartidas – bastante multiplicadas em relação aos investimentos.
Portanto, quando o Black Lives Matter encabeça protestos, «comunas», ocupações e outras acções congéneres está apenas, neste caso, a trabalhar para o Directório do Partido Democrata, a facção globalista e de «esquerda» do sistema bipartidário oligárquico e totalitário que governa os Estados Unidos da América.
Afinal, para o Black Lives Matter as vidas dos negros não são assim tão importantes porque no final das suas acções iremos encontrar a sociedade do costume – racista e capitalista neoliberal.
A sua acção – e as de uma imensa constelação de entidades gémeas mais ou menos «coloridas» e com raio de intervenção global – é a de descredibilizar e inutilizar os genuínos sinais de revolta que são inevitáveis numa sociedade opressora.
Funcionam, afinal, como tubos de escape poluidores da consciência social, alimentados pelas forças e os interesses que gerem essa sociedade criminosa.
Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril
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