A representação da Renault não compareceu ao encontro marcado com o Ministério Público do Paraná, Tribunal Regional do Trabalho, governo estadual, deputados e sindicatos para debater o despedimento de 747 trabalhadores na fábrica do complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (Grande Curitiba).
De acordo com notícia divulgada no portal da Central Única dos Trabalhadores (CUT), o compromisso havia sido firmado durante uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Paraná (Sul do Brasil) no passado dia 31. A empresa não justificou o motivo da falta.
Os deputados exigem seriedade à multinacional e reafirmam que vão exigir a retirada de incentivos fiscais e a cobrança de impostos às empresas que promovem despedimentos em massa.
«Nós vamos estudar sanções jurídicas. Há a possibilidade de editar um decreto legislativo para rever os benefícios da Renault com relação aos benefícios fiscais gigantes que a empresa possui e não mantendo os empregos durante o período de pandemia. A Assembleia e os deputados vão estar firmes cobrando da empresa o seu papel social», declarou o deputado Arilson Chiorato, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Num plenário realizado na segunda-feira, os metalúrgicos da multinacional francesa decidiram manter a greve que dura há 14 dias. «A empresa até agora não manifestou um interesse em resolver o problema dos despedimentos. Diz que o despedimento é necessário por conta do mercado. Enquanto tiver esse posicionamento, nós vamos continuar a greve», disse ao Brasil de Fato Paulo Pissinini, trabalhador da fábrica e dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba.
Pissinini acusou ainda a empresa de querer despedir cerca de mil trabalhadores, para serem recontratados posteriormente em sistema de outsourcing.
Cenário nacional
A situação contra a qual os metalúrgicos da Renault estão a lutar em Curitiba é já uma realidade para muitos outros trabalhadores brasileiros. Segundo os dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre Janeiro e Junho deste ano 7,9 milhões de trabalhadores perderam o emprego. Como, no mesmo período, foram registadas 6,7 milhões de contratações, o saldo é negativo, tendo-se perdido, nas contas do governo federal, 1,2 milhões de postos de trabalho.
Ao fazer uma avaliação do panorama, Milton Viário, metalúrgico e dirigente da CUT no Rio Grande do Sul, afirmou que os sectores considerados não essenciais – automóvel, calçado, vestuário – foram os que despediram rapidamente com o início da pandemia.
Nos sectores chamados essenciais, a situação está-se a manter, e na actividade da alimentação regista-se, inclusive, «um pequeno aumento na contratação», disse ao Brasil de Fato.
Já nos sectores ligados à montagem de camiões e autocarros houve processos de redução de jornada com corte de salário e suspensão de contrato de trabalho. O dirigente sindical mostra-se ainda preocupado com o fim das medidas de apoio nos próximos 60 a 90 dias, que terão consequências num quadro de mais despedimentos.
«Após Agosto, a expectativa é que, se não houver retomada da actividade económica, se o governo federal não tomar iniciativas no sentido de fomentar a actividade económica […], a tendência é o agravamento dos despedimentos», alertou.
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