Neste período que se prevê ser de reabertura de muitos dos projetos ou espaços culturais, entretanto, interrompidos ou fechados devido às medidas do estado de emergência é também um tempo de balanço de momentos difíceis e de grandes incertezas.
Para recomeçar projetos artísticos não basta abrir as portas, porque nem o público está ali à espera, nem as ideias para a criação poderão, na íntegra, ser recuperadas, como se de um passo de magia se tratasse. Recomeçar em arte é sempre ter a coragem de criar novas dinâmicas que venham agora a fazer sentido, negando ou afirmando algo que, entretanto, se fez ou rebuscar nos registos de memória do que ficou em suspenso.
O Círculo Artístico e Cultural Artur Bual é uma Associação sem fins lucrativos sediada na Amadora, tendo como referência e inspiração a obra e a memória do artista Artur Bual (1928-1999), que marcou o panorama da arte portuguesa do século XX com «o gestualismo expressionista» a partir de 1958, «geralmente em tons cinzentos» com «sugestões de claro-escuro cenográfico»1
Esta associação foi fundada no ano de 2000 e tem como objetivo desenvolver um projeto cultural na área das Artes Plásticas, da Literatura e da Música. Durante os seus vinte anos de existência desenvolveu exposições em universidades, escolas, juntas, em Bilbao, Paris, Lagoa, Vila Nova de Cerveira, Valência, Alandroal, Mértola e agora Aljezur, realizou parcerias com associações culturais em todo o país com atividades de música e poesia, com tertúlias e pinturas ao vivo em diversos espaços de Montemor-o-Novo, Montemor-o-Velho e Porto, entre muitos outros. O Círculo Artur Bual tem vindo a publicar diversos cadernos de poesia e organizou o Prémio Jovem de Escultura e Pintura Artur Bual da Amadora.
Recentemente o Círculo Artur Bual realizou uma exposição no Espaço+ em Aljezur, que apesar do estado de emergência manteve na sua programação a Exposição de pintura, desenho e escultura «Comemorativa dos 20 anos do Círculo Artístico Artur Bual». Esta exposição reúniu 33 obras de pintura, escultura e fotografia de 27 artistas, sendo 24 portugueses e três estrangeiros, todos a viverem em Portugal, entre sócios do círculo e convidados. O Município de Aljezur disponibilizou em formato digital, uma visita à exposição, que pode ser consultada aqui.
Na sequência da promoção de projetos de natureza artística e cultural, a Câmara Municipal de Vila Viçosa institui o Prémio de Pintura Henrique Pousão em 1985, com o objetivo de estimular os artistas locais e regionais e a atividade cultural na área da Pintura e, sobretudo, evocar o pintor Henrique Pousão2, proeminente figura da Arte e da Cultura do século XIX em Portugal e nascido na localidade de Vila Viçosa.
O Prémio de Pintura Henrique Pousão é bienal, realiza-se em 2021, onde poderão concorrer todos os artistas naturais e ou residentes no Alentejo. O Prémio tem um valor de 2.500,00 euros e contempla total liberdade temática. Já se pode consultar o regulamento do Prémio de Pintura Henrique Pousão 2021, sendo que a inscrição e entrega das obras a concurso deverá ser feita na Câmara Municipal de Vila Viçosa, até ao dia 30 de setembro de 2021. O vencedor será conhecido até 20 de outubro, ficando a Câmara Municipal como proprietária de todos os direitos do quadro, que passará a ser integrado no fundo artístico da autarquia, com vista à criação de um museu. A entrega do prémio está marcada para novembro.
A Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto3, em Amarante, tem por objeto a divulgação da obra de Eduardo Teixeira Pinto e promover a constituição do museu de fotografia e imagem Eduardo Teixeira Pinto, que albergará as obras que constituem o seu património e outras obras que venham a ser doadas, pretendendo também, promover atividades, eventos, projetos e programas culturais no domínio de todas as artes.
Esta associação está sediada na Casa da Granja, um espaço que remonta ao final do século XVII, que já pertenceu à família do pintor Amadeo de Souza-Cardoso, sendo depois propriedade do Município de Amarante, e, desde 2017, a gestão deste renovado espaço está a cargo da Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto, que além da sala museológica dedicada ao fotógrafo Eduardo Teixeira Pinto tem um espaço de exposições temporárias e ali tem implementado um crescente e diversificado trabalho de divulgação cultural.
Atualmente, esta associação, em parceria com a União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão e o Café Bar S. Gonçalo desenvolvem o 6.° Concurso de Fotografia Ilustre Amarantino 2021 António Cândido, referindo que o prazo de inscrição e receção das fotografias a concurso será brevemente prolongado, podendo ser consultado o respetivo regulamento.
Na sua programação de exposições temporárias para a Casa da Granja está prevista para este ano uma mostra fotográfica de Miguel Louro, a exposição da pintora Manuela Mendes da Silva, do fotógrafo Jorge Bacelar e da artista plástica bracarense Teresa Ricca.Sobre a Exposição de Fotografia «Retrospetiva 45 anos de carreira» de Miguel Louro4, que entretanto foi encerrada devido ao confinamento, registamos alguns elementos acerca do trabalho do fotógrafo. «(…) Com a sua companheira, a máquina fotográfica, recolheu momentos importantes, das viagens, dos acontecimentos, deu testemunho, documentou, ilustrou, perpetuou lugares (Braga, Bom Jesus do Monte, Tibães, Trás-os-Montes, Salto, Tebosa, Arcos de Valdevez, Vila Verde), satisfez possibilidades expressivas e criativas, interagiu com outros fotógrafos, sempre com a capacidade de manter viva a memória, pois a fotografia de Miguel Louro transcende o tempo e a história. Para além de outras posturas, sobressai na sua arte uma poética, significados implícitos, valores, uma pluralidade de sentidos latentes que não o amarram a correntes estéticas, mas revelam tendências que o resgatam da invisibilidade e o posicionam como figura de topo entre os seus pares.
A sua iconografia é um convite à introspeção, à construção de silêncios, imprevistos, inquietações, desafios, um mergulho na explosão dos sentidos, um cruzamento de emoções. Muita inspiração bebeu nas viagens pelos vários continentes e consequentes aventuras, aguçou mais os sentidos; muitos dos seus projetos nasceram de vivências, de sentimentos, agarrou-os com os olhos e leu-os com as mãos, como a viagem por Belém do Pará, Manaus e Amazonas, seguindo os passos e a obra do «pai dos pobres», Frei Caetano Brandão (…)»5. O catálogo pode ser aqui consultado.
No próximo dia 24 de abril, a Casa da Granja, em Amarante, abrirá novamente ao público, com a exposição de pintura de Manuela Mendes da Silva6. «A obra de Manuela Mendes da Silva parte de um estilo figurativo, evoluindo para uma proposta abstracionista em que perdura o gesto e o romantismo. Percebe-se que procura transpor sobre tela as transparências da aguarela.»
- 1. Citado no livro A Arte Portuguesa do Século XX, de Rui Mário Gonçalves, Círculo de Leitores, 1998, pgs.80-81.
- 2. Henrique Pousão (Vila Viçosa, 1859- 1884) viveu apenas 25 anos, no entanto, foi um dos artistas mais inovador da 1.ª geração naturalista, refletindo na sua obra influências de pintores impressionistas, como Camille Pissarro e Manet. No Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, e no Museu do Chiado, em Lisboa, poderão ser encontradas algumas das suas obras mais representativas.
- 3. Associação Para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto – Casa da Granja – Lugar de Granja – São Veríssimo, 4600-262 Amarante, Portugal. Horário: segunda-feira 14h – 17h; quinta-feira 14h – 17h.
- 4. Miguel Louro (n. Póvoa de Varzim, 1955) trabalha e reside em Tebosa, Braga, e dedica-se à fotografia desde 1975.
- 5. Excerto do texto de José Carlos Gonçalves Peixoto, no prefácio do Catálogo da exposição «40 Anos de Fotografia» de Miguel Louro.
- 6. Manuela Mendes da Silva nasceu no Porto, cidade onde reside e trabalha. Oriunda de uma família de artistas, Manuela é licenciada em Pintura pela Escola Superior de Artes da Universidade do Porto (atualmente Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto). Após a licenciatura, Manuela Mendes da Silva manteve-se ligada à vida académica enquanto docente, lecionando na mesma Universidade entre 1966 e 2009. Enquanto artista plástica, Manuela expôs dentro e fora de Portugal, incluindo Paris, Bruxelas, Dubai, Joanesburgo e Chicago. A sua obra está representada em diversas coleções, incluindo a coleção do National Archie of Moving Images e European Art Museum.
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