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Aumentou seis vezes o número de pessoas a passar fome extrema

As conclusão do relatório publicado pela Oxfam, organização não-governamental, são dramáticas. A falta de acesso a alimentação básica mata 11 pessoas a cada minuto, ultapassando o ritmo da Covid-19.

Manifestante empunha cartaz «Cidade rica com fome» durante um dia nacional de protesto promovido pelos colectivos dos bairros populares contra a falta de comida nas cantinas para pobres, em Buenos Aires, Argentina, a 24 de Julho de 2020.As organizações sociais denunciam a insegurança alimentar no país, após quatro meses de quarentena devido à pandemia da COVID-19
CréditosEPA/Juan Ignacio Roncoroni / LUSA

Estima-se que em todo o mundo 155 milhões de pessoas vivam em níveis alarmantes de carência alimentar, mais 20 milhões do que no ano passado. A organização estima que pelo menos um terço esteja directamente relacionada com situações de guerra.

Às enormes deficiências na distribuição da riqueza em todo o mundo, exacerbadas pela situação pandémica, são acrescentados outras três motivos para o agravar da fome, três C's: a Covid-19, o conflito armado e as alterações climáticas.

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Pandemia agravou situações de subnutrição no mundo

As conclusões, que constam de um relatório hoje divulgado, revelam que se está mais longe de alcançar as metas fixadas para a erradicação da fome até 2030.

CréditosYahya Arhab/EPA / Agência Lusa

O estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) alerta que difilmente se atingirá a erradicação da fome no mundo, até 2030.

Esta é uma das metas fixada pela ONU que, para além de erradicar a fome, se propôs a alcançar a segurança alimentar, a melhorar a nutrição e a promover a agricultura sustentável, no quadro dos «17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável», a conhecida Agenda 2030, que foram estabelecidos em 2015.

No documento da FAO e da OCDE aponta-se a crise associada à pandemia como um factor determinante para aumentar as dificuldades de atingir esta meta, uma vez que se agravaram as situações de subnutrição no mundo.

Mesmo num contexto em que o sector da agricultura e alimentação tenha conseguido resistir, «o efeito combinado das perdas de rendimento e da inflação dos preços dos alimentos para consumo tornou mais difícil para muitas pessoas o acesso a alimentos saudáveis», destaca-se no relatório.

Ainda assim, nas projeções do estudo, prevê-se que «a disponibilidade média global de alimentos por pessoa aumentará 4% nos próximos dez anos, atingindo pouco mais de 3025 kcal (quilocalorias)/dia em 2030». Mas especifica-se que este aumento irá reflectir-se principalmente em países de rendimento médio.

Já nos países de rendimento baixo, «o regime alimentar irá permanecer praticamente inalterado». Por exemplo, na África Subsariana, região onde 224,3 milhões de pessoas sofriam de subnutrição entre 2017 e 2019, «a disponibilidade de alimentos per capita (por cada habitante) deve aumentar apenas 2,5% na próxima década e fixar-se em 2500 kcal/dia em 2030», explica-se.

No que diz respeito ao consumo per capita de proteínas animais, as duas organizações antevêem que este irá registar «uma estabilização» nos países mais ricos, onde os consumidores vão substituir cada vez mais as carnes vermelhas por aves e lacticínios, principalmente devido a questões ambientais.

Cenário diferente nos países de rendimento médio, onde a procura de produtos dos sectores da pecuária e da pesca vai continuar a ser forte. «A disponibilidade de proteínas animais per capita vai aumentar 11%, reduzindo a diferença de consumo com os países de rendimento elevado em 4%, para 30 gramas/pessoa/dia em 2030», especificou o relatório.

Estima-se ainda que a produção agrícola mundial irá crescer anualmente 1,4% na próxima década, principalmente devido às economias emergentes e aos países de baixo rendimento.

E, Em relação aos preços dos produtos agrícolas e alimentares, que dispararam desde o segundo semestre de 2020, sobretudo por causa da forte procura a partir da China, as duas organizações esperam uma «correcção» para «os primeiros anos do período abrangido» pelo relatório (2021-2030).

Em Outubro de 2020, o Índice Global da Fome (IGF) apontava que, em mais de 50 países, os níveis da fome continuavam «graves» e «alarmantes», e que os progressos nesta matéria continuavam «demasiados lentos».


Com agência Lusa

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«A morte pela fome continua a ser usada como arma de guerra, limitando o acesso de civis a àgua, alimentação e ajuda humanitária. As pessoas não podem viver em segurança, ou encontrar comida, enquanto os seus mercados são bombardeados e as colheitas e rebanhos destruídos», acusou Gabriela Bucher, directora executiva da Oxfam.

O comunicado da organização aponta para o facto de que, «apesar da pandemia, os orçamentos militares globais aumentaram 51 mil milhões – o suficiente para cobrir seis vezes e meia o valor que as Nações Unidas (ONU) consideram ser suficiente para parar a fome em todo o mundo», tudo isto enquanto o «conflito e a violência levavam ao maior aumento de sempre de pessoas refugiadas, forçando 48 milhões a fugir das suas casas no final de 2020».

Bucher denuncia ainda a «profunda desigualdade no mundo. A riqueza das dez pessoas mais ricas no mundo aumentou em 413 mil milhões no último ano». Um número 11 vezes superior àquele que a ONU considera ser o necessário para suprir todas as necessidades dos programas de ajuda humanitária a nível global.

«Os governos precisam de se focar no financiamento urgente de ajuda contra a fome e de programas de protecção social, em vez de assinarem contratos de vendas de armas que perpetuam conflitos, guerras e fome», conclui o comunicado da Oxfam.

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