|Bolívia

Bolivianos repudiam ofensas à wiphala por autoridades de Santa Cruz

Entidades políticas, sociais e oficiais bolivianas prevêem realizar nos próximos dias acções de repúdio contra ofensas recentes no departamento de Santa Cruz à wiphala, bandeira indígena e símbolo nacional.

População de El Alto com a wiphala, a bandeira índigena, que, com Evo Morales no poder, se tornou co-oficial, em 2008
Créditos / pagina12.com.ar

Uma das acções destacadas terá lugar na sexta-feira, com jovens a reivindicarem o símbolo de origem indígena numa mobilização que representará entidades das 20 províncias do departamento de La Paz, na sequência das ofensas repetidas à wiphala em Santa Cruz, refere a Prensa Latina.

No passado dia 24, nas cerimónias do 211.º aniversário do Grito Libertário de Santa Cruz, o governador do departamento, o político de extrema-direita Luis Fernando Camacho, impediu que o vice-presidente boliviano, David Choquehuanca, proferisse o seu discurso.

De forma paralela, indica a Agencia Boliviana de Información (ABI), alguns dos apoiantes de Camacho retiraram do mastro, à força e entre empurrões, a wiphala (termo da língua aimara) que tinha sido içada por Choquehuanca. Além disso, agrediram e expulsaram do local um dirigente indígena.

O Movimento para o Socialismo já pediu ao Ministério Público que investigue as ofensas realizadas em Santa Cruz contra o símbolo nacional, sublinhando que estão em causa «direitos fundamentais», nomeadamente o de «liberdade de pluralismo ideológico» e o de «expressão».

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Governo boliviano realiza grande investimento no departamento de Santa Cruz

O presidente boliviano anunciou a retoma do investimento público num departamento governado pelo «agitador» de extrema-direita Fernando Camacho. O orçamento é 149% superior ao executado em 2020.

O presidente boliviano (à direita) cumprimenta uma senhora no município de La Guardia (departamento de Santa Cruz) 
Créditos / @LuchoXBolivia

Ao visitar o departamento de Santa Cruz, Luis Arce destacou, na quarta-feira, a reactivação do investimento público no departamento, sendo que o orçamento deste ano é superior em 149% ao executado durante 2020.

Para 2021, estão programados cerca de 5,1 mil milhões de bolivianos (mais de 640 milhões de euros), que têm como destino prioritário os sectores da produção e das infra-estruturas.

As autoridades do país andino-amazónico explicaram que, entre os projectos a executar, se encontram a construção e a ampliação de hospitais em sete municípios: Camiri, Puerto Suárez, San Ignacio de Velasco, San Julián, Warnes, La Guardia e El Torno.

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Bolívia vai concluir 1800 obras que foram interrompidas pelo golpe de Estado

O presidente boliviano anunciou esta segunda-feira que o seu governo vai concluir pelo menos 1800 obras promovidas pelo ex-presidente Evo Morales e que ficaram paradas após a intentona golpista de 2019.

Luis Arce na tribuna do comício realizado pelo Movimento para o Socialismo (MAS) para celebrar a vitória nas eleições de 18 de Outubro, em El Alto, La Paz, Bolívia, a 24 de Outubro de 2020
Créditos / Twitter/Luis Arce Catacora

«Estamos a concluir o que já estava a ser construído em todo o país, mais de 1800 projectos, e depois vamos começar novas obras», afirmou Luis Arce no acto de entrega da Unidade Educativa Tomás Katari, no município de Macha (departamento de Potosí).

«Quando assumi o cargo, deparei-me com um Estado endividado, mas temos estado a trabalhar durante todo este tempo e, agora, estamos a terminar todas as obras. Por isso, o nosso lema é "obra terminada, obra 100% paga também"», afirmou, citado pela Agência Boliviana de Informação (ABI).

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Morales regressou a Chimoré, denunciou o golpe e pediu apoio para Lucho

Cerca de um milhão de pessoas juntaram-se para receber Evo na pista de onde levantou voo, há um ano, com destino ao exílio, no México. Morales denunciou o golpe e lançou uma mensagem de unidade.

 Cerca de um milhão de pessoas deram as boas-vindas a Evo Morales, em Chimoré, local de onde partiu para o exílio há um ano; com ele, o seu ex-vice-presidente. Álvaro García Linera
Créditos / @evoespueblo

«Vem lá dura luta, temos de acompanhar e estimar o irmão Lucho [Luis Arce]», disse ontem Morales na maior das concentrações realizadas desde que regressou ao país, na segunda-feira.

Na pista do aeroporto de Chimoré, no Trópico de Cochabamba, estima-se que cerca de um milhão de pessoas, provenientes de todo o país, se juntaram para receber o ex-presidente da Bolívia. A data era simbólica, já que esta quarta-feira passava exactamente um ano desde que Morales se viu forçado a fugir para o exílio, na sequência do golpe de Estado.

Ao falar para a multidão, Evo Morales defendeu que a exploração dos recursos naturais e estratégicos é uma via legítima para recuperar a soberania e a dignidade dos povos contra a subjugação pelo imperialismo norte-americano, indica a TeleSur.

Morales afirmou que a direita não aceita que os índios tenha conseguido mudar a Bolívia, referindo que, apesar dos erros cometidos, o Movimento para o Socialismo (MAS) mostrou que governa melhor o país que os neoliberais, sem ter de seguir as habituais receitas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O desenvolvimento alcançado na Bolívia e a grande melhoria das condições de vida do povo boliviano com base na nacionalização dos recursos naturais, fora do modelo capitalista, é algo que o imperialismo, que os Estados Unidos não perdoaram, sublinhou o ex-presidente, que enumerou provas de que o golpe de 2019 teve motivações económicas, para atacar o modelo alternativo de desenvolvimento do país sul-americano e deitar mão aos seus recursos.

Ainda sobre o golpe de Estado de 2019, Evo Morales disse que «derrotámos a direita e vamos continuar a derrotá-la porque somos um povo unido, organizado, mobilizado, que mostrou que em pouco tempo se pode mudar a Bolívia».

«Em menos de um ano recuperámos a democracia, voltámos ao governo; isso é algo inédito, histórico, único no mundo», disse, acrescentando que a vitória de Luis Arce e do MAS nas eleições de 18 de Outubro veio confirmar que, há um ano, não houve qualquer fraude, como alegaram os golpistas.

Organizações sociais reconhecem «liderança social indiscutível de Morales»

Morales chegou à Bolívia na passada segunda-feira, atravessando a fronteira internacional entre a Argentina – país onde esteve exilado desde Dezembro do ano passado – e o seu país em La Quiaca. Em Villazón, já no lado boliviano, teve início uma caravana de três dias pelas estradas dos departamentos de Potosí, Oruro e Cochabamba, até chegar a Chimoré.


Na concentração gigante de ontem estiveram presentes o líder do Senado, Andrónico Rodríguez, Juan Carlos Huarachi, secretário-geral da Central Obrera Boliviana, o candidato presidencial equatoriano Andrés Arauz, entre outros representantes de delegações internacionais, sindicatos, organizações populares.

Estava previsto que o presidente da República, Luis Arce, estivesse presente, mas tal não foi possível. Morales disse que falou com ele duas vezes ao telefone, na madrugada e manhã de ontem, sobre a nomeação dos membros do novo governo, na sequência da vitória esmagadora do MAS nas eleições gerais.

Antes da intervenção de Morales, representantes de organizações sociais da Bolívia leram um manifesto em que reconhecem a liderança social indiscutível de Morales, a sua governação unitária e o seu êxito em fazer da Bolívia um país independente e digno, informa a Prensa Latina.

No documento, comprometem-se a defender as conquistas da revolução democrática e cultural a nível político, social, económico e cultural, procurando alcançar êxitos económicos, maior igualdade, independência nacional e identidade pluricultural.

Também pedem segurança para o ex-presidente boliviano, tendo em conta as ameaças de morte contra ele vertidas na Internet desde que regressou ao país.

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Acrescentou que o actual governo assumirá todos os compromissos realizados pelo executivo de Morales (2006-2019), uma vez que beneficiam as populações das cidades e das áreas rurais.

Na comitiva que acompanhou Arce integrava-se o ministro da Educação, Adrián Quelca, que destacou a importância da construção da infra-estrutura educativa, no âmbito da estratégia do governo boliviano que faz de 2021 «o ano da recuperação do direito à educação».

A estrutura terminada e entregue implicou um investimento de cerca de 700 mil dólares. Conta com 12 salas de aula, dois laboratórios, oficinas, sala de reuniões e um campo multifuncional, precisa a agência Prensa Latina.

Apelo à unidade contra a desestabilização

Ao participar na tradicional Festa do Tinku, no mesmo município, o presidente da Bolívia pediu ao povo que se mantenha unido face a certas tentativas de desestabilização da direita.

«Vivemos em paz e tranquilidade, queremos trabalhar, mas a direita não dorme», disse Arce, sublinhando: «Por isso, mais que nunca, unidade, irmãos, entre todos nós.»

O chefe de Estado, que participava numa festa que é património cultural da Bolívia, recordou o papel importante dos municípios do Norte de Potosí na recuperação da democracia e a sua luta contra o golpe de Estado de Novembro de 2019, informa a ABI.

«Mostraram-no várias vezes, mostraram-no no bloqueio de caminhos de Agosto do ano passado, quando, graças a essa mobilização, dissemos "não" ao "prorroguismo" do governo golpista [sobre a data das eleições] e conseguimos uma data definitiva [18 de Outubro]», destacou.

«Estamos a levar o país para a frente, temos o problema da pandemia de Covid-19, o da Educação e estamos a encarreirar a economia pouco a pouco», disse ainda o presidente acompanhado por autoridades locais.

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Segundo refere a Agencia Boliviana de Información (ABI), as autoridades acrescentaram que o governo de Arce tem novos projectos para o departamento de Santa Cruz, na região oriental da Bolívia, nas áreas energética, hidrocarborífera e agropecuária, entre outras.

Esta sexta-feira, o Ministério do Planeamento do Desenvolvimento confirmou a atribuição da verba orçamentada, tendo afirmado que, «no âmbito da reconstrução do aparelho produtivo, o orçamento vigente dá prioridade aos projectos de infra-estruturas, sem descuidar os projectos de carácter social, particularmente os relacionados com a saúde».

Entre os de maior envergadura, estão a criação de Fábrica Siderúrgica Básica, em Mutún, para o fabrico de aço laminados, a construção da estrada San José de Chiquitos – San Ignacio e a recuperação da que liga Santa Cruz a Trinidad. Outros projectos programados são a construção de redes de gás domiciliário em Santa Cruz e a construção de dois parques eólicos.

As autoridades governamentais explicaram que, ao analisarem os dados do investimento e do crescimento económico, verificaram que o investimento estatal é um dos principais factores para o crescimento económico no departamento de Santa Cruz, indica a ABI.

Luis Arce durante a visita ao município de Buena Vista / @LuchoXBolivia

A «marcha indígena de Camacho»

Para esta sexta-feira estava prevista a chegada a Santa Cruz da marcha indígena que a 25 de Agosto partiu do departamento de Beni (Nordeste), com a característica peculiar de não se conhecer as suas reivindicações.

Aquilo que a referida marcha tem conseguido pelo caminho é reunir acusações de que é manipulada pelo actual governador do departamento de Santa Cruz, ex-presidente do Comité Cívico Pro Santa Cruz e que nos tempos mais acesos do golpe de Estado e da resistência a ele era apelidado como «facho Camacho».

Representantes da Central Indígena Regional Amazónica, do Consejo Nacional de Ayllus y Markas del Qullasuyu, da Confederación de Pueblos Indígenas del Oriente, Chaco y Amazonía, da Central de Mujeres Indígenas del Beni, do movimento aymara Ponchos Rojos, entre outros, foram deixando claro que a marcha não tinha «legitimidade» para representar os indígenas, e que respondia aos interesses de políticos e grupos de direita para desestabilizar o país e a acção do governo de Arce.

Em declarações à Bolivia TV, o antigo ministro Hugo Siles afirmou que o mero facto de Camacho apoiar esta marcha e assumir um papel de interlocutor a deslegitima.

Sublinhou ainda que este alegado apoio da extrema-direita aos indígenas contrasta com a realidade, uma vez que, historicamente, os povos originários das terras baixas e altas do país foram marginalizados por essa área política.

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Por seu lado, a Federação Especial dos Trabalhadores Camponeses do Trópico de Cochabamba condenou o «ultraje» e exigiu ao Ministério Público que actue contra Camacho e seus correligionários, como o actual presidente do Comité Cívico pro Santa Cruz, Rómulo Calvo.

Membros do partido Creemos, liderado por Camacho, retirou esta terça-feira do seu local, mais uma vez, a wiphala, bandeira de sete cores, aos quadrados, que representa os povos indígenas e é um dos símbolos nacionais da Bolívia.

Os aliados de Camacho, um dos agitadores no golpe de Estado de 2019 contra Evo Morales, chamaram «vândalos e delinquentes» a quem colocou no edifício do governo departamental a bandeira indígena, cumprindo a Constituição Política do Estado.

«Não vamos permitir que faltem ao respeito a David Choquehuanca»

Ao discursar esta quarta-feira em El Alto, a presidente do município, Eva Copa, manifestou solidariedade com o vice-presidente boliviano, David Choquehuanca, sublinhando que foi o povo quem escolheu «quem nos governa» e não permitirá que «ninguém lhe falte ao respeito», sendo «uma autoridade democraticamente eleita».

Copa disse que já «basta de confronto», que «já não é tempo de divisão, é tempo de que falemos a linguagem da paz para todos», em alusão ao que se passou no aniversário da fundação de Santa Cruz, refere a ABI.

«A wiphala não é um partido político, a wiphala é do povo, a wiphala (é) dos 36 povos indígenas, originários e camponeses, (…) não confundam, não politizem este tema e as autoridades façam o que têm de fazer», frisou a autarca de El Alto.

Lembrou ainda que a wiphala não é um mero trapo e que, como outros símbolos, tem um estatuto nacional reconhecido pela Constituição, desde 2008.

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