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Acerca da natureza humana e sobre os grupos nómadas

«Saramago Mediterrâneo» em Odemira, «Os novos babilónios» no Porto, exposições na ZBD em Lisboa e «Lugares de Fratura» em São Miguel.

Exposição de artes plásticas «Saramago Mediterrâneo», no espaço CRIAR, em Odemira, até 16 de novembro
Créditos / Sete Sóis Sete Luas

A CACO – Associação de Artesãos do Concelho de Odemira foi criada em 2002 e tem como objetivos promover as artes e ofícios, contribuindo assim para a dignificação dos artesãos locais e das atividades artesanais. Odemira tem também um espaço de artes que se chama «CRIAR – Centro em Rede de Inovação do Artesanato Regional», que além de ser a sede da associação CACO possui também oficinas, uma loja e um espaço Polivalente/Expositivo – destinado a exposições temáticas nas diferentes áreas das artes. É precisamente no espaço CRIAR1 que se apresenta neste momento a exposição de artes plásticas «Saramago Mediterrâneo», até 16 de novembro, que assim homenageia o escritor José Saramago. Nesta exposição participam 41 artistas de vários países da rede «Sete Sóis Sete Luas» (Marrocos, Cabo Verde, Portugal, Itália, Espanha, França) que colaboraram com o festival.

Para a organização do festival, esta exposição «partiu do sentimento que liga o festival ao grande escritor português e é uma homenagem ao seu pensamento, às suas ideias, à sua poética. Foi pedido aos artistas (pintores, escultores, fotógrafos) dos vários países da rede cultural, que ao longo destes anos têm participado no projecto Sete Sóis Sete Luas, que criassem uma obra inspirada em Saramago e, de modo especial, no seu romance Ensaio sobre a Cegueira, que se tornou ainda mais actual com o aparecimento nas nossas vidas da emergência originada pela Covid-19».

Segundo a Câmara de Odemira, «Saramago Mediterrâneo» é uma exposição internacional itinerante dedicada a José Saramago e ao romance Ensaio Sobre a Cegueira. «…A cegueira de que fala Saramago é uma epidemia contagiosa, um beco sem saída, e nas entrelinhas é revelada uma análise bem lúcida acerca da natureza humana, que nos parece falar sobre nós próprios», frisa a organização do Sete Sóis Sete Luas.

Exposição «Os novos babilónios-Atravessar a fronteira», de Pedro G. Romero, na Galeria Municipal do Porto, até 21 de novembro
 
 
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Na Galeria Municipal do Porto2 decorre a exposição «Os novos babilónios-Atravessar a fronteira» de Pedro G. Romero3, até 21 de novembro, com a participação de cerca de 30 elementos de diferentes áreas artísticas do cinema, design, teatro e da performance, da arquitectura, da fotografia, da música e da investigação, entre muitas outras, destacando a presença de duas obras de José de Almada Negreiros e um guache de Sónia Delaunay, cedidas pela Gulbenkian.

O conceito «Novos babilónios» foi desenvolvido por Guy Debord no âmbito da Internacional Situacionista4, a partir do projecto New Babylon apresentado por Constant Nieuwenhuys5, Har Oudejans e Pinot Gallizio, sendo a partir dos conceitos de psicogeografia, deriva ou do urbanismo unitário que o artista e curador Pedro G. Romero propõe, para a Galeria Municipal do Porto, um exercício de questionamento da nossa perceção sobre grupos nómadas, etnias ciganas, flamencos, exilados políticos e libertários.

Segundo o texto do curador, Pedro G. Romero, a exposição «explora o campo sensível destas formas de vida, especialmente nos seus deslocamentos para o ultramar: para as Américas, mas também África e os vários arquipélagos atlânticos... No Porto ensaia-se, justamente, um primeiro capítulo de embarque, largada e exploração das produções culturais, materiais e maneiras de estar no mundo destes grupos humanos… ciganos inclui os povos rom e sinti, mas igualmente denominações como os mercheros, os quinquis ou moinantes e particularidades locais como Os Índios da Meia-Praia; flamencos é um grupo assimilável ao dos fadistas, que também inclui os "tangueiros" portugueses ou os cantores de ladrão repentista; finalmente, os exilados libertários incluem núcleos diversos anteriores à ditadura de Salazar, também o exílio que Portugal atravessou durante a Guerra Civil de Espanha e os numerosos grupos clandestinos que foram ao país vizinho depois da Revolução dos Cravos…»

A Galeria Zé dos Bois6, em Lisboa, tem agora na sua programação três exposições de artes visuais com a curadoria de Natxo Checa, «Febre» de Tiago Baptista, a instalação «Parlatório» de André Maranha e Tomás Maia e «Gyres» de Ellie Ga, que podem ser visitadas até 26 de novembro.

Obra de Tiago Baptista. Exposições de artes visuais na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, até 26 de novembro
 
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A exposição individual de Tiago Baptista7, fruto de cerca de um ano e meio de residência, deu origem ao conjunto de pinturas e desenhos apresentados em «Febre».

Na apresentação da exposição podemos ler que Tiago Baptista, ao evocar «várias referências com potencial pictórico — desde elementos gráficos da Banda Desenhada e da ilustração assumidamente mais figurativos, e outros tendencialmente abstractos, à história da pintura ocidental, passando discretamente pela imagética ligada à navegação na internet e nas plataformas digitais… convoca para estas pinturas, um conjunto de referências prosaicas, mas outras também assumidamente espirituais e reflexivas...».

Sobre o trabalho de Tomás Maia (Lisboa, 1967) e André Maranha (Figueira da Foz, 1966) refere-se que «… antes de tudo o silêncio, melhor, o silêncio coado por um escoamento de areia. Ouvimos antes de ver, mas, quando nos aproximamos, vemos um nicho aberto numa parede retirada de nenhures. E a queda, intermitente, de um véu de areia fina — o azul enfim coado pelo ‘iridescente éter da humanidade’ (é assim que Nietzsche descreve o diálogo). Ao contornarmos a parede, descobrimos todo o mecanismo da enorme ampulheta de madeira que constitui a peça Parlatório».

A artista americana Ellie Ga expõe individualmente pela primeira vez em Portugal, apresentando uma instalação vídeo onde «tece narrativas interconectadas com foco nos diversos objectos que chegam à costa. Definida pela cadência da sua própria voz, Ga faz deslizar fotografias transparentes numa mesa de luz, movimenta-as umas em direcção às outras, criando um ritmo que ecoa aos destroços, levados para a costa pelas ondas e arrastados para longe… Objectos que acabam longe das suas origens, recolhidos e postos em exposição pelos respigadores de praia».

Exposição «Lugares de Fratura», de Maria José Cavaco, no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, em São Miguel, até 28 de novembro
 
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O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas8 apresenta a exposição «Lugares de Fratura» de Maria José Cavaco9 até 28 de novembro. A mostra reúne uma vasta seleção dos trabalhos da artista realizados entre o ano 2000 e o presente. 

João Mourão, diretor do Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas e curador da exposição escreve: «A prática de Maria José Cavaco convida a uma constante relação do nosso corpo com o objeto artístico e, talvez por isso, a exposição seja apresentada também fora das salas principais do Arquipélago, dando aos visitantes a possibilidade de percorrer o edifício e descobrir, de uma forma não limitada por hierarquias ou cronologias, as obras e as possíveis relações que estas estabelecem entre si.» Neste percurso, o visitante poderá fazer uma leitura contínua do corpo de trabalho de Maria José Cavaco e ver peças provenientes de várias coleções públicas e privadas, que cruzam a pintura com diversos meios de expressão. A pintura sempre foi, para Cavaco, uma presença tangível e física no espaço. As suas pinturas ganham, não raras vezes, tridimensionalidade, saem da moldura e da parede. Tornam-se instalação. 


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. Espaço CRIAR – Travessa do Miradouro, n.º 1, Odemira. Horário: das 10h às 13h e das 14h às 17h.
  • 2. Galeria Municipal do Porto - Rua D. Manuel II (Jardins do Palácio de Cristal) 4050-346 Porto. Horário: terça a domingo 10h–18h
  • 3. Pedro G. Romero nasceu em Aracena, Espanha, em 1964. Opera como artista desde 1985 tendo, entre 1999 e 2019, trabalhado em dois grandes projetos, -Arquivo F.X. e Máquina PH. Participou em propostas integradas na UNIA - arteypensamiento e na PRPC (Plataforma de Reflexão de Políticas Culturais), em Sevilha. É artista residente na Real Academia de Espana, em Roma e foi artista participante na Documenta 14, em Atenas e Kassel, em 2017 e em novembro de 2021 apresenta o projeto Máquinas de trovar, no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madrid, um percurso singular sobre a sua prática enquanto artista.
  • 4. A internacional situacionista, surgiu através de um manifesto em 1960. Os situacionistas, eram contra a sociedade do espetáculo, denunciando os mecanismos de alienação, contra a arte conservada, contra a arte fragmentária, contra as pretensões modernas racionalistas de arquitetos e urbanistas, contra a arte do novo e do original e defendiam a participação total, o momento vivido diretamente, uma prática global coletiva, anónima e universal, de uma arte do diálogo, da interação entre os artistas e a sociedade, a coexistência de várias tendências, de várias experiências. Da Internacional Situacionista fizeram parte Guy Debord, Constant Nieuwenhuis, Raoul Vaneigem, Asger Jorn, Pinot Gallizio Gilles Ivain/Ivan Chtcheglov, Attila Kotanyi, Alexander Trocchi, Ralph Rumney e Michele Berstein, entre outros.
  • 5. Talvez influenciado pelo contato que Constant teve com um grupo de ciganos em Alba, no ano de 1958, onde constatou com a discriminação sofrida pelos ciganos nesta cidade.
  • 6. ZDB - Rua da Barroca n.º 59 1200-047 Lisboa. Horário: segunda a sábado das 18h às 22h
  • 7. Tiago Baptista (Leira, 1986) é um artista português, actualmente sediado em Lisboa. Ao longo da pintura e do desenho, o seu trabalho expande-se frequentemente embanda desenhada, instalação e publicações de artistas.
  • 8. Arquipélago – Rua Adolfo Coutinho de Medeiros s/n 9600 - 516 Ribeira Grande, São Miguel – Açores. Horário: terça a domingo, das 10h às 18h.
  • 9. Maria José Cavaco (Ponta Delgada, 1967). Vive e trabalha em Ponta Delgada. Licenciada em Artes Plásticas-Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa (1990) e doutorada em Arquitectura pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (2017). Desde 1991 realizou 19 exposições individuais, sendo as mais recentes, em 2019, no Convento de São Francisco, em Lagoa, Açores e, em 2018 na Fundação Portuguesa das Comunicações, Lisboa. Participou em diversas exposições coletivas, sobretudo em Portugal e Espanha.

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