A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) inscreveu, na quarta-feira, a arte musical tradicional síria conhecida como al-Qudud al-Halabiya, originária da província de Alepo, na lista do Património da Humanidade.
Sobre a decisão – tomada durante a 16.ª reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer em França –, a responsável síria pela pasta da Cultura, Lubana Mushawah, disse que se trata de um reconhecimento mundial à «nossa cultura herdada através das gerações».
Mesmo com a guerra, o bloqueio, as sanções e a pandemia, a Síria celebrou os Dias da Cultura, assinalando os 62 anos da criação do Ministério da Cultura com quase cem eventos em várias províncias. A iniciativa, que decorreu ao longo da semana passada com o lema «A minha cultura é minha identidade», incluiu um amplo leque de actividades, como exposições de artesanato, pintura, escultura, património histórico e musical, feiras do livro, espectáculos de música, canto, teatro e dança, além de condecorações a figuras que se destacaram pelos seus contributos no sector. Em declarações à imprensa, a ministra síria da Cultura, Lubana Mashwah, sublinhou que a celebração do 62.º aniversário da criação do Ministério que dirige pretende destacar a diversidade e riqueza cultural do país, que foi atingido por uma guerra feroz. Visa igualmente conservar elementos materiais e imateriais para as próximas gerações, e transmitir ao mundo uma mensagem do amor dos sírios pela arte e pela paz, disse ainda a ministra, que destacou o apoio dado pelo seu Ministério ao trabalho criativo, que gera uma atmosfera social e intelectual saudável, longe do fanatismo e do unilateralismo, informa o Syria Times. Uma das exposições importantes dos Dias da Cultura foi inaugurada no Museu Nacional de Damasco, onde foram expostas peças arqueológicas de diferentes épocas e que foram recuperadas depois de terem sido roubadas por grupos terroristas para serem contrabandeadas. O director-geral de Antiguidades e Museus, Nazir Awad, disse à imprensa que os objectos provinham de sítios arqueológicos tão importantes e conhecidos como Ugarit, Mary, al-Khwira e Tal Baidar, de onde terroristas e saqueadores de tesouros levaram centenas de milhares peças para o estrangeiro. Não obstante, referiu o funcionário, quase 35 mil peças antigas foram recuperadas e levadas para o Museu Nacional de Damasco e outros espalhados pelo país, que, no contexto da guerra, se mantiveram encerrados ao público e se dedicaram ao trabalho de conservação e catalogação, tendo reaberto em 2018. O apoio à cultura e o interesse por ela ficaram bem patentes, nestes Dias, nas várias actividades organizadas na Prisão Central de Damasco, onde os presos exibiram pinturas, peças de artesanato e trabalhos manuais. Além disso, procedeu-se à ampliação da biblioteca e os reclusos apresentaram espectáculos de teatro e canto sob o lema «Esperança na prisão de Damasco», informa um correspondente da Prensa Latina na Síria. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Dias da Cultura na Síria, «longe do fanatismo e do unilateralismo»
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Numa conferência de imprensa em Damasco, destacou o «feito» e a sua importância para «proteger e preservar o património nacional», lembrando que o país, depois de dez anos de guerra de agressão e de ter libertado do terrorismo a maior parte do seu território, «enfrenta um bloqueio económico e psicológico que visa destruir a identidade e a vontade da Síria, e minar a sua capacidade de resistir e dar», indica a agência SANA.
Por seu lado, Fares Kalas, membro da Secretaria Síria para o Desenvolvimento, disse que a guerra contra «a identidade síria nos levou a tomar medidas para a proteger, por via da compilação e documentação do património imaterial, do registo das perdas a que a sociedade e os sítios arqueológicos foram expostos».
Al-Qudud, a «bebedeira sem álcool» e a resistência
O al-Qudud al-Halabiya (de Halab – Alepo, em árabe) é um género musical característico da Síria, originário de Alepo, em que os versos se ajustam a uma determinada melodia.
Numa altura em que o Exército sírio libertou quase totalmente o território de Alepo sob domínio dos terroristas, o Ministério da Defesa russo sublinha as terríveis condições em que as populações ali viviam. Em resultado da grande ofensiva das últimas três semanas, o Exército sírio e seus aliados têm sob controlo mais de 99% do território de Alepo Oriental que estava em poder dos terroristas desde 2012, tendo libertado cerca de 100 mil residentes. Numa conferência de imprensa realizada esta terça-feira, o major-general Igor Konashenkov, do Ministério da Defesa russo, afirmou que «em Alepo Oriental não foi encontrada nenhuma "oposição", "conselhos locais" ou ONG (organizações não governamentais) defensoras dos "valores ocidentais", tão apreciadas por Londres e outras capitais, como os "capacetes brancos", "associações de médicos" ou "defensores dos direitos humanos"», informa a agência Sputnik. Konashenkov acrescentou que, de acordo com os testemunhos dos residentes libertados, «havia apenas a fome e o terror total, como castigo dos militantes por quaisquer tentativas de expressão de descontentamento ou de abandono do enclave». Os sapadores russos «não encontraram um único hospital ou escola que tivessem sido usados para os respectivos fins nas áreas controladas pelos militantes», disse, precisando que foram antes utilizados como tribunais islâmicos, depósitos de munições e fábricas de mísseis artesanais. Konashenkov sublinhou que a operação de libertação dos bairros de Alepo Oriental foi conduzida, pelas tropas sírias, «de forma humana, em todos os sentidos, no que diz respeito aos civis» e que mostrou «várias coisas importantes», nomeadamente que «não havia 250 mil civis encurralados» em Alepo Oriental, tal como diversos representantes ocidentais tentaram enfatizar. O representante russo refutou esse número, tendo precisado que os terroristas usaram «mais de 100 mil civis como escudos humanos». «Todos eles deixaram o enclave assim que puderam e entraram em áreas controladas pelo governo, por questões de segurança, de verdadeira ajuda e comida», disse. O norueguês Jan Egeland, conselheiro do enviado especial da ONU para a Síria, acusou ontem a Rússia e a Síria de serem responsáveis pelas atrocidades que, alegadamente, estavam a ser cometidas por membros de milícias aliadas, «vitoriosas», na libertação de Alepo, informa a HispanTV. Hoje, Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, acusou Egeland de não estar a par do que se passa no terreno e de «não possuir toda a informação sobre a situação» na grande cidade do Norte da Síria. «De outra forma, [o representante da ONU] prestaria atenção às atrocidades cometidas pelos grupos terroristas. O facto de não as mencionar evidencia, infelizmente, que não possui informação sobre o que é a realidade na Síria e em Alepo», disse Peskov à comunicação social. Ontem, ao fim do dia, muitos habitantes dos bairros ocidentais de Alepo vieram para as ruas festejar a libertação iminente da cidade, depois de fontes militares sírias terem anunciado que «estavam a poucos momentos de declarar a vitória». A PressTV e a HispanTV dão conta da grande emoção vivida pela população e pelos militares sírios, que disparam tiros para o ar, em sinal de alegria. Os bairros libertados pelo Exército sírio na segunda-feira, nas imediações da Cidade Velha, estão hoje a ser passados «a pente fino»; e os últimos terroristas apoiados pelas potências ocidentais e seus aliados regionais estão entrincheirados em três ou quatro bairros, revela a PressTV. Uma fonte militar síria não identificada disse que Alepo será «completamente» libertada hoje ou amanhã. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional
Batalha pela libertação de Alepo
Em Alepo Oriental «não havia activistas dos direitos humanos, oposição ou ONG»
Não eram 250 mil encurralados
Crítica ao desconhecimento da ONU
Festejos nas ruas de Alepo
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«As suas letras variam consoante o tipo de evento em que são interpretadas, tendo em conta que os cantores experimentados também podem improvisar letras próprias», afirma a Unesco numa nota sobre al-Qudud al-Halabiya.
«Os intérpretes – refere a Unesco – atingem o apogeu do seu talento prolongando extraordinariamente uma nota ou repetindo múltiplas vezes uma frase, de tal forma que o público entra num estado emocional semelhante ao êxtase, chamado tarab, que popularmente se descreve como "uma bebedeira sem álcool"».
«Este elemento do património cultural imaterial está profundamente arraigado na cultura dos alepinos e é um factor que contribui para a resistência da população no contexto da guerra», diz ainda a nota da Unesco.
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