Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), os preços subiram 2,8% entre Dezembro de 2020 e Dezembro de 2021, acelerando face aos meses anteriores. O aumento foi especialmente acentuado nos produtos energéticos (mais 11,2%) e nos produtos alimentares não transformados (mais 3,2%).
A agravar a situação, constata a CGTP-IN, através de comunicado, estão novas subidas que se farão sentir já este mês. Electricidade, gás, telecomunicações, transportes, portagens, alimentação e seguros são algumas das áreas geridas por grandes empresas privadas que têm aumentos anunciados para este ano.
«Esta dinâmica, captada em parte pelo índice de inflação, não pode ser desligada de outros factores que afectam o custo de vida, sendo os custos com a habitação um dos mais importantes», atenta a central sindical, lembrando a evolução dos preços da habitação própria, bem como das rendas de habitação dos novos contratos, que tiveram subidas homólogas de 9,9% e de 7,4%, respectivamente, no terceiro trimestre de 2021.
A ministra do Trabalho confirmou esta quinta-feira que o Governo vai compensar as empresas pela subida do salário mínimo nacional para 705 euros em 2022, mantendo-se um dos mais baixos da Europa. Foi após a reunião do Conselho de Ministros que Ana Mendes Godinho veio confirmar que o salário mínimo nacional (SMN) vai mesmo fixar-se nos 705 euros no próximo ano, «na sequência da auscultação dos parceiros sociais», ignorando as reivindicações que os trabalhadores largaram na Avenida da Liberdade, em Lisboa, no passado dia 20. Sem surpresas, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) afirma que o aumento para 705 euros proposto pelo Governo, aquém do que os trabalhadores reivindicam, deve ser revisto. Em entrevista à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, António Saraiva afirmou que não faz sentido manter a meta do Governo para o salário mínimo nacional (SMN), de chegar aos 750 euros apenas em 2023. «Sou contra qualquer aumento irracional», declarou o representante dos patrões, insistindo no gasto argumento de que um aumento do SMN «tem que atender à inflação, ao crescimento económico e aos ganhos de produtividade, factores perfeitamente mensuráveis». A história tem demonstrado que não existe uma correspondência directa entre os ganhos das empresas e os salários de quem cria a riqueza. Veja-se o exemplo da Jerónimo Martins, que em 2015 registou lucros de 333 milhões de euros, mas os quase 90 mil trabalhadores recebiam então um salário médio pouco acima dos 680 euros. O projecto de resolução do PCP propõe aumentar o salário mínimo nacional (SMN) de 665 para 850 euros. Em Abril de 2019, mais de 1 milhão e 200 mil trabalhadores auferia o SMN. Desde 2015 que o salário mínimo vem conhecendo aumentos sucessivos, fruto da luta dos trabalhadores, como observa o PCP no preâmbulo do diploma que será discutido esta tarde na Assembleia da República, mas ainda assim aquém do que seria necessário para baixar a taxa de risco da pobreza e do que objectivamente seria possível, não fosse a injustiça na distribuição da riqueza. Cerca de 56% da riqueza total do nosso país é detida por 1% da população, sendo que a fortuna que é acumulada pelos 50 mais ricos em Portugal equivale a 12% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de ser remuneração de referência para centenas de milhares de trabalhadores, foi ao longo dos anos objecto de uma profunda desvalorização por parte de sucessivos governos. Veja-se o exemplo dos últimos quatro anos de governação do PSD e do CDS-PP, em que o SMN esteve estagnado nos 485 euros. Desde então, foram-se realizados aumentos (ver caixa), embora insuficientes e aquém do necessário para acabar com a pobreza dos trabalhadores, com os patrões a reclamar contrapartidas. O argumento do peso das remunerações na estrutura de custos das empresas é facilmente desmentida, quando se percebe que apenas representa um peso de 18%, muito inferior a um conjunto de outros custos, designadamente com a energia, combustíveis, crédito ou seguros. «Convém, aliás, referir que este conjunto de custos estão sujeitos à estratégia de lucro máximo de um conjunto de empresas e sectores que, depois de privatizadas, passaram a penalizar fortemente a economia nacional», refere-se no diploma. De acordo com o último Inquérito à Situação Financeira das Famílias, em 2017, cerca de 70% da riqueza total é detida pelas famílias pertencentes ao grupo das 20% com maior riqueza, enquanto as famílias do grupo dos 20% com menor riqueza dispõem tão só de 0,1%. Também o último Inquérito Anual às Condições de Vida, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2019, dava conta de que cerca de 10% da população empregada era pobre e que 40,7% dos desempregados eram pobres, apontando esse mesmo documento para que cerca de dois milhões de pessoas se encontrassem em risco de pobreza (19,8%). Significa isto que o seu rendimento mensal não chega para satisfazer as despesas básicas familiares, com o valor do SMN a ser uma das principais causas de pobreza no nosso país. Actualmente, o salário mínimo em Portugal, conquista da Revolução de Abril, é de 665 euros e, tal como no ano passado, em que o valor do SMN era de 635, os comunistas recomendam ao Governo um aumento para os 850 euros, medida que integra também a política reivindicativa da CGTP-IN para 2022. Em Outubro de 2020, PS, PSD, CDS-PP e IL chumbaram um projecto de resolução pelo aumento do salário mínimo nacional para 850 euros. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O presidente da CIP advoga que «não há condições» para aumentar o salário mínimo para os 705 euros no próximo ano, conforme proposta do Governo, apoiado na «significativa perda de receitas e de empregos» do último ano e meio. Mas nem mesmo em períodos de maior fulgor económico os patrões se mostram disponíveis para proceder ao aumento dos salários. Para tal podemos recuar a 2019, com os patrões a recusarem uma subida do salário mínimo acima dos 600 euros. Com o aumento do SMN seria possível tirar muitos trabalhadores da pobreza e dinamizar a economia, uma vez que os seus salários vão estimular o consumo, a procura e o mercado interno, servindo também para alavancar o aumento dos salários médios. Por outro lado, é também condição de reforço da Segurança Social, assegurando melhor protecção social e pensões de reforma mais altas. Esta sexta-feira, o Parlamento chumbou o aumento do salário mínimo para 850 euros, com o voto contra de PS, PSD, CDS-PP, CH e IL. O valor está em sintonia com a proposta reivindicativa da CGTP-IN para 2022. A UGT reivindica um aumento do SMN para 715 euros. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Ao mesmo tempo, e como já tinha avançado o ministro da Economia, o Executivo de António Costa compromete-se a compensar as empresas em 112 euros por cada trabalhador que passe dos actuais 665 para 705 euros, valor que praticamente cobre o acréscimo da taxa social única (TSU), alimentando o argumento de que a subida dos baixos salários trava a competitividade. O pagamento às empresas por uma medida que só as beneficia – uma vez que é pelo aumento do poder de compra que se consegue dinamizar o mercado interno – vai custar ao erário público cerca de 100 milhões de euros. Por outro lado, equivale a uma espécie de prémio a quem pratica baixos salários, ao mesmo tempo que tenta fazer ignorar que o aumento destes é um direito dos trabalhadores. Na sua intervenção, a ministra do Trabalho voltou a recorrer à ideia do «maior aumento absoluto de sempre» do SMN de forma a valorizar a remuneração de 705 euros, apesar do valor não ser suficiente para tirar muitos trabalhadores da pobreza, ficando aquém dos 850 euros a curto prazo que a CGTP-IN reivindicava e mantendo-se um dos mais baixos da União Europeia. A atribuição de uma compensação às empresas pelo aumento do salário mínimo é uma prática iniciada pelo governo do PSD e do CDS-PP em 2014, que o Governo do PS retomou em 2016, apelidando-a de medida de apoio ao emprego. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Governo premeia baixos salários
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Patrões contra «aumento irracional» do salário mínimo
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Aumento do salário mínimo volta ao Parlamento esta quinta-feira
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A CGTP-IN regista que o crescente desfasamento entre a evolução dos rendimentos, particularmente dos salários e das pensões, e o aumento do custo de vida tem reflexos no aumento da pobreza e exclusão social no nosso país.
No espaço de um ano, a pobreza afectou mais 230 mil pessoas e a população pobre ou em exclusão social ultrapassava os 2,3 milhões no final de 2020. Entretanto, a pobreza aumentou também entre quem trabalha, «contrariando o discurso oficial e confirmando um enorme impacto, bem superior ao propalado pelo Governo», lê-se na nota.
A central sindical entende que a degradação das condições de vida para a generalidade da população «não pode ser desligada» do impacto do aumento dos preços no poder de compra dos salários e de outros rendimentos, que se têm mantido estagnados. Neste sentido, reivindica a urgência do aumento geral dos salários de todos os trabalhadores, incluindo um maior aumento do salário mínimo nacional, e também das pensões, a par do combate à precariedade e de um aumento da protecção no desemprego e de outras prestações sociais.
Aproveitando a oportunidade das eleições legislativas de 30 de Janeiro, a CGTP-IN apela a que o voto dos trabalhadores exija uma alteração das opções e das políticas que instituíram o modelo de baixos salários no nosso país. «Com o seu voto, os trabalhadores têm o poder de eleger deputados que garantam essa resposta e que, com a sua acção e intervenção dêem expressão à luta desenvolvida nas empresas e locais de trabalho pela elevação das condições de trabalho e de vida», sublinha.
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