Nos dois anos da crise sanitária, o sector financeiro «manteve a alta dos juros e tarifas, aumentou as metas dos trabalhadores, fechou balanços com altos percentuais de lucros», refere a Central Única dos Trabalhadores (CUT), sublinhando que, mesmo mais ricos, os banqueiros destruíram cerca de 12 mil postos de trabalho e encerraram mais de 3100 agências em todo o Brasil.
Só os quatro principais bancos do país (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) registaram mais de 16 mil milhões de euros de lucro líquido em 2021 – um aumento de 34,7% em relação ao mesmo período do ano anterior –, acumulando em dois anos de pandemia mais de 28,3 mil milhões de euros de lucro.
Se a isso se juntar o lucro de 3,1 mil milhões de euros, divulgado em Fevereiro, da Caixa Econômica Federal (CEF) – crescimento de 31,1% em comparação com 2020 –, os lucros destes cinco bancos ascendem a 174,9 mil milhões de reais ou 31,4 mil milhões de euros, refere a CUT numa nota.
Ivone Silva, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, filiado na CUT, considera que a economia brasileira atravessa um momento grave, com forte retracção da actividade económica, aumento do desemprego e quebra no rendimento das famílias, e defende que os bancos deviam desempenhar um papel importante na retoma do crescimento.
«Os bancos são uma concessão pública e têm um papel social importante no crescimento de um país. É importante que as instituições financeiras, responsáveis por cuidar do dinheiro da população, sejam um instrumento para o desenvolvimento económico e não para fragilizar ainda mais a economia», disse.
Aumento das taxas de juros e despedimentos
«De olho nos lucros, elevaram seus juros e tarifas. Para pessoa física a taxa de juros está em 28,66% ao ano, chegando a 349,62% na linha de crédito mais cara, que é o cartão de crédito rotativo», refere o Sindicato dos Bancários, destacando o elevado endividamento das famílias, que alcançou 50,41% de todos os seus rendimentos.
O país sul-americano tem 38 milhões de trabalhadores informais e 7,7 milhões de subempregados, segundo revelou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desocupação do trimestre Agosto-Outubro caiu 2,5 pontos percentuais em relação ao mesmo período no ano passado. Assim, segundo os dados do IBGE, o desemprego atingiu o índice de 12,1%. A situação afecta 12,9 milhões de pessoas. Entretanto, o trabalho informal representa 40,7% da população ocupada, um agravamento de 2,4 pontos percentuais em relação ao trimestre Agosto-Outubro de 2020. Isto representa 38,2 milhões de pessoas a desempenhar funções sem direitos e sem qualquer tipo de protecção, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua), divulgada esta terça-feira. Além disso, informa a Rede Brasil Atual, a subtil «recuperação» no índice de emprego não representou uma melhoria no rendimento do trabalho. De acordo com a Pnad Contínua, o rendimento real habitual caiu 11,1% num ano. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados, que era de 2756 reais (434 euros) em Outubro de 2020, ficou em 2449 reais (386 euros), o pior nível desde 2012. Entre os trabalhadores com contrato assinado, a redução no ganho mensal foi de 8% e entre os informais foi de 11,9%. Em todas as restantes formas de ocupação consideradas pelo IBGE os rendimentos também caíram: trabalhador doméstico (-5,1%), do sector público (-10,6%), empregador (-15%) e trabalhadores por conta própria (-4%). Na comparação anual, também não houve crescimento no rendimento de nenhum sector de actividade verificado pelo IBGE. Os empregos com Carteira de Trabalho e Previdência Social continuam a crescer muito menos do que os que não a têm. Em Outubro, afirma o IBGE, enquanto o primeiro grupo aumentou 8,1% num ano, o segundo cresceu 19,8%. Este cenário acaba por se reflectir, além da queda no rendimento do trabalho, na qualidade dos empregos. O Brasil tem ainda 7,7 milhões de pessoas a trabalhar menos horas do que precisariam, os chamados subempregados. Verificou-se um aumento de 17,7% de trabalhadores nessa situação num ano, uma vez que, em Outubro de 2020, eram 6,5 milhões, revela a Rede Brasil Atual. No total, há 29,9 milhões de trabalhadores subutilizados – de acordo com o IBGE, subutilizados são pessoas desempregadas, que trabalham menos do que poderiam, que não procuraram emprego mas estavam disponíveis para trabalhar ou que procuraram emprego mas não estavam disponíveis para a vaga. Apesar da redução de 3,2 milhões de pessoas em relação ao ano anterior, o número ainda é «alarmante». O mesmo organismo revela que os desencorajados – os «inactivos disponíveis» que não estão à procura de emprego por falta de condições – são 5,1 milhões de pessoas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Desemprego atinge 12,9 milhões e informalidade cresce no Brasil
Maus empregos
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Num ano, a percentagem de famílias com dívidas em atraso cresceu dez pontos. O cartão de crédito é o principal «vilão» do endividamento dos brasileiros, segundo indica a entidade, uma vez que 87,1% das dívidas se referem a esta modalidade.
Os lucros milionários dos bancos também se ficaram a dever, segundo a estrutura sindical, à exploração e ao despedimento de trabalhadores. «Em dois anos, o Bradesco foi o campeão em redução de postos de trabalho. Desde 2020, extinguiu 10 055 vagas, no período, apesar dos 26 mil milhões de reais de lucro somente em 2021», afirma o sindicato.
Neste contexto, os trabalhadores denunciam sobrecarga de trabalho, aumento da exploração e pior atendimento ao cliente.
Ivone Silva ressalta que o actual cenário – desemprego elevado, inflação, endividamento, quebra do rendimento dos trabalhadores – é «assustador» para a população e denuncia o papel dos bancos. «O comprometimento dos bancos com responsabilidade social no país só é verdadeiro nas campanhas publicitárias», critica.
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