Em entrevista ao site oposicionista russo Meduza, sediado na Letónia, Ilya Ponomarev, ex-deputado da Duma que vive em Kiev sob protecção dos serviços de segurança ucranianos (SBU), anunciou em 21 de Agosto que o assassinato da filha do filósofo Alexander Dugin, Daria Dugin, foi realizado pela até então desconhecida organização armada Exército Nacional Republicano. Ponomarev confirmou a participação no atentado da mulher que é acusada pelos serviços de segurança russos (FSB), mas garante que não foi ela que detonou à distância a bomba.
Ninguém conhecia a alegada organização do Exército Nacional Republicano antes de Ponomarev ter reivindicado, numas declarações ao diário britânico Guardian, o atentado para essa alegada organização armada russa de oposicionistas ao governo de Putin.
Ilya Ponomarev – sobrinho do antigo dirigente do PCUS Boris Ponomarev (durante muitos anos responsável pelas relações internacionais do partido do governo soviético) – tem uma carreira estranha e movimentada.
Ilya Vladimirovich Ponomarev, nascido a 6 de Agosto de 1975, é um político russo, ex-membro da Duma e empresário de tecnologia. É o autor do livro Does Putin Have to Die?
Ponomarev, que agora é completamente pró-ucraniano, foi criticado no passado por ser um apparatchik (membro do aparelho e aparentado com a elite no poder) até pelo menos 2014. O seu pai trabalhou no governo russo nos primeiros anos de Putin, a sua mãe representou a região de Chukotka no Conselho da Federação Russa, o próprio ex-deputado era próximo de Vladislav Surkov (primeiro chefe-adjunto da administração presidencial russa, de 1999 a 2011, período durante o qual foi frequentemente visto como o principal ideólogo do Kremlin que criou o conceito de democracia soberana para a Rússia). Ponomarev votou na Duma do Estado, uma lei repressiva que controla a Internet.
Ponomarev é licenciado em Física pela Universidade Estatal de Moscovo e tem o mestrado em Administração Pública pela Universidade Social Estatal Russa. Iniciou a sua carreira no Instituto de Segurança Nuclear (IBRAE), Academia de Ciências Russa.
Foi um dos fundadores de duas empresas de alta tecnologia bem sucedidas na Rússia, a primeira (RussProfi) quando tinha dezasseis anos de idade. O seu primeiro emprego foi no Instituto de Segurança Nuclear (IBRAE), na Academia de Ciências Russa. Em 1995 e 1996, Ponomarev actuou como representante da empresa de software de rede Banyan Systems na Rússia, criando uma das maiores redes distribuídas na Rússia para a agora extinta companhia petrolífera Yukos. Depois de ter trabalhado na Schlumberger e Yukos no final dos anos 90, tornou-se um empresário tecnológico de sucesso.
De 2002 a 2007, Ponomarev foi membro do Partido Comunista da Federação Russa, tendo chegado a ser responsável da informação do principal partido da oposição neste país. De 2007 a 2013 foi membro do partido político social-democrata Russia Justa, tendo integrado o seu Comité Central. Na Primavera de 2014, participou na formação de uma aliança entre os verdes e os sociais-democratas.
Posteriormente, foi o único deputado da Duma a votar contra a anexação da Crimeia pela Rússia, na sequência do golpe de Estado de 2014 em Kiev e dos confrontos que se seguiram entre o novo poder ucraniano e as populações de língua russa.
A partir de 2016 Ponomarev, passa a viver na capital da Ucrânia, Kiev. Foi-lhe atribuída a nacionalidade ucraniana, e a protecção dos serviços de segurança ucranianos (SBU). Depois da invasão russa, em Fevereiro deste ano, alistou-se nas unidades de defesa ucranianas.
A guerra só acaba «com a eliminação física de Putin»
Na entrevista à Medusa, Ponomariev confessa ter ajudado Natalya Vovk, acusada de assassinar a jornalista Daria Dugina, a fugir da Rússia para a Estónia. O empresário garante que essa pessoa, acusada de autoria do atentado pelo FSB, esteve envolvida na acção, embora não tenha sido responsável directa pelo accionar da bomba. «Eu não disse que ela não estava envolvida no atentado em si. Eu disse que ela não foi a pessoa que carregou no botão. Digo isto a partir das palavras de pessoas [do Exército Republicano Nacional], com as quais estou em contacto. Esta não é a pessoa que levou a cabo o ataque, mas esta é uma pessoa que merece protecção.» Na entrevista, Ponomariev explicou que os autores do atentado pediram-lhe para proteger Natalya, tendo ajudado a que fugisse da Rússia.
O antigo deputado, que vive sob a protecção dos serviços de segurança ucranianos, afirmou ter tido conhecimento prévio que o Exército Nacional Republicano ia fazer um atentado mortal e que foi avisado no próprio dia que alguma coisa ia acontecer: «disseram-me, "veja as notícias de hoje, vai acontecer hoje"».
Ponomarev justifica o assassinato de Daria, dizendo que existe uma guerra e que «é preciso ser cínico», «a nossa tarefa é apoiar quaisquer acções que levem à divisão das elites», garante à entrevistadora que vai voltar para a Rússia e que estará em Moscovo muito antes dela: «Os primeiros a chegar serão aqueles que têm armas na mão».
Para o opositor de Putin, que combate nas unidades de defesa ucraniana, a guerra só pode acabar «com a eliminação física de Putin».
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