|OE2023

Três mil milhões vão, afinal, continuar a beneficiar as energéticas

As novas medidas anunciadas pelo Governo para alegadamente conter o aumento da factura da electricidade e do gás são, sobretudo, dirigidas aos consumidores comerciais, deixando de fora os domésticos. 

CréditosInácio Rosa / Agência Lusa

O Executivo inscreveu na proposta do Orçamento do Estado para 2023 a intenção de introduzir três mil milhões de euros nos mercados de electricidade e de gás natural, detalhada esta quarta-feira pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro. Segundo o governante, a intervenção é dirigida fundamentalmente aos consumidores empresariais. Numa altura em que a especulação promovida pelas energéticas asfixia famílias e pequenas e médias empresas, o Governo de António Costa continua a fugir às soluções capazes de a travar e a proteger os lucros de empresas como a EDP, a Endesa ou a Galp

No pacote do Governo, e apesar de admitir, como ontem disse o ministro Duarte Cordeiro, que «foi a partir da energia que se iniciaram os impactos na inflação», não se incluem medidas de controlo de margens e fixação de preços de forma a impedir a especulação que tem ditado o brutal aumento dos preços. 

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Lucros e dividendos em alta em tempos de pandemia

A pandemia não travou os lucros da EDP, que aumentaram em 56% em 2020. A empresa vai distribuir aos accionistas 755 milhões de euros, um novo máximo em dividendos.

Logotipo da EDP (foto de arquivo)
CréditosAntónio Cotrim / LUSA

Durante o ano de 2020, marcado pela pandemia do novo coronavírus, a Energias de Portugal (EDP) teve um lucro de 801 milhões de euros, que representou um crescimento de 56% relativamente ao exercício anterior, anunciou a empresa em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), reportado pela Lusa.

O Conselho de Administração Executivo vai propor à assembleia-geral de accionistas a distribuição de um dividendo de 19 cêntimos por acção, igual ao que vem atribuindo de 2019. No entanto, o Jornal de Negócios faz notar que, em virtude do aumento de capital realizado no ano passado, o valor de dividendos a distribuir aos accionistas será por isso de 755 milhões de euros e consome 94% dos lucros do exercício.

A distribuição o ano passado, no mês de Abril, de dividendos no valor de 695 milhões de euros, representando 134% dos lucros obtidos pela EDP, ao mesmo tempo que a empresa mantinha congeladas as negociações com os sindicatos de uma nova tabela salarial, deu origem a uma forte pressão dos trabalhadores e influiu no estabelecimento de um acordo no mês seguinte.


Este ano, depois de uma reunião realizada no passado dia 17 de Fevereiro entre representantes dos trabalhadores e a administração da empresa, esta, segundo a Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas e Eléctricas (Fiequimetal/CGTP-IN), voltou a não dar quaisquer «sinais de querer valorizar os salários e os trabalhadores», apesar de serem estes a garantir o «funcionamento normal das empresas» do grupo, «ainda por cima no contexto da Covid-19».

A federação sindical apela à participação de todos os trabalhadores nas reuniões e plenários que estão a ser marcados, tendo como objectivo «discutir as medidas a tomar para contestar e rejeitar» a «postura inaceitável» da administração.

Também os trabalhadores que prestam serviço à EDP nos centros de contacto de Elvas, Lisboa e Seia estão em luta: esta terça-feira fizeram greve contra a precariedade a que estão sujeitos e por melhores condições de trabalho (ver caixa).

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O Executivo canaliza dois mil milhões de euros para o mercado de electricidade e mil milhões de euros no mercado de gás natural, dirigidos «aos grandes consumidores», ainda em 2022, dos quais 1500 milhões de euros com origem directa no Orçamento do Estado, o que na prática significa que serão os recursos públicos a financiar os lucros milionários dos privados, como se viu no primeiro semestre do ano.

A possibilidade de transitarem para o mercado regulado é a resposta do Governo para os consumidores domésticos, que daqui a poucos dias ficarão a conhecer os tarifários para 2023, mas apenas na electricidade. No gás engarrafado, a fixação do preço máximo introduzida em Agosto, e que representa apenas uma poupança de cerca de três euros por botija (de 13 quilos), estará em vigor até ao fim deste mês, sob protesto dos revendedores. 

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