Quase duas décadas depois do início das negociações, os países-membro das Nações Unidas chegaram finalmente a um acordo, no passado sábado, com vista à preservação da biodiversidade marinha. O Partido Ecologista Os Verdes (PEV) saúda o novo tratado, mas reivindica um compromisso firme do Governo para travar a mineração em mar profundo.
«Este acordo acontece num momento-chave, considerando a necessidade de regulação e protecção ambiental face à enorme pressão que recai sobre o mar dos Açores no que respeita a mineração do mar profundo», tanto mais que, acrescenta num comunicado, o denominado «Cluster do Mar dos Açores», inscrito no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), alocará 32 milhões de euros no âmbito da investigação das ciências do mar e sua articulação com o sector económico.
Os ecologistas alertam que os investimentos previstos no PRR para os Açores, designadamente na investigação de biomateriais e recursos minerais, abrem portas «à futura e emergente exploração do mar profundo, sem se perspectivar e aprofundar um maior conhecimento científico sobre os seus impactos, em particular sobre os níveis de toxicidade e consequências sobre a cadeia trófica marinha».
Apesar de o acordo conseguido pela ONU para a protecção da biodiversidade marinha em águas internacionais incorporar aspectos positivos, a sua eficácia, alertam Os Verdes, «dependerá da forma como estes princípios forem aplicados, designadamente a partir das actividades que serão permitidas, por quem e em que condições, e de que forma será garantida a avaliação de impactes ambientais, envolvendo que actividades em concreto». Neste sentido, realçam ser necessária coragem política «para confrontar os grandes interesses económicos» e determinação para parar com projectos que ameaçam as áreas protegidas ou classificadas, a nível mundial e nacional.
Considerado «histórico» pelo Governo, o acordo sobre preservação e restauro da biodiversidade, alcançado na conferência das Nações Unidas, tem ainda uma «longa marcha» pela frente, alertam Os Verdes. Depois do receio manifestado, de que a Conferência das Partes da Convenção da Biodiversidade (COP15) pudesse ficar «muito aquém» do necessário, devido a interesses económicos, Os Verdes consideram que foi dado um «passo positivo», mas recusam juntar-se aos «foguetes lançados» pela presidente da Comissão Europeia e pelo secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas. Os ecologistas ressalvam num comunicado que a posição agora assumida relativamente ao acordo sobre preservação e restauro da biodiversidade alcançado na COP15, que terminou no passado dia 19 em Montreal (Canadá), não se deve a «qualquer cepticismo ecologista crónico e abstracto», mas antes da ponderação de «factos concretos». O Quadro Global da Biodiversidade (QGB) aprovado na segunda-feira apresenta metas para 2030 e 2050, designadamente a protecção de 30% do planeta, em terra e no mar, e o restauro de 30% de áreas degradadas em termos de biodiversidade. Os ecologistas admitem que o foco no alargamento das áreas protegidas até 30% da superfície do planeta «é positivo», mas entendem que o documento «fica muito aquém da aprovação de medidas concretas, necessárias e urgentes que permitam a articulação da preservação das áreas classificadas com toda a superfície do planeta», e que esta é uma questão «crucial» para preservar a biodiversidade e repor o equilíbrio ecológico. Segundo Os Verdes, o documento global «ficou muito fragilizado com a rejeição de documentos que visavam este objectivo, nomeadamente no que se relaciona com as medidas sobre o uso dos agrotóxicos ou do impacto das alterações climáticas sobre a biodiversidade», admitindo que «não faltarão os obstáculos para impedir a sua plena concretização até 2030». «O mais fácil é estabelecer metas, mas a história tem demonstrado que a vontade política para a sua concretização é nula, o que ficou plenamente provado pelo não cumprimento das metas e objectivos do acordo anterior», denunciam os ecologistas. Às críticas soma-se o facto de a parte dos meios mobilizados (30%), destinada aos países mais vulneráveis, ser «francamente parca», já que, lê-se na nota, «estes países são não só um "banco" de biodiversidade, mas também dos mais atingidos pelos efeitos da sua perda», não sendo também um «bom pronúncio» o facto de esta verba passar pelo Banco Mundial. Quanto à preservação e recuperação da biodiversidade em Portugal, Os Verdes defendem que a expansão de áreas protegidas «não é de todo suficiente» para atingir esse objectivo, ao contrário do entendimento manifestado pelo secretário de Estado João Paulo Catarino relativamente à aplicação deste acordo, que apelidou de «histórico». «O que é preciso é ter determinação para parar com os projectos que ameçam as áreas protegidas ou classificadas actualmente existentes e as suas zonas limítrofes e envolventes, como é o caso da exploração de lítio em Montalegre e em terras do Barroso, ou a permissão de aumentar a área de eucaliptos na Serra de São Mamede, através da revisão dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF), e reforçar os meios de intervenção no terreno para fiscalização e defesa do património natural», salientam os ecologistas. Em sentido contrário , defendem, vai também a «amputação» do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas CNF, «que o Governo está agora a impôr», transferindo competências para as CCDR e «destruindo uma necessária visão estratégica nacional sobre a conservação da natureza e a sua capacidade efetiva de acção no território». As monoculturas florestais e agrícolas e a poluição das águas, «que tem levado à propagação das exóticas invasoras (jacintos de água e outras)», são outras das práticas a que o PEV quer pôr fim, salientando que «é preciso coragem política» para confrontar os grandes interesses económicos, e que essa não parece ser a vontade da União Europeia e de Ursula Von Der Leyen, nem do Governo português. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
COP15 dá «passo positivo», mas PEV espera para ver
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Do Governo português, que na 2.ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, realizada em Junho de 2022 na cidade de Lisboa, declarou o seu compromisso de, até 2030, classificar 30% das áreas marinhas nacionais, Os Verdes reclamam «a persecução de tais objectivos, indo mais além no necessário investimento em recursos humanos e materiais para a protecção do nosso mar.
Por outro lado, alertam que as ameaças à biodiversidade marinha não dependem apenas das actividades realizadas em mar, sendo também transportadas de terra para o mar, bem como para a necessidade de «agir em várias frentes». «A proliferação do plástico (matéria à qual o PEV tem dado uma relevância muito significativa) e o seu lançamento em espaço aberto, é um exemplo disso mesmo, ao ponto de os nossos mares estarem pejados deste material, com impacto muito negativo na fauna marinha», lê-se na nota.
O acordo das Nações Unidas alcançado este domingo prevê o alargamento, de 1,2% para 30%, das áreas protegidas marinhas até 2030. «Esse facto é positivo, na medida em que cria condições para o estabelecimento de um conjunto de regras de utilização sustentável dessas áreas marinhas», realçam Os Verdes.
Quanto à avaliação de impacte ambiental de actividades comerciais que tenham repercussões directas sobre a vida nos oceanos, prevista no tratado, salientam que «há muito» fazia falta uma «alteração do paradigma da forma como se olham os oceanos, fomentando a ideia de que o alto mar não pode ser o espaço onde tudo é possível porque nele tudo se dilui».
Na convenção da biodiversidade (COP15), realizada no passado mês de Dezembro, foi alcançado o compromisso de proteger um terço da biodiversidade, em terra e no mar, até 2030. Os Verdes, saudando o compromisso alcançado, reafirmavam então a importância de se reforçarem meios humanos e infra-estruturas de monitorização, bem como a vigilância e a fiscalização nas áreas protegidas e a proteger.
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