Uma parede de mármore negro perpetua os nomes dos 504 civis – mulheres, crianças, velhos e pessoas de meia idade – chacinados durante três a quatro horas por um pelotão de soldados sob o comando do tenente William Calley, que ainda queimaram 247 casas e os arrozais circundantes, e mataram milhares de reses e aves de criação.
Mais tarde, o repórter de investigação Seymour Hersh revelou que «muitos foram foram isolados em pequenos grupos e abatidos. Outros foram atirados para as valas ou fossos e baleados, e muitos foram mortos ao acaso, perto de suas casas. Algumas das mulheres mais jovens e raparigas foram violadas».
De acordo com diversas fontes, a missão do pelotão comandado por Calley era atacar a Frente Nacional de Libertação do Vietname, tendo recebido ordens de «disparar contra tudo o que mexesse», indica a Prensa Latina.
Representantes do Departamento da Cultura, Desporto e Turismo da província vietnamita de Quang Ngai reuniram-se, esta quarta-feira, com Ronald L. Haeberle, que fotografou o massacre de há 55 anos. No encontro, Haeberle, que este ano completa 83 anos, concordou com a exibição das suas fotos no Memorial de Son My, localizado no Centro do Vietname. Segundo revela a Vietnam News Agency, ambas as partes debateram as legendas a colocar nas fotos que serão exibidas no local, tendo chegado a um acordo. Para além disso, na ocasião, responsáveis políticos da província de Quang Ngai ofereceram um presente e uma carta de agradecimento a Haeberle, na qual reconhecem os seus contributos para a paz e contra a guerra, por via das fotografias que tirou. Na terça-feira, revela a agência vietnamita, o fotógrafo norte-americano e amigos do país asiático regressaram a Son My, na comuna de Tịnh Khe (província de Quang Ngai), onde ele tirou 60 fotografias do assassinato em massa perpetrado pelas tropas dos EUA há 55 anos. O Massacre de Son My, também conhecido como Massacre de My Lai, foi perpetrado por tropas norte-americanas no dia 16 de Março de 1968, no âmbito da agressão que, directa e indirectamente, os EUA mantiveram contra o Vietname entre 1950 e 1975. A matança iniciou-se pelas 5h30 e durou cerca de três a quatro horas, durante as quais os militares dispararam indiscriminadamente sobre a população, atiraram granadas para dentro das habitações, levaram a cabo fuzilamentos sumários e torturas, mataram com baionetas e violaram mulheres e raparigas. «Muitos dos cadáveres tinham a identificação da "Companhia C" gravada com cortes no corpo», lembrou o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) ao assinalar os 50 anos de Son My. O governo norte-americano tentou ocultar o massacre, em que foram assassinados 504 civis – incluindo 17 crianças e 182 mulheres – e este apenas foi conhecido em 1969, quando Ronald L. Haeberle, então fotógrafo do Exército, vendeu as fotografias do acontecimento a órgãos de comunicação social. A divulgação das fotografias e o repúdio internacional que desencadearam, também nos EUA, contribuíram muito para a denúncia dos crimes perpetrados pelas tropas norte-americanas no Vietname, bem como para aumentar a exigência do fim da agressão. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Autoridades vietnamitas reúnem-se com o fotógrafo do Massacre de My Lai
Massacre de Son My ou My Lai
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Em Son My, só encontrou meio milhar de civis desarmados, que ainda assim foram massacrados. Apesar da dimensão do crime e do modo como foi exposto, apenas Calley – que muitos classificaram como «bode expiatório» – viria a ser condenado (em 1971), pelo homicídio intencional de 22 civis. Condenado a prisão perpétua, viu a sentença reduzida para 20 e dez anos. Em 1974, foi indultado.
Cerimónia no Memorial, em tempos de paz
O Comité Popular da província de Quang Ngai (Centro do Vietname) promoveu a realização de uma cerimónia para recordar as vítimas do massacre, junto ao Memorial de Son My, na comuna de Tinh Khe.
Na ocasião, foi lembrado o crime e o modo como Son My «se tornou uma dor inconsolável para o povo vietnamita e para outras pessoas de consciência em todo o mundo», refere a Vietnam News Agency (VNA).
«Em tempos de paz, os habitantes de Son My lidaram com a dor e as dificuldades, para perdoar e receber os veteranos de guerra norte-americanos que voltaram para enfrentar a verdade, a si mesmos e ser capazes de olhar para o futuro», sublinharam.
No decorrer da cerimónia, em que foi observado um minuto de silêncio em memória das vítimas, as autoridades de Quang Ngai sublinharam que Son My recuperou gradualmente, graças aos cuidados do Partido Comunista e do Estado do Vietname, bem como aos contributos dos compatriotas, à ajuda de amigos no estrangeiro e aos esforços da própria população.
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