Está com dificuldades em comprar casa? Não se preocupe que há quem não esteja. Quem o diz é o Banco de Portugal nos dados divulgados ontem. Segundo a instituição, é certo que se registou um recuo do investimento directo do exterior de 57% numa comparação homóloga do primeiro semestre.
Ainda assim, na análise por trimestres, o período de Abril a Junho deste ano (os 1,03 mil milhões de euros) foi o segundo trimestre com o registo mais elevado em investimento directo do exterior realizado em imobiliário, nos últimos 15 anos. No global do primeiro semestre 93,95% (ou 1,88 mil milhões de euros) foi direccionado para imóveis em território nacional.
Segundo o Banco de Portugal, no segundo trimestre de 2022 o investimento em imóveis ascendeu a 1,04 mil milhões de euros. Se a queda do investimento directo do exterior em imóveis parece ser residual, a mesma, quando comparada com a queda global, parece não acompanhar e comprova que este último é cada vez menos produtivo e cada vez mais especulativo.
A origem deste tipo de investimento também é interessante, já que a maioria continua a ser europeia (980,6 milhões de euros entre Janeiro e Junho), seguido da Ásia (513,7 milhões de euros) e do continente americano (298,6 milhões de euros). Isto leva a questionar qual é a vantagem de um investimento apenas rentista e que não acrescenta algum valor, particularmente num momento em que se verifica uma crise habitacional.
Importa recordar que uma das razões que levou o Presidente da República a vetar o pacote «mais habitação» era precisamente a necessidade de ganhar a «confiança dos investidores». A questão é que o tal pacote não colocava nunca em causa toda a dinâmica especulativa do imobiliário, nem o Governo quis que essa fosse uma questão. Agora vemos, com números, que a actividade especulativa por via do estrangeiro reforça-se e a questão habitacional descura-se.
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