«Não se embarca tirania neste batel divinal – dir-lhes-ia Gil Vicente ao recusar-lhes a entrada na Barca do Céu» disse Odete Santos sobre os ataques do governo PS ao povo e aos trabalhadores, na sua intervenção no XIX Congresso do PCP, acerca da necessidade de defender a Democracia.
Esta pequena frase capta bem o traço característico de espontaneidade de Odete Santos, que faleceu hoje, 27 de Dezembro de 2023, aos 82 anos. Militante do Partido Comunista Português desde 1974, a advogada e actriz era estimada por milhares de democratas que se reviam na sua acção a firmeza, necessária para defender os oprimidos.
Odete Santos, conforme se pode ler na nota do Secretariado do Comité Central do PCP, licenciou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo exercido advocacia durante anos, o que lhe valeu a alcunha de «advogada dos pobres» em Setúbal.
A resistência e a luta pela Democracia correu-lhe sempre nas veias sendo que teve desde muito jovem uma intensa intervenção cultural e antifascista que lhe valeram a perseguição da PIDE/DGS, a polícia política do regime fascista.
Mulher de cultura, nunca desligou essa dimensão da vida do seu trabalho político. Após o 25 de Abril de 1974, integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Setúbal e impulsionou a criação do Teatro de Animação de Setúbal, onde representou conhecidos dramaturgos.
No plano cultural nunca se imiscuiu. «Em Maio há cerejas», «A Bruxa Hipátia – o cérebro tem sexo?»e «A argamassa dos poemas» foram todos livros da sua autoria, sendo o último uma homenagem «aos que fizeram da poesia uma das mais belas e fortes armas de intervenção». O seu percurso artístico conta ainda com a participação, nos anos de 2004 e 2005, em teatro de revista no Parque Mayer.
Também na Assembleia da República deu grandes contributos à luta do seu povo. Deputada entre Novembro de 1980 e Abril de 2007, o importante trabalho de Odete Santos passou pelas áreas dos Direitos, Liberdades e Garantias, na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos das mulheres. Destaque evidente para o combate que travou contra o aborto clandestino e pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, causa pela qual destemidamente deu sempre a cara.
Também no plano local a presença de Odete Santos fez-se notar, tendo sido membro da Assembleia Municipal de Setúbal de 1979 a 2009, e Presidente deste órgão do Poder Local Democrático entre Janeiro de 2002 e Novembro de 2009.
Com uma vida recheada, o último parágrafo da nota do Secretariado do Comité Central do PCP resume a sua personalidade impar: «Mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista, Odete Santos foi uma figura marcante na construção do Portugal de Abril e na afirmação dos direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra, em particular sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a igualdade e a emancipação da mulher, uma presença constante na acção de solidariedade com os povos de todo o mundo, uma incansável participante na concretização do ideal e projecto do Partido Comunista Português».
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