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Foram os grandes grupos económicos quem ganhou as eleições

Pedro Soares dos Santos e Cláudia Azevedo falaram sobre as eleições durante a apresentação dos seus lucros. Enquanto o CEO da Jerónimo Martins, na passada quinta-feira, deixou subentendido uma necessidade de mudança, a CEO da Sonae destacou a vontade de mudar. 

CréditosMario Cruz / Agência Lusa

Na passada quinta-feira, Pedro Soares dos Santos apresentou os lucros da Jerónimo Martins: subiram 28% para 756 milhões de euros em 2023. A empresa já tinha adiantado que o seu volume de negócios disparou 20,6% para 30608 milhões de euros nesse ano, devido ao forte desempenho de vendas e que dessa forma superou pela primeira vez os 30 mil milhões de euros em vendas.

Eis senão quando Soares dos Santos, o mesmo que em 2023 ganhou 186 vezes mais do que o salário médio que paga aos seus trabalhadores, durante a apresentação dos lucros, foi questionado sobre as eleições legislativas que se iriam realizar no domingo. 

Respondeu o CEO que, «neste momento, a fraca qualidade dos nossos políticos obriga-nos a pensar se não devemos mudar enquanto sociedade» e que o problema do país não é a falta de dinheiro mas antes «a falta de qualidade e a falta de gestão das pessoas». 

Falando no plural, o beneficiário da meritocracia hereditária, certamente referia-se às pretensões da sua classe que já não está satisfeita com os lucros que arrecada e precisa de acumular ainda mais capital. O mesmo Soares dos Santos que falava em mudança certamente não estava a pensar numa mudança à esquerda, mas sim numa que visasse garantir os seus objetivos de classe. 

O mote estava dado, e foi seguido por Cláudia Azevedo, CEO do grupo Sonae, na passada terça-feira, também na apresentação dos lucros do grupo. Nesse dia, Cláudia Azevedo anunciou que a Sonae aumentou os lucros em 6,4% para atingir os 357 milhões de euros em 2023, o que compara com os 336 milhões de 2022 e que o volume de negócios ascendeu a 8,4 mil milhões de euros em 2023, mais 9,2% que no ano anterior.

Eis então que Cláudia Azevedo, a mesma que em 2023 ganhou 82 vezes mais do que o salário médio que paga aos seus trabalhadores, e a mesma que viu o Estado a pagar 450 mil euros à Sonae para apoio ao pagamento dos salários mínimos na empresa (ainda que, nessa mesma altura, tenha aumentado o seu salário para os 400 mil euros), durante a apresentação dos lucros, foi também ela questionada sobre as eleições legislativas que se realizaram no domingo. 

Respondeu a CEO que «pelo número de pessoas que foram votar e pela forma como votaram, há um grito de mudança grande» e que «as pessoas votaram a dizer isto: estamos fartos de politiquices e queremos políticas de futuro». 

Claro está que, tal como o CEO da Jerónimo Martins, a CEO da Sonae falou pela sua classe e reiterou que «a carga fiscal sobre as pessoas e as empresas é excessiva» e particularizou o caso da taxa sobre os lucros extraordinários da distribuição que «ainda faz menos sentido».

Ou seja, Pedro Soares dos Santos e Cláudia Azevedo foram os porta-vozes do grande capital, dos que viram os seus lucros aumentar e dos que estão sedentos para  os aumentar ainda mais. Para ambos, a tal mudança necessária não é a mesma mudança que é necessária para  os trabalhadores.

O tal «grito de mudança» que colocou a direita no poder e deu expressão aos projectos mais reaccionários, é, no final do dia, o garante da defesa dos seus interesses e os lucros assim o ilustram. Nas eleições do passado domingo, foram os grandes grupos económicos os vencedores. 

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