Abril é um mês muito especial, em que se comemoram duas datas muito importantes para a cultura e para as artes plásticas, o Dia Mundial da Arte, a 15 de abril1, e os 50 anos da Revolução do 25 de Abril, que muito contribuiu para uma intensificação da liberdade criativa, em que os artistas aprofundaram as suas linguagens com o irromper de novas práticas artísticas no espaço urbano, onde «muitos artistas agem coletivamente»2, abrindo a novas formas de comunicação com o público, levando à revisão de valores estéticos com a realização de muitas retrospetivas e coletivas, o que veio a permitir uma verdadeira descentralização cultural, fundamentalmente através da intensificação das atividades culturais nas autarquias e associações.
Apesar da enorme dinâmica cultural e artística que o 25 de Abril despertou, temos assistido a um subfinanciamento do sector cultural, onde os trabalhadores deste sector, assim como os criadores, têm vindo a sentir uma situação de grande precariedade e a impossibilidade de desenvolverem a sua atividade artística enquanto profissionais, como em qualquer outra área de atividade.
«Apesar da enorme dinâmica cultural e artística que o 25 de abril despertou, temos assistido a um subfinanciamento do sector cultural, onde os trabalhadores deste sector, assim como os criadores, têm vindo a sentir uma situação de grande precariedade e a impossibilidade de desenvolverem a sua atividade artística enquanto profissionais, como em qualquer outra área de atividade.»
No início deste ano, as associações do sector da Cultura integradas no Movimento Outra Política para a Cultura reforçaram a justa reivindicação «das propostas pela democratização da Cultura, pelo trabalho com direitos, pelo direito de todas as pessoas à criação e fruição culturais dos bens e atividades culturais», exigindo ao Estado «…o investimento de, pelo menos, 1% do OE [Orçamento do Estado], com perspetiva da sua subida para 1% do PIB [Produto Interno Bruto], sendo este último o valor mínimo recomendado pela UNESCO», assim como pela «responsabilização do Estado e [pela] criação de um Serviço Público de Cultura».
Para o mês de abril, deixamos, assim, algumas sugestões entre a enorme diversidade de eventos artísticos que vão acontecer por todo o país para comemorarmos estas datas com a arte.
A Sala de Exposições da Biblioteca da NOVA FCT (Piso -1)3 apresenta a exposição «A Liberdade está a passar por aqui» de Fernando Quintas com curadoria de Ana Alves Pereira e José Moura, que decorre até 29 de abril. «Celebram-se este ano 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974. Uma data fundamental na história portuguesa, que inicia um longo e sólido processo de democratização, que se traduz na plural e diversificada sociedade que hoje conhecemos», assinala o texto da exposição que tem como título «Os Murais Da Liberdade», pretendendo fazer referência aos «murais revolucionários que foram pintados ao longo de vários anos em cidades, vilas e aldeias portuguesas, e em todos os lugares onde se sentia a dinâmica de uma sociedade que exigia uma mudança de costumes, hábitos e políticas. Nos anos que se seguiram à revolução de 1974, a arte desceu à rua, acompanhou os movimentos das pessoas, ocupou paredes, bairros e cidades inteiras, com as suas mensagens reivindicativas e assertivas, transmitidas através de composições dinâmicas, de um cromatismo gritante que não deixava ninguém indiferente».
Esta exposição de Fernando Quintas é composta por vários painéis que representam diferentes momentos, o primeiro aos anos do pós-guerra, o segundo painel-mural «anuncia os ventos de uma pré-revolução», e «o terceiro momento, onde a composição explode em cores, ritmos e dinâmicas compositivas de grande intensidade, como se o painel-mural fosse atravessado pelos ventos imparáveis da história, que tudo levassem no seu caminho, rumo a um futuro cheio de promessas e possibilidades».
Por altura das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril decorrem, por todo o país, exposições de fotografia acerca do modo de vida no nosso país, antes, no dia da Revolução dos Cravos e depois, salientamos dois fotógrafos que se destacaram, Eduardo Gageiro e Alfredo Cunha.
Do fotógrafo Eduardo Gageiro podemos visitar a exposição «Factum», no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional4, até 5 de maio. Uma exposição de 170 fotografias entre os anos de 1950 do século XX e 2023. Eduardo Gageiro revela que o segredo do sucesso da sua carreira foi «fotografar todas as pessoas com todo o amor e respeito, o Portugal real sim, mas com dignidade.»
Alfredo Cunha tem a decorrer a exposição de fotografia «A Work in Progress, Portugal 1973-2023» no Arquipélago-Centro de Artes Contemporâneas5, nos Açores, até 12 de maio, em parceria com a Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores (AFAA) e a Leica, onde mostra uma retrospetiva de meio século de trabalho ligado à fotografia numa clara homenagem ao nosso país. Alfredo Cunha também tem vindo a apresentar a exposição de fotografia «25 de Abril de 1974, quinta-feira» na Galeria Municipal Artur Bual6, Amadora, até 23 de junho, onde também vão ser apresentados 50 outdoors por toda a cidade da Amadora com 50 fotos do autor, no Museu de Almada-Casa da Cidade7, até 28 de setembro e, por último, esta exposição também vai ser exposta na Galeria do Paço da Universidade do Minho8, em Braga, até 30 de abril.
A Exposição «Resiliência» apresenta o trabalho dos artistas Luís Geraldes e Luís Herberto na Galeria Municipal do 119, em Setúbal, que podemos ver até dia 27 de abril. A exposição «Resiliência», realizada no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, inclui seis quadros de Luís Herberto, um deles com o título «O que faz falta… é malhar na malta!», evocando a conhecida canção de intervenção de Zeca Afonso, que chama a atenção para a violência urbana, e nove pinturas de Luís Geraldes, com motivos carregados de simbologia esotérica e científica, segundo texto da organização.
Quanto à expressão artística podemos encontrar nas obras de grande formato de Luís Herberto uma «linguagem gráfica, próxima dos murais», assim como a momentos da intervenção «das forças policiais em manifestações de rua», já nas pinturas de Luís Geraldes o que predomina é «a dualidade entre luz e sombra, além da utilização de cores quentes, da memória dos tempos em que viveu em Angola e na Austrália».
Para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, a UCCLA em parceria com o Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV) e a Embaixada de Cabo Verde, em Portugal, inauguraram a exposição «Liberdade - Portugal, lugar de encontros» na União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA)10 e no CCCV11 e que vai decorrer até dia 10 de maio. Esta exposição coletiva, com curadoria de João Pinharanda, pretende dar voz à expressão artística propiciada pela conquista da Liberdade em Portugal. Com o 25 de Abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial criaram-se condições para uma multiplicidade de encontros.
Participam nesta exposição «28 olhares artísticos contemporâneos, oriundos dos países que se expressam oficialmente em língua portuguesa. Estes artistas têm em comum o facto de terem tido ou ainda terem em Portugal um lugar de encontro e trabalho, que pode não ser central nem determinante no seu olhar, mas que não deixa de ser um laço, com a restante realidade artística», segundo nos revela o texto da exposição.
- 1. Nesta data, em 1452, nasceu Leonardo Da Vinci. Em sua homenagem, em 2012 a Associação Internacional de Arte, IAA, uma ONG que trabalha como órgão de consulta da UNESCO com mais de 100 países membros, composta por artistas plásticos, decretou que no dia 15 de abril passaria a ser celebrado o Dia Mundial da Arte.
- 2. Rui Mário Gonçalves, Pintura e escultura em Portugal, Lisboa. 1983. 2ª edição. Páginas 118, 119.
- 3. Biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia / UNL - Campus de Caparica, Caparica. Horário: segunda a sexta-feira, das 9h às 20h
- 4. Galeria Municipal – Torreão Nascente da Cordoaria Nacional – Avenida da Índia, Lisboa. Horário: terça a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h. Encerrado nos dias 1 de janeiro, 1 de maio, 25 e 31 de dezembro.
- 5. Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, Rua Adolfo Coutinho de Medeiros s/n Ribeira Grande - São Miguel – Açores. Horário: terça a domingo, das 10h às 18h.
- 6. Galeria Municipal Artur Bual – Casa Aprígio Gomes, Rua Luís de Camões, n.º2, Amadora. Horário: terça a sábado e feriados, das 10h às 18h | domingos, das 14h30 às 18h. Encerra à segunda-feira.
- 7. Museu de Almada – Casa da Cidade, Praça João Raimundo, Almada. Horário: terça a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 18h.
- 8. Galeria do Paço da Universidade do Minho – Largo do Paço, Braga. Horário: terça a sábado, das 10h às 12h30 e das 14h às 18h30.
- 9. Galeria Municipal do 11 - Av. Luísa Todi 5, Setúbal. Horário: terça a sexta, das 11h às 13h e das 14h às 18h; sábado, das 14h às 18h.
- 10. UCCLA - Avenida da Índia, n.º 110 – Lisboa. Horário: segunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 14h às 18h.
- 11. CCCV - Rua de São Bento, n.º 640 – Lisboa. Horário: terça a quinta, das 12h às 19 h; sexta e sábado, das 13h às 20h.
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