A escalada armamentista e de confrontação tem tido os resultados evidentes a que todos assistimos. Ao arrepio da Constituição da República Portuguesa, que vinca que Portugal deve preconiza pelo «desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos», PS e AD avançam exactamente no sentido contrário.
No fundo, ambos os partidos procuram, não só querem apagar fogos com gasolina, como querem também corresponder a sua acção aos interesses bélicos e geoestratégicos de que vê na manutenção da guerra formas de lucro e salvaguarda de uma hegemonia cada vez mais colocada em causa. Eis que em plena campanha eleitoral, PS e AD vieram a público convergir na ideia de uma emissão de dívida conjunta para «defesa».
Significa isto a emissão de títulos de dívida com uma taxa de juro fixa a um conjunto de anos que serão pagos pelos Estados, e por sua vez pelo povo e pelos trabalhadores, a quem os comprar. Ou seja, a ideia de PS e AD passa por colocar o investimento bélico nas mãos de quem quer a perpetuação da guerra e satisfazer, por várias formas, os interesses dos mesmos.
Segundo a Agência Lusa, a justificação para tal ideia perversa, diz a AD, é não «sobrecarregar o orçamento plurianual da União Europeia». Já para o PS é uma forma de «lidar com os diversos desafios comuns». Para o Livre «é um passo que deve ser ponderado». Em última análise, todas as expressões e considerações do que é uma emissão de dívida conjunta, apenas significam continuar a trilhar o caminho que tem levado a milhares de mortes e hipotecar as funções sociais do Estado.
A ideia destes partidos passa por financiar a indústria de guerra, que tem lucrado bastante com o que se tem passado na Ucrânia, e cumprir um velho objectivo da União Europeia no que diz respeito a uma indústria própria de armamento e satisfazer as metas de investimento armamentista colocadas pela NATO.
Tendo isto em conta, importa relembrar que as acções das empresas de armamento disparam mais de 100% com a guerra na Ucrânia. Veja-se a Lockheed Martin, principal fornecedor de armamento dos EUA e que entre 2022 e 2023 teve uma capitalização bolsista de mais de 120 mil milhões de euros e viu as suas acções a valorizarem 26%.
Já na Europa o grupo alemão Rheinmetall, que produz os carros de combate Marder e os tanques Leopard 2, valorizou 158% no espaço de um ano, que compara com uma subida de 5,8% do principal índice accionista alemão (DAX) ou com a valorização de 10,8% (incluindo dividendos) das ações das 50 maiores empresas da Zona Euro presentes no índice Euro Stoxx 50.
Armin Papperger, CEO da Rheinmetall, no inicio do passado ano, assumiu que as vendas da sua empresa iriam escalar até aos 12 mil milhões de euros até 2025, cerca de mil milhões acima do previsto.
No mesmo sentido vai a BAE Systems, empresa britânica, que em 2022 apresentou lucros de 2,7 mil milhões de euros e um recorde de encomendas de 67 mil milhões de euros. Para 2023, Charles Woodburn, CEO da empresa, antecipa um aumento das vendas entre 3% a 5%.
Ainda este ano, Ursula Von der Leyen, disse que para a Comissão Europeia, «um dos objetivos centrais da estratégia, e do Programa Europeu de Investimento na Defesa que a acompanhará, será dar prioridade às aquisições conjuntas no domínio da defesa», ou seja, continuar a alimentar todos os lucros das empresas de armamento que não têm a palavra «paz» no seu léxico.
Face aos problemas estruturais do país, aos problemas identificados em áreas como a Educação ou a Saúde, e a necessidade de resolver tudo o que está colocado, PS e AD, com o Livre a reboque, preferem alocar recursos para financiar a guerra. No final a fatura é paga pelos trabalhadores.
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