|Brasil

Em Encontro de Amigos, MST critica «reforma agrária parada» no Brasil

A iniciativa de fim de ano, com balanço e perspectivas de luta, decorreu este sábado no Espaço Cultural Elza Soares (São Paulo). João Pedro Stédile, do MST, exigiu mais ao governo de Lula da Silva.

Ao fazer o balanço de 2024, João Pedro Stédile do MST, não poupou criticas ao governo de Lula da Silva CréditosPriscila Ramos / MST

O tradicional Encontro de Amigos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) saiu da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, onde era realizado há anos, e veio para o centro da capital paulista, no âmbito de uma estratégia para se aproximar da sociedade.

«O MST tem tido o cuidado, ao longo dos anos, de realizar atividades de final de ano, de confraternização, combinando com o debate político, primeiro para agradecer a solidariedade que os nossos aliados dedicaram a nossa organização», disse João Paulo Rodrigues, da direcção nacional do movimento.

«A segunda questão é [...] prestarmos conta das coisas que nós conseguimos realizar e das coisas que não conseguimos realizar. E, por fim, projetar o que nós queremos fazer no próximo período», afirmou ainda Rodrigues a propósito do evento, em que anunciou a realização da Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo, em Maio de 2025.

Na mesa de abertura, estiveram presentes, da parte do governo federal, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, e o chefe da Secretaria-geral da Presidência da República, Márcio Macedo.

Membros do governo valorizam MST e anunciam medidas

Este destacou o papel do movimento popular no sentido de pressionar os gestores do Estado a tomarem decisões alinhadas com os interesses dos trabalhadores, refere o Brasil de Fato. «Eu queria parabenizar o MST pela luta que fez durante o ano inteiro pela realização da reforma agrária e pela produção de alimentos saudável. E dizer da importância que esse movimento tem para a democracia brasileira», declarou.

O Encontro de Amigos do MST decorreu no Espaço Cultural Elza Fernandes, em São Paulo // Priscila Ramos / MST

Macedo disse ainda que governo e movimentos estão cada qual na sua trincheira. «O governo na trincheira de fazer as entregas, o movimento na trincheira de reivindicar e colocar sua pauta. E ambos na defesa da democracia, mas sempre, do lado certo da história», afirmou.

Por seu lado, Paulo Teixeira, falou da importância do MST para a democracia, para o Brasil e para a reforma agrária. «E o balanço é a retomada, com toda força, da reforma agrária. Isso já está acontecendo», declarou o ministro ao Brasil de Fato. «Eles [o governo anterior] tinham construído um muro para evitar a reforma agrária. Esse muro foi derrubado e agora nós voltamos com um projeto de reforma agrária», concluiu Teixeira, que aproveitou o evento para anunciar a desapropriação de cinco áreas onde estão instalados acampamentos do MST, entre eles, o Quilombo Campo do Meio, no Sul de Minas, onde as famílias esperam pelo assentamento definitivo há mais de 20 anos.

João Paulo Rodrigues celebrou, com cautela, o anúncio feito por Teixeira. «Qualquer medida é necessária. O MST não teve nenhuma conquista econômica neste ano. Estamos na expectativa de uma reunião com o presidente Lula e que as medidas que o ministro Paulo Teixeira [anunciou] se transformem em realidade. Mas essa pauta tem três meses que não foi executada», disse o dirigente do movimento.

João Pedro Stédile exige mais do actual governo brasileiro

Ao intervir, João Pedro Stédile, membro da direcção nacional do MST, fez um balanço das acções e conquistas nos dois últimos anos, tendo também abordado os desafios com que se confrontam os trabalhadores brasileiros.

Priscila Ramos / MST

Neste contexto, lembrou que «o Brasil é uma economia capitalista totalmente dependente da economia internacional». «Portanto, disse, tudo o que a economia internacional faz influi diretamente em nosso país.»

Também abordou um momento considerado como a crise civilizacional do Ocidente, uma cultura que «prega o individualismo, o empreendedorismo – algo que o governo Lula deveria riscar de seu dicionário – e o egoísmo», refere o MST no seu portal.

No entender de Stédile, o executivo brasileiro está a ter dificuldades na construção de políticas para ajudar a população mais pobre e, por disso, o dirigente defendeu a necessidade de olhar para o desemprego, e de procurar entender onde e como estão os 70 milhões de trabalhadores que continuam na informalidade.

Críticas à política da reforma agrária

Na presença dos responsáveis governamentais, Stédile disse que a reforma agrária está parada. «O governo Lula é um governo encalacrado. Ou seja, mesmo que tenha vontade política de ajudar os pobres, não consegue», disse.

«Não vou contestar os dados do Paulinho [ministro Paulo Teixeira], porque esse não é o objetivo. Mas a reforma agrária está parada, não houve nenhuma desapropriação em dois anos. Há boa vontade para resolver no ano que vem, tudo bem, há boa vontade. Mas o balanço é negativo», afirmou o dirigente, que informou que o novo levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) aponta um passivo de 101 mil famílias sem terras em todo o país sul-americano.

«A gente precisa que o governo enfrente as questões estruturais, porque, só de propaganda, não funciona», criticou.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui