«Ao acolher um grupo deste género», o trio de hip-hop irlandês, Kneecap, «o Festival de Glastonbury [segundo maior festival de música do mundo] arrisca-se a pôr em causa a sua orgulhosa tradição de promover a paz, a unidade e a responsabilidade social», defendeu David Taylor, deputado do Partido Trabalhista (Labour) por Hemel Hempstead, numa carta enviada aos organizadores do Glastonbury. «Seria profundamente preocupante ver o festival dar uma plataforma a indivíduos que defendem o ódio e a violência, especialmente numa altura em que as tensões políticas e sociais já são elevadas».
Também o deputado Jim Allister, do Traditional Unionist Voice (TUV), um partido da Irlanda do Norte que advoga a colaboração dos irlandeses com a ocupação britânica, pediu o cancelamento do concerto da banda.
Há duas semanas, os Kneecap já tinham sido censurados na sua apresentação no festival Coachella, na Califórnia. Para além de um corte na transmissão quando começou um cântico anti-Margaret Thatcher, os organizadores impediram que declarações pró-Palestina, a denunciar a cumplicidade do Governo estadounidense no genocídio em Gaza, fossem projectadas nos ecrãs.
O Governo do Reino Unido, liderado por Keir Starmer, do Labour, juntou-se ao coro de condenações das principais figuras políticas britânicas em relação às declarações proferidas pelos Kneecap, que considerou «completamente inaceitáveis». Em causa estão dois vídeos, já com alguns anos, em que um elemento do grupo afirma que «o único Tory (membro do Partido Conservador) bom é um tory morto» e, noutro caso, grita «Up Hamas, Up Hezbollah» num concerto.
Para além da posição do deputado do Labour, que pediu, encarecidamente, que o festival reconsiderasse «a decisão de acolher os Kneecap» e os removesse da lista de artistas a participar em Glastonbury, também o executivo Labour e a líder do Partido Conservador (Kemi Badenoch, que enquanto membro do anterior Governo foi condenada por se recusar a atribuir um apoio público aos Kneecap) defenderam o corte de qualquer financiamento de programas de apoio a artistas.
Kneecap: a distorção das nossas palavras «não é apenas absurda - é um esforço evidente para descarrilar a verdadeira conversa», o incansável apoio do Labour à política de extermínio dos palestinianos
Numa nota divulgada pela banda ao final do dia 28 de Abril, o destaque recai sobre as 20 mil crianças em Gaza que foram mortas pelas forças de ocupação israelitas, enquanto «o Governo britânico continua a fornecer armas a Israel, mesmo depois de muitos médicos do Serviço Nacional de Saúde terem avisado Keir Starmer, em Agosto, de que estavam a ser sistematicamente executadas crianças com tiros de sniper na cabeça».
Considerando que os vídeos foram tirados do seu contexto, e rejeitando qualquer apoio ao Hamas, Hezbollah ou a qualquer ataque perpetrado contra civis («Nunca está certo. Sabemos isso melhor do que ninguém, dada a história da nossa nação»), os Kneecap recentram a discussão no facto de o Reino Unido não «defender os inocentes ou os princípios do direito internacional»: «os poderosos da Grã-Bretanha favoreceram apenas o massacre e a fome».
«É aqui que a verdadeira raiva e indignação deve ser direccionada». A banda destaca a rapidez com que estes ataques surgiram logo após terem denunciado o apoio dos Estados Unidos da América ao massacre do povo palestiniano, sugerindo a existência de um ataque concertado das elites políticas e económicas britânicas. Mas «o verdadeiro crime não está nas nossas actuações; está no silêncio e cumplicidade dos que estão no poder» e para quem palavras descontextualizadas são mais graves do que o genocídio de todo um povo.
«Querem que acreditemos que as palavras são mais perigosas do que o genocídio».
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