Na sessão de ontem da Assembleia Nacional da Venezuela, para a qual estava agendado o debate sobre a «responsabilidade política de Nicolás Maduro na crise que o país atravessa», o Parlamento (com maioria de direita) votou a favor do adiamento da sessão em que Maduro será submetido a «julgamento» – um processo que tanto o Governo como diversos juristas consideram ilegal e no qual vêem a tentativa de um eventual golpe de Estado. Paralelamente, a oposição decidiu suspender a marcha até ao Palácio de Miraflores, que estava marcada para amanhã, informam a RT e a Alba Ciudad.
Estas decisões surgem na sequência da mediação do Vaticano, sob cuja égide teve início, este domingo, o diálogo entre o Governo e alguns sectores da oposição. Quinze dos partidos que integram a chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD) recusaram-se a participar neste diálogo.
Primeiro encontro
No passado dia 30, representantes do Governo Bolivariano e da oposição, reunidos nas instalações do Museu Alejandro Otero, em Caracas, chegaram a acordo quanto à criação de quatro mesas temáticas de debate, «para levar por diante o diálogo nacional», revela a AVN.
Neste primeiro encontro, que terá sequência a 11 de Novembro, ficou decidido que cada mesa será composta por um representante do Governo e um da oposição – podendo cada qual designar os seus assessores técnicos –, sob a coordenação de um dos «acompanhantes internacionais».
O processo é seguido in loco por representantes do Vaticano, da União de Nações Sul-americanas (Unasul), pelos ex-chefes de Estado do Panamá, Martín Torrijos, e da República Dominicana, Leonel Fernández, e pelo antigo primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.
De acordo com a AVN, na segunda-feira foram libertados os opositores Carlos Melo, Marco Trejo e Andrés Moreno, e, na terça-feira, os também opositores Angel Coromoto Rodríguez (ex-chefe de segurança de Henry Ramos Allup), Pablo Parada e Jean Carlos Ortiz. No entanto, a oposição exige a libertação de mais presos, que considera «políticos» e estima serem uma centena.
Ainda segundo a AVN, é sintomático que diversos dirigentes de partidos da oposição tenham deixado cair a exigência de realização de um referendo para a revogação do mandato presidencial a Maduro, solicitando antes eleições gerais antecipadas.
Nas ruas, em defesa da paz
A Juventude do Partido Socialista Unido da Venezuela (Jpsuv) vai montar, hoje, um acampamento especial, nas imediações do Palácio de Miraflores (sede do Governo), para defender a paz, proteger a democracia e a estabilidade no país, informa a TeleSur.
Tendo em conta o «julgamento político» – ontem adiado – que a Assembleia Nacional pretende fazer ao presidente Nicolás Maduro, os defensores da Revolução Bolivariana vão continuar nas ruas, estando agendados uma mobilização para amanhã em Caracas e a instalação de mais acampamentos da Jpsuv em vários estados do país, bem como outras actividades, para sexta-feira e sábado.
Procuradoria-Geral da Venezuela vai processar a AN
A Procuradoria-Geral (PG) da Venezuela anunciou que vai avançar com um processo contra a Assembleia Nacional, tendo em conta «as pretensões da maioria de direita de violar a Constituição». Neste sentido, irá actuar junto das instâncias competentes «por forma a que sejam tomadas as medidas mais eficazes para a protecção integral do Estado e da nação», indica num comunicado a que a TeleSur faz referência.
No texto, a PG venezuelana chama a atenção para «a persistência das acções inconstitucionais do referido órgão legislativo», que busca perpetrar um golpe de Estado e, assim, ameaçar «a paz, o desenvolvimento e a estabilidade do país».
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