As declarações de um representante norte-americano, na terça-feira, de acordo com as quais a Administração e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não estão empenhados na «solução dos dois estados» como única saída para o conflito israelo-palestiniano, foram classificadas pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana como «uma mudança muito perigosa» na política dos EUA.
As declarações do responsável norte-americano viriam a ser confirmadas, esta quarta-feira, pelo chefe de Estado dos EUA, numa conferência de imprensa conjunta, em Washington, com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Saeb Erekat, secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP), salientou que a solução dos dois estados representa já um compromisso, duramente alcançado, como base para uma resolução pacífica do conflito e que aquilo que Israel propõe como alternativa equivale a apartheid, informa a agência Ma'an.
Esta solução «constitui um compromisso histórico e doloroso, da parte dos palestinianos, de reconhecimento de Israel sobre 78% da Palestina histórica», disse, acrescentando: «Contrariamente ao plano de Netanyahu de um Estado e dois sistemas – o apartheid –, a única alternativa a dois estados soberanos e democráticos, com base nas fronteiras de 1967, é um Estado único, secular e democrático, com direitos iguais para todos, cristãos, muçulmanos e judeus, em toda a Palestina histórica».
Por seu lado, Hanan Ashrawi, membro da Comissão Executiva da OLP, disse que «a rejeição americana dos dois estados destruiria as hipóteses de paz» e que, «se o presidente Donald Trump está a tentar criar realidades alternativas, então deveria deixar claras quais são as opções: a solução de um só Estado teria de implicar direitos iguais e cidadania para todos, a não ser que ele defenda um Estado de apartheid». No entanto, enfatizou, «uma situação de ocupação perpétua iria gerar apenas maior extremismo e violência na região e fora dela».
Trump apoia a paz mas renuncia aos «dois estados»
Numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro de Israel, o presidente norte-americano, Donald Trump, deixou claro o apoio da sua administração às negociações de paz entre israelitas e palestinianos, no decorrer das quais, afirmou, os israelitas terão de «mostrar maior flexibilidade».
Também se mostrou reticente quanto à política de expansão sionista, reiterando a oposição que manifestara na sexta-feira passada, em declarações a um jornal israelita, relativamente à construção de colonatos nos territórios ocupados e à aprovação recente da chamada Lei da Regularização dos postos avançados, considerando que «prosseguir com os colonatos não é uma coisa boa para a paz».
«Laços indestrutíveis»
Mas o mandatário norte-americano não deixou sair Netanyahu insatisfeito de Washington, bem pelo contrário. Sobre a questão dos dois estados, que a ONU e a generalidade dos países, incluindo os EUA, até agora, defendem como um elemento essencial à solução política para o conflito israelo-palestiniano, Donald Trump confirmou o teor das declarações do responsável norte-americano no dia anterior, afirmando que encarava a solução «dos dois estados e de um Estado» e que gostava «da que ambas as partes gostam».
Para além disso, Trump reafirmou os «laços indestrutíveis» com o seu «aliado», que caracterizou como uma «democracia aberta frente à violência» – pese embora o país ser acusado de crimes de guerra e de lesa-humanidade, bem como da sistemática violação dos direitos dos palestinianos, submetidos a uma brutal ocupação e repressão.
Tais acusações nunca foram um óbice às excelentes relações que as várias administrações norte-americanas mantiveram com o Estado de Israel. Disso mesmo é exemplo o pacote-recorde de ajuda militar a Israel, no valor de 38 mil milhões de dólares, que a Administração de Barack Obama assinou em Setembro último. Donald Trump nao se esqueceu dela, tendo referido, ontem, que a ajuda militar a Israel estava nos píncaros.
Quanto à mudança prometida da Embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém, o presidente norte-americano mostrou-se todo a favor, mas sem apontar datas. «Estamos a estudar bastante a questão e com muito cuidado», disse.
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