|Eleições francesas 2017

Primeira volta das eleições presidenciais francesas não permite prognósticos

Desilusão dos franceses vai às urnas

A primeira volta das eleições presidenciais francesas, que decorre este domingo, revela uma profunda desilusão com os partidos que se alternaram no poder durante a 5.ª República.

Último debate televisivo entre os 11 candidatos às presidenciais francesas, que têm a sua primeira volta a 23 de Abril, emitido pelo canal France2. 20 de Abril de 2017
CréditosMartin Bureau / EPA

Os estudos de opinião que vêm sendo publicados pela imprensa francesa colocam quatro dos 11 candidatos com probabilidades de seguirem para a segunda volta. O resultado que tem sido apontado como mais provável é a disputa entre o ex-ministro do PS francês Emmanuel Macron e a líder da fascista Frente Nacional, Marine Le Pen – ainda que esta perca na segunda volta em qualquer cenário testado pelas sondagens.

No entanto, a tendência de queda de Le Pen, a manutenção de François Fillon (Os Republicanos, direita gaullista) em torno dos 20% de intenção de voto e a recente subida de Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa, com o apoio de vários partidos de esquerda) podem baralhar o cenário dado como certo nos últimos dois meses.

O que parece ser certo é a ausência do candidato oficial do Partido Socialista francês, Benoît Hamon, dos quatro primeiros lugares. Após uma ligeira subida no início do ano, desde o início do mês que nenhuma sondagem lhe atribui mais de 10%.

Hollande: das promessas ao mandato

O acto eleitoral parece, assim, vir a ficar marcado por uma profunda desilusão dos franceses com as promessas deixadas pelo actual presidente, François Hollande (PS) na sua eleição, em 2012. Durante a campanha das últimas presidenciais, Hollande prometeu a reversão das reduções fiscais sobre elevados rendimentos, a reposição da idade da reforma nos 60 anos ou a retirada das tropas francesas do Afeganistão.

23/4

A primeira volta das eleições presidenciais francesas está agendada para este domingo

Durante a sua presidência, a idade da reforma sem penalizações foi mantida nos 67 anos e, apesar da retirada do Afeganistão, a França interviu militarmente no Mali, na República Centro-Africana ou na Síria. As comemorações com que algumas forças marcaram a sua eleição, também em Portugal, foram dando lugar a um progressivo afastamento da sua presidência.

Entre a extrema-direita e o dogma do euro

Apesar de ter sido ministro de Hollande até ao momento em que anunciou a intenção de se candidatar, Macron apresenta-se como candidato independente, estatuto que aproveita para se distanciar das mesmas políticas que aplicou enquanto governante até há menos de um ano.

Emmanuel Macron diz-se o «único candidato pró-europeu» e promete aplicar uma política económica «amiga das empresas», em linha com a sua acção enquanto ministro da Economia.

Já Le Pen lançou, nos últimos anos, uma campanha de «de-demonização» da Frente Nacional que lidera desde 2011. Com um discurso centrado na soberania nacional e em críticas à União Europeia, a candidata do partido de extrema-direita tem capitalizado a desilusão de muitos franceses.

A retórica xenófoba e securitária, ainda que mitigada face a anteriores campanhas da Frente Nacional, tem sido, igualmente, uma das armas usadas por Le Pen numa campanha que decorre com o estado de emergência declarado, desde Janeiro de 2015.

7/5

A segunda volta, caso nenhum dos candidatos consiga mais de 50% dos votos no próximo domingo, realiza-se a 7 de Maio

O candidato da direita «tradicional», François Fillon, surgia como claro favorito à vitória na segunda volta até meados de Janeiro. No entanto, um escândalo envolvendo a contratação de familiares próximos para cargos públicos que nunca ocuparam parece ter diminuido ligeiramente o apoio eleitoral, ao mesmo tempo que Macron crescia nas sondagens.

Fillon, que foi primeiro-ministro sob a presidência de Nicolas Sarkozy e que é deputado desde 1981, centrou a sua campanha numa mensagem que só destoa de Le Pen quando se trata de questões europeias – o candidato de Os Republicanos é a favor do reforço de um directório centrado no eixo franco-alemão.

A «França Insubmissa» de um ex-PS crítico de Bruxelas

A candidatura de Jean-Luc Mélenchon, que em 2012 recolheu 11% dos votos na primeira volta, tem sido a que mais cresceu nas sondagens nas últimas semanas, aproximando-se dos 20% que são dados a Fillon e a uma curta distância de Marine Le Pen. Os estudos de opinião que incidem sobre os seis cenários possíveis de uma segunda volta envolvendo dois dos quatro candidatos dão como certa a sua derrota contra Macron e a vitória contra os dois candidatos da direita.

5%

Os quatro candidatos estão separados por menos de cinco pontos percentuais nas últimas sondagens

Mélenchon é deputado no Parlamento Europeu, eleito pelo Partido da Esquerda (que fundou em 2008), em aliança com o Partido Comunista Francês e outras forças. Militante trotskista até 1977, entrou para o PS francês nesse ano, foi eleito senador em 1986 e nomeado ministro de Lionel Jospin em 2000.

No domingo, surgirá nos boletins de voto sob a consigna «França Insubmissa», um movimento que lançou há um ano inspirado nas experiências do Podemos, em Espanha, e da campanha de Bernie Sanders às primárias democratas das presidenciais norte-americanas.

No programa político que apresenta, defende «a renegociação dos tratados europeus para tentar recuperar a soberania para os cidadãos franceses» e o lançamento da «6.ª República», através de um processo de elaboração de uma nova constituição.

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