Os chamados valores europeus mais uma vez a imperar. O povo francês foi chamado às urnas, fez a sua escolha e o presidente Emmanuel Macron desprezou a vontade popular e, encarnando Napoleão, fez imperar a sua vontade.
Passados dois meses das eleições legislativas precipitadas por Emmanuel Macron, o presidente francês fez de tudo para não dar posse a um governo da Nova Frente Popular. A coligação de esquerda que reune o Partido Comunista Francês, a França Insubmissa, o Partido Socialista, entre outros, tinha dado todas as garantias de estabilidade, mas tal não foi suficiente para o chefe máximo do Estado gaulês.
Várias foram as reuniões que Emmanuel Macron teve para auscultar as várias partes interessadas numa solução governativa e várias foram as pressões que este sofreu. Após este longo período, Macron optou por nomear Michel Barnier como primeiro-ministro.
Barnier tem 73 anos, foi chefe do grupo de trabalho da Comissão Europeia para as relações com o Reino Unido pós-Brexit, desde novembro de 2019 até 2021, e é militante do partido fundado por Nicolas Sarkozy, Os Republicanos, o quarto partido mais votado nas passadas eleições.
Naturalmente que está instalado o caos em França e as reacções não se fizeram esperar. «Liberal, europeísta, anti-social, Barnier é o extremo oposto da mensagem enviada pelos franceses às eleições legislativas», afirmou Fabien Roussel, secretário nacional do Partido Comunista Francês, sobre o escolhido de Macron.
Para Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, «a eleição foi roubada». No seu canal de YouTube, o mesmo afirmou que «embora a segunda volta das eleições legislativas tenha sido inteiramente focada em derrotar o Reagrupamento Nacional. É designada a personalidade mais próxima dos seus cargos».
Também nesta linha está François Hollande, membro do Partido Socialista e ex-presidente francês, que afirma que «há a certeza virtual» de que, se Michel Barnier foi designado pelo presidente francês, «é porque o Reagrupamento Nacional, precisamente a extrema-direita, deu uma forma de aval».
Esta tese parece confirmar-se, uma vez que Marine Le Pen disse: «[Michel Barnier] parece cumprir pelo menos o primeiro critério que havíamos solicitado, ou seja, um homem que respeite as diferentes forças políticas e seja capaz de se dirigir ao Comício Nacional, que é o primeiro grupo da Assembleia Nacional , da mesma forma que outros grupos ».
De resto, toda a direita acompanha o regozijo da extrema-direita. Thierry Beaudet, presidente do Conselho Económico, Social e Ambiental considerou: «é hora de nos interessarmos pelo país e pelos franceses», numa clara postura de agrado pelo escolhido para o cargo.
Quem também está agradada é a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que felicitou Michel Barnier pela sua nomeação como chefe do governo francês, afirmando que o antigo negociador do Brexit tinha «no coração os interesses da Europa e da França, como demonstra a sua longa experiência».
Para dia 7 de Setembro e para o dia 1 de Outubro estão marcadas jornadas de luta contra o «golpe» dado por Emmanuel Macron, nas quais se reivindica a revogação da reforma das pensões, o aumento dos salários e das pensões, a igualdade profissional entre mulheres e homens, assim como a melhoria das condições de trabalho e de novos direitos para os trabalhadores.
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