O consenso foi pedido por vários quadrantes e com objectivos diversos, no debate quinzenal desta tarde. A direita almejava o acordo de todos para uma «comissão técnica independente» ao incêndio de Pedrógão Grande mas, apesar de ter conseguido aliciar o PS e o BE para essa saída, o PCP e o PEV reafirmaram o seu desacordo.
O PSD e o CDS-PP querem que sejam entidades externas à Assembleia da República a indicarem a sua composição, sem que Luís Montenegro, falando aos jornalistas após a reunião da conferência de líderes, tenha dito quem são essas entidades externas. O PCP tem alertado para a dita independência da comissão proposta, que, podendo existir face ao poder político, não é garantida face ao poder económico – como afirmou João Oliveira.
Jerónimo de Sousa anunciou, durante o debate, a abertura revelada em aprovar uma lei, pela Assembleia da República, que dê resposta imediata às necessidades das populações afectadas e das vítimas dos incêndios florestais da última semana.
O secretário-geral do PCP lembrou as propostas que ontem o seu partido revelou, após uma reunião a pedido do primeiro-ministro, tanto de apoio às vítimas, como na prevenção dos fogos e no reforço dos meios e condições de combate aos incêndios florestais. Apesar de todos os partidos, à excepção do PSD, terem marcado presença, ontem, na residência oficial de António Costa, apenas o PCP avançou com um pacote alargado de propostas imediatas e urgentes face aos acontecimentos recentes.
Outro consenso pedido, este pelo primeiro-ministro, foi em torno da reforma florestal proposta pelo Governo, que está em discussão em sede de especialidade na Assembleia da República. O objectivo, afirma António Costa, é impor um reordenamento da floresta, tornando-a rentável do ponto de vista económico e, ao mesmo tempo, limitar a expansão do eucalipto.
Em resposta a uma questão de Catarina Martins (BE) sobre o sistema de comunicações de emergência, o primeiro-ministro anunciou que o Ministério da Administração Interna já ordenou a compra de antenas-satélite para evitar algumas das falhas no sistema que foram noticiadas nos últimos dias.
Responsabilidades da direita complicam argumentário do PSD e do CDS-PP
Passos Coelho optou por uma postura menos agressiva face às declarações dos últimos dias, que lhe valeram críticas generalizadas por amplificar boatos para marcar pontos na discussão política. Ainda assim, o presidente do PSD manteve a tese de que o Estado «falhou e continua a falhar», e pediu que se assumam responsabilidades públicas face às 64 vítimas mortais.
O que o PSD quer «não é saber o que se passou nos ultimos 40 anos», explicou Passos Coelho. O passado incómodo deve ficar de fora de todas as respostas à tragédia da última semana, argumenta o presidente do PSD, um dos partidos que, com o PS e o CDS-PP, teve responsabilidades governativas e assumiu a tutela do sector.
António Costa, na réplica, anunciou que serão abertos mecanismos «expeditos para indemnizar as famílias», «se e quando se confirmarem responsabilidades do Estado».
Assunção Cristas, por seu lado, optou por gastar todo o seu tempo a pedir «respostas políticas» à única questão que foi repetindo: «Como foi possível?» A líder do CDS-PP recebeu a mesma resposta de todas as vezes que insistiu com o primeiro-ministro, que explicou que ainda há perguntas sem resposta.
A ex-ministra da Agricultura, com a tutela da floresta, que protagonizou a «lei do eucalipto» (como Heloísa Apolónia, do PEV, lembrou), nada adiantou sobre o sector, nem sobre as suas responsabilidades enquanto antiga governante do governo do PSD e do CDS-PP.
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