A Escola Superior de Dança (ESD) funciona num edifício secular do Bairro Alto desde 1995 e, desde então, tem sido alvo de «obras e pequenos remendos» que não impediram infiltrações, a queda de partes do tecto ou mesmo que «chova nas salas», contou à Lusa a presidente da direcção da escola, Vanda Nascimento.
Segundo a direcção, a solução para os problemas da ESD «está nas mãos do Governo», a quem cabe autorizar a venda do edifício que permitiria a alunos e funcionários transferirem-se para um novo espaço a construir de raiz nos terrenos do Campus de Benfica.
«Dado não haver financiamento, é preciso vender este edifício. A autorização do conselho geral do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL) já aconteceu e agora está nas mãos do Governo», contou Vanda Nascimento, sublinhando que «a venda tem de ser autorizada pelo Governo».
Na passada sexta-feira, a secretária de Estado do Ensino Superior visitou a escola na companhia da direcção do IPL e «comprometeu-se a olhar para a problemática e avaliar a situação», recordou Vanda Nascimento, acrescentando que a responsável governamental garantiu que iria contactar a direcção «o mais depressa possível».
Esta segunda-feira, a ESD esteve aberta a quem a quisesse visitar e foi possível confirmar as denúncias que, na semana passada, a direcção da Associação de Estudantes fez à Lusa.
«É difícil dançar sem tirar os casacos»
O perigo é visível na improvisada sala de convívio, onde há fitas amarelas e vermelhas que delimitam a zona onde caiu um pedaço de tecto, mas também no espaço de aquecimento e treino, criado pela associação de estudantes, onde também há uma zona interdita desde que o tecto cedeu.
Na maioria das salas de aulas há muito frio, dizem os alunos, explicando que é difícil dançar sem tirar os casacos. Nos estúdios não há regulação da temperatura ambiente, as janelas não fecham e o sistema de aquecimento está avariado, contam os alunos, que hoje se concentraram no exterior da escola.
No átrio, que funciona como sala de espectáculos, já não há apresentações, porque «o sistema eléctrico é demasiado perigoso», contou à Lusa Margarida Garcez, durante uma visita à escola. «Às vezes, parece que estão à espera que aconteça uma tragédia para agirem», lamenta a aluna.
Nas casas de banho há cortinas onde deviam estar portas a esconder as sanitas. Na cantina, o espaço «está muito degradado» e «é muito frio», conta Joana Lopes, aluna do 2.º ano.
Os alunos queixam-se ainda da presença de ratos e baratas, mas também dos fungos e da humidade, havendo dias, admitem, «em que os professores têm de tirar a água das salas com baldes».
Sem financiamento, não há autonomia
No final da semana passada, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou uma pergunta ao Governo sobre a realidade vivida na ESD e as medidas que o Executivo visa tomar «para garantir às instituições de Ensino Superior públicas as condições necessárias ao cumprimento da sua missão específica com qualidade.
Na missiva recorda-se o facto de as aulas na ESD serem, na sua maioria, de componente prática, para reforçar a ideia de que «a existência de estúdios de dança preparados para actividade física diária é imprescindível».
Na carta cita-se a sub-directora da escola, Ana Silva Marques, a reconhecer que «tem havido investimento do IPL mas, com os cortes dos últimos anos, a manutenção tende a ser menor e o estado do edifício agravou-se».
O PCP reitera que o Ensino Superior «vive um cenário de subfinanciamento que urge combater e alterar, não bastando remeter a resolução dos problemas para a autonomia das instituições de Ensino Superior».
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