Em Alice no País das Maravilhas a Rainha de Copas tinha um modo expedito e garantido de resolver todas as dificuldades grandes ou pequenas: «cortem a cabeça!» sem perder tempo a procurar justificação para o acto. À sua semelhança, os dirigentes do «mundo livre» cortam cabeças a esmo verbalmente – quando passam à prática, as vítimas são milhões.
Na fronteira entre as alegações do Ocidente e da Rússia sobre o caso Skripal, seis notas para despejar alguma água fria, racionalismo e realismo, (não confundir com neutralidade ou independência, uma moeda falsa com bastante curso) nos recentes ataques do Ocidente à Rússia, começando por uma rápida incursão pelos cenários em que começou e continua a ser representada, que é o que realmente interessa.
Pano de fundo para uma crise geoestratégica
Os panos de fundo foram as vésperas de eleições presidenciais nesse país, antes de Putin ser reeleito como era previsível; a Grã-Bretanha estar em evidentes dificuldades nas negociações do Brexit; as eleições em Itália adubarem os eurocépticos por toda a Europa; o exército sírio e seus aliados estarem à beira de tomar Gouta, o que se tornou realidade, e de se comprovar que os terroristas – assim chamados pelos media ocidentais em Mossul, logo travestidos em rebeldes em Gouta como o foram em Aleppo – sequestraram os civis, dispararam sobre os que se aventuraram nos corredores humanitários e tinham os instrumentos e a capacidade para fabricar armas químicas – o que calou a gritaria pseudo-humanitária feita pela direita acolitada pelos seus lacaios à esquerda; a guerra comercial que está a ser instalada com o proteccionismo norte-americano e que por cá quase não é falada (os media nacionais são uns cães de guarda do pensamento único por manipulação ou omissão); a entrada de rompante no mundo financeiro da Bolsa Internacional de Energia de Xangai com o petro-yuan, uma ameaça séria ao petro-dólar que tem sido, desde os anos 70, o suporte da economia e finanças dos EUA; e mais uns quantos mas não despiciendos conflitos de baixa e média intensidade em que a unipolaridade norte-americana está a ser fissurada.
Muitas são as sirenes anunciando que o mundo está a rodar geoestrategicamente, o que será sempre um processo a médio e longo prazo, mesmo que tenha efeitos imediatos. De todos os sinais o mais inquietante para os EUA é o petro-yuan. Vai previsivelmente originar novas crises nos mercados de títulos, acções e divisas, o que coloca no fio da navalha a política económica-financeira dos EUA, em que o petro-dólar é essencial para o dólar continuar como divisa de reserva e principal divisa nas trocas comerciais, possibilitando-lhe sugar recursos de todos os países e amontoar uma dívida monstruosa. As ameaças ao petro-dólar são intoleráveis para a oligarquia financeira que domina os governos dos EUA.
Lembre-se que quando Saddam Hussein e Khadaffi tentaram começar a negociar o petróleo noutras divisas, um em euros o outro sonhando com um dinar-ouro, passaram de amigos a inimigos e foram rapidamente eliminados. Os protagonistas agora são outros e de peso completamente diferente. Isto explica a campanha contra a Rússia, como primeiro alvo, com a China em segundo embora seja o alvo principal, lá ao fundo os BRICS, apesar das grandes diferenças entre eles. Explica ainda a fúria contra o Irão, a negociar em yuans o petróleo e o gás com a China e a procurar substituir os petro-dólares noutros compradores. A visita do inefável príncipe herdeiro da Arábia Saudita, reino aliado de sempre dos EUA e aliado secreto de Israel, foi um desfile de imprecações contra o Irão e, numa entrevista ao Washington Post, um mimo de hipocrisia, cinismo e exibição de poder económico de quem sabe, sem mostrar as mãos, puxar cordéis no gabinete de Trump. Não se exime a confirmar que a Arábia Saudita foi directamente financiadora, a pedido do Ocidente, do terrorismo internacional, com a instalação maciça de mesquitas wahabitas, os núcleos difusores da radicalização islâmica. Apoio aos radicais islâmicos que continua a garantir, agora de forma indirecta, por interpostas fundações e variegados testas de ferro, no dizer subliminar mas esclarecedor do sorridente príncipe, feliz com as bombas que despeja no Iemen. A casa Saud tem forte influência na OPEP, é o grande sustentáculo do inquietado petro-dólar. São essas as questões centrais das batalhas geo-estratégicas a que se assiste, em que a Grã-Bretanha foi e é utilizada como peão de brega, aproveitando a necessidade que tinha de atirar para segundo plano as negociações do Brexit e de alimentar as fantasias imperiais de Theresa May, numa Grã-Bretanha em decadência.
Notas que têm bem presente duas frases de Georges Orwell que se aplicam perfeitamente ao auto denominado «mundo livre»: «para sermos corrompidos pelo totalitarismo, não temos que viver num país totalitário» e «numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um acto revolucionário».
Primeira Nota
Os «novitchoks», supostamente usados na tentativa de assassinato de Skipral e filha, em que o químico Mirzanyanov trabalhou num laboratório secreto da União Soviética podem, escreveu ele em 1995 já nos EUA, onde reside fugido da Rússia, ser fabricados num qualquer laboratório químico de relativa sofisticação. Num livro publicou várias fórmulas de armas químicas que andam a circular na internet. A Dra. Robin Black, chefe de um laboratório de investigação militar em Porton Down, Salisbury, numa declaração feita em 2016, coloca alguma dúvidas:
«Nos últimos anos, tem havido muita especulação sobre o desenvolvimento na Rússia de uma quarta geração de agentes nervosos ("Novichok", novato) , iniciada nos anos 70 do século passado como parte do programa "Foliant", com o objectivo de encontrar agentes que pudessem comprometer contra-medidas defensivas. Informações sobre esses compostos têm sido esparsas no domínio público, na sua maioria provindo de um químico militar russo dissidente, Vil Mirzayanov. Não há confirmação independente das estruturas ou propriedades desses compostos que tenham sido publicadas».
São conhecidos outros países que estudaram a mesma tipologia de compostos químicos como a Checoslováquia, a Eslováquia, a Suécia, a Inglaterra e os EUA.
Segunda Nota
A investigação e desenvolvimento das armas químicas na União Soviética estavam centralizadas num laboratório, onde trabalhou Mirzanyanov, localizado no Usbequistão, república que se tornou independente quando da desagregação da União Soviética e não integra a Federação Russa. Actualmente, quem tem presença militar nesse país asiático são os EUA, com uma base militar. Anote-se que os EUA participaram activamente no desmantelamento do referido laboratório de armas químicas.
Terceira Nota
Theresa May e o comissário Neil Basu, chefe do departamento anti-terrorista da Scotland Yard, têm que se entender. Ao contrário da opinião da polícia, que considera que a investigação vai ser muito demorada para ser séria, ela conclui, muito rápida, que «a única explicação possível é o Estado Russo ser responsável da tentativa de assassinato de Sergey Skripall e a filha», imediatamente corroborada por essa personagem altamente credível que é Nikki Haley, provocadora com várias mentiras no currículo de embaixadora dos EUA na ONU, embora nas suas teatradas não tenha ainda alcançado o patamar de Colin Powell quando desdobrou mapas com a localização de fábricas de armas de destruição no Iraque que não existiam. Diz ela: «pensamos que a Rússia é responsável(...)». Macron em linha «tudo leva a crer» no que é acompanhado por Merkel «são muitas as pessoas que pensam que». Neil Basu que já ninguém ouve nem interessa ouvir disse que «o assunto é tão complexo que só uma investigação de semanas o poderá esclarecer». Uma declaração que fica silenciada debaixo das pedras de «explicação possível», «pensamos que», «tudo leva a crer», «são muitas as pessoas que» o que é o necessário e suficiente para às investigações dizerem nada ou prepararem-se para fazer investigações de que o Conselho Consultivo Científico (Scientific Advisory Board, SAB) da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) é convenientemente excluído, talvez por não ter reconhecido os «novichoks» como armas químicas, porque encontrou poucas evidências de que existam. Suposições consideradas suficientes para declarar uma guerra diplomática, expulsando centenas de diplomatas russos.
Quarta Nota
Alguma estranheza deveria provocar tudo isto acontecer em Inglaterra. Já Alexander Litvinenko, que se transferiu dos serviços secretos russos para os ingleses e fazia por conta própria contrabando de armas nucleares, foi supostamente assassinado a mando da Rússia, era Theresa May ministra da Administração Interna. Agora, com Sergey Skripal, Theresa May é primeira-ministra. A histeria é rápida e igual. As dúvidas de Jeremy Corbyn e de outros deputados trabalhistas – apesar das muitas cautelas, a histeria é sempre difícil de enfrentar – lembrando casos como as armas de destruição maciça do Iraque, são rapidamente enterradas ou mesmo nem sequer referidas na comunicação social estipendiada ao serviço do pensamento único. Corbyn tem dúvidas legitimas mas caminha sobre ovos porque dentro do Partido Trabalhista enfrenta as facções saudosas de Blair, o travesti de Thatcher que foi leader desse partido.
A desinformação é arma poderosa nas mãos dessa gente. A anterior grande campanha de desinformação foi e continua a ser centrada na Síria. Poucos se lembram, quando se acusa a Síria do uso de armas químicas, das declarações de Carla del Ponte, que se demitiu da Comissão de Inquérito Independente da ONU para a Síria, depois de ter feito várias denúncias sobre o uso de armas químicas pelos «rebeldes», apontando para o Conselho de Segurança que «não quer fazer justiça». Lembrar que Carla del Ponte, de 1999-2007, procuradora do Tribunal Penal Internacional para a Jugoslávia, acusou duramente Slobodan Milosevic que antes de ser condenado, o que tudo indicava ser mais que garantido, morreu na prisão e anos antes de completamente inocentado pelo mesmo tribunal dos crimes de que era acusado. Não se poderá dizer que Carla del Ponte seja um agente do Kremlin.
Quinta Nota
A propalada credibilidade da Inglaterra, o rigor dos seus procedimentos nos inquéritos, é arrasada em séculos de histórias de mentiras e hipocrisias. Um dos últimos e excelentes exemplos é o relatório do embaixador Chilcot sobre a guerra desencadeada por Bush e Blair contra o Iraque. Se, por um lado, até parece arrasador ao dizer que «Em março de 2003, não havia nenhuma ameaça iminente de Saddam Hussein contra o Ocidente», por outro acrescenta que «a guerra foi baseada em dados imperfeitos dos serviços de informações e levada adiante de maneira totalmente inadequada», para concluir que as circunstâncias com as quais foi estabelecida a guerra estavam «longe de serem satisfatórias». Uma linguagem de trapos ao gosto dos diplomatas, que abriu a porta para Tony Blair se escudar na sua «boa fé», coisa de que o inferno está cheio. Quantos «dados imperfeitos» ou «decisões inadequadas» são necessárias para desencadear guerras reais ou diplomáticas em circunstâncias «longe de serem satisfatórias»?
Sexta Nota
Muito mais apreensivo e alarmado fica-se ao ouvir o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, reafirmar a solidariedade da NATO perante o ocorrido porque, segundo ele, se insere num «padrão temerário de comportamento russo ao longo de muitos anos». O norueguês deu como exemplos «a mistura de armas nucleares e convencionais em doutrina e exercícios militares». Conclui-se que só à NATO é permitido misturar essas armas em exercícios militares, que é o que tem feito e intensificado ao longo dos últimos anos.
Alega o uso crescente de «tácticas híbridas, como soldados sem insígnias» deve estar a referir-se a acusações feitas pela Ucrânia, em relação à presença de soldados da Federação Russa sem insígnias na Crimeia e nas regiões de Donetsk e Lugansk. A Ucrânia é fonte pouco confiável como é sabido, e tem sido várias vezes desmentida pelos observadores da OSCE que ninguém pode acusar de estar ao serviço dos separatistas ou dos russos. Não deixa de ser curioso que os países da NATO andem a infiltrar no Médio Oriente, em particular na Síria, tropas especiais descaracterizadas – alguns já foram presos pelas forças governamentais sírias – e usem mercenários em larga escala. Como classificará Stoltenberg essa soldadesca e as missões que desempenham a mando dos países da NATO? O homem deve sofrer de forte estrabismo divergente. Olha para a mesma «táctica híbrida», de um lado vê tácticas condenáveis do outro lado tácticas legítimas.
Refere «a anexação da Crimeia; o apoio aos separatistas na Ucrânia». Na Ucrânia houve um golpe de estado de forças de direita, para-fascistas e fascistas apoiado pela União Europeia mas sobretudo pelos EUA, como esclareceu de forma célebre para que não houvesse dúvidas Victoria «Que se Foda a Europa» Nuland, mulher de mão de Hillary Clinton nessas golpadas. A NATO tem apoiado, treinado e armado as tropas regulares e os grupos para-militares neo-nazis que integram dois batalhões do Exército Islâmico – facto real mas menos referido – que nesse país lutam contra os separatistas ucranianos. Será de lembrar que a Crimeia só integrou em 1954, por decreto, a República Soviética da Ucrânia. Foi sempre uma região autónoma onde a população russa é maioritária. Tem um enorme interesse estratégico para a Rússia que tem lá instalada uma poderosa base militar no que é o seu único acesso ao Mediterrâneo. É uma evidência que se a Crimeia não tivesse, por referendo, retornado à Federação Russa, a esquadra do Mar Negro russa seria rapidamente expulsa, fechando de forma impetuosa o cerco que se tem vindo a fazer à Rússia depois da desagregação da União Soviética, o que explica esta disputa e o interesse na Ucrânia e na Crimeia, a ordem é comutativa, para o Ocidente. Outra evidência é que a Rússia, conhecendo bem a região, sabendo muitíssimo bem que a população russa e russófona era largamente maioritária, recorreu ao referendo para legalizar o retorno da Crimeia à situação de região autónoma, estatuto que tinha desde o tempo dos czares.
Sublinha «a presença militar na Moldávia e Geórgia». Comparar a presença militar na Moldávia e na Geórgia com as bases da NATO que já existiam e as que, depois do fim da guerra fria, foram implantadas à volta da Rússia, é, no mínimo, extraordinário. Na Europa, são 50 as bases da NATO em doze países que aceitaram que aí fossem instaladas e armazenadas armas nucleares. Há que referir que a presença russa na Geórgia localiza-se nas regiões autónomas associadas a esse país que reivindicam e querem manter autarcia. Para a anular foram invadidas a mando de Mikhail Saakashvili, na altura presidente da Geórgia, um amigo do Ocidente. Um personagem que iniciou a carreira política no Instituto de Direitos Humanos na Noruega, antes de se candidatar e ser eleito presidente da Geórgia contra Eduard Shevardnadze, figura de proa da perestroika mas apesar disso menos confiável para o Ocidente, em eleição com números que deveriam e provocaram inúmeras dúvidas, tudo atirado para debaixo do tapete por Saakashvili ser um pró-americano convicto. Decidiu invadir a Abcássia e a Ossétia que recorreram à Rússia para defenderem o seu estatuto. Saakashvili é hoje um apátrida. Acusado de inúmeras fraudes, fugiu da Geórgia para se albergar na Ucrânia, refugiando-se nos braços amigos de Poroschenko que, depois de lhe conferir a nacionalidade e a governação de Odessa, acabou por o expulsar e retirar a nacionalidade. Tudo gente da mesma estirpe. Não se sabe, mas é bastante provável, que continue a receber os favores da NATO de que é ardente apologista.
Fala de «a ingerência nas eleições ocidentais». Acusação curiosíssima que ou é um atestado de estupidez às populações desses países ou é a admissão que dezenas de anos de agressão comunicacional, de mentiras e semi-verdades, esclerosaram tanto a esmagadora maioria dos povos submetidos ao pensamento dominante até os fazer perder sentido crítico, pelo que são facilmente manipuláveis tanto por uns como por outros. Um bom exemplo são os media corporativos não questionarem Jens Stoltenberg sobre nenhuma dessas suas considerações, um atestado de idiotia a quem as ouve, feitas com o cinismo de quem sabe que não será desconfortado por uma plateia subserviente.
Sublinha «o envolvimento na guerra na Síria». Um pedregulho no sapato. Andam os EUA e os seus aliados da NATO a invadir o Iraque, a plantar primaveras árabes com os resultados conhecidos, a olhar para o lado para não verem a catástrofe humana brutal que acontece no Iemen, a apoiar o rei da Arábia Saudita e os emires seus amigos que fazem Bashar el-Assad parecer um democrata, a inventar, financiar e armar uma oposição democrática moderada síria, uma ficção que é uma porta escancarada para financiar e armar o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e mais uns tantos grupos de igual quilate que espalham o terrorismo localmente e pelo mundo e a Rússia decide intervir, a pedido do governo sírio, para combater o terrorismo. Não é admissível, há que condenar quem trama o terrorismo amigo da NATO. Stoltenberg é espaldado por Boris Johnson, ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, um dos principais fornecedores de armas à Arábia Saudita que delas tem feito uso intensivo no Iemen, que tem o desaforo de dizer que «há uma relação directa entre a indulgência manifestada por Putin para com as atrocidades cometidas por Bashar-el-Assad na Síria e o Estado russo não ter dúvidas em usar uma arma química em território britânico». Não se exime a atribuir culpas directas a Putin mas cobardemente acrescenta que é «muito provável». Insinua mas não assume. Gente deste calibre confia na impunidade de mentir mesmo que sejam refutados sem remissão como o fez recentemente Boris Johnson garantindo que os cientistas de Porton Down, onde estão a ser feitas análises ao agente utilizado no envenenamento de Skipral e filha, o tinham informado em termos categóricos de que «não havia dúvidas» de a Rússia estar na origem do agente nervoso usado. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha publicou um tweet corroborando o seu chefe. Tudo se desmoronou quando os cientistas de Porton Down vieram a público dizer exactamente o contrário de Boris Johnson, desmentindo-o em toda a linha. O ministério apagou rapidamente o tweet. Boris Johnson ainda nada disse, mas de um vendilhão de vigésimos premiados tudo é de esperar. Está condenado a esconder-se dentro de um caixote de lixo de onde a história não o resgatará, até lá vai vendendo banha da cobra.
Cenas dos próximos capítulos
Enquanto se aguardam as próximas cenas, a Rússia tem enviado uma série de perguntas à Inglaterra, França e NATO, que continuam sem resposta.
Esta gente, que andou pelo Norte de África e Médio-Oriente a espalhar a morte e a destruição, a matar e a destruir a vida de milhões de pessoas na base de mentiras e meias-verdades, está convencida que dezenas de anos a controlar e manipular a informação lhes permite continuar a martelar nas cabeças que julgam todas formatadas, prontas a aceitar sem questionamentos qualquer coisa que lhes seja vendida mesmo se embrulhada em papel manhoso. Estão à beira de um ataque de nervos por verem as suas criminosas políticas irem por água abaixo na Síria, os terroristas amigos a ser derrotados. Não os preocupa nem nunca os preocupou que o regime de Assad fosse ou seja opressivo. O verdadeiro crime da Síria é a sua independência em relação aos EUA, seus aliados da NATO e a Israel. Num mundo que os EUA querem, com o apoio dos seus aliados, dominar o que lhes é intolerável é que um país, independentemente da sua dimensão, poder económico, político ou militar, se manifeste soberano e autónomo, não se vergue aos seus ditakts.
Clama o secretário-geral da NATO que a Rússia «apagou a linha entre a paz, a crise e a guerra». Proclamação de um terrorista verbal que procura um pretexto para passar à acção. Um ventríloquo dos trump’s & companhia, nas suas variegadas versões, de hoje como foi dos de ontem e será dos próximos, capaz de negar todas as evidências para vender cenários de guerra que a propaganda ocidental travestida de informação vende diariamente em doses maciças para originar uma histeria colectiva cega.
Esperar pelos resultados de uma investigação credível não interessa às theresasmays & companhia. Aliás, no ponto que se atingiu, nem parece possível uma averiguação rigorosa. Segue o caminho de outros inquéritos ditos independentes em que algumas das partes interessadas, portadoras de informações importantes, são exiladas para não perturbarem as conclusões que circulam pelos media de modo a não possibilitar que se separe a verdade da mentira. Lembre-se, é sempre bom soprar as brasas da memória para iluminar as situações, o que se passou com Viktor Ioutchenko. Em 2004, todo o Ocidente vociferou contra a cumplicidade da Rússia na tentativa de envenenamento do candidato pró-ocidental por ucranianos seus adversários. Estranhamente ou não, Ioutchenko eleito presidente, com todo o aparelho de Estado à sua disposição, não mexeu uma palha para investigar e acusar quem o tinha tentado envenenar. Porquê? A questão é, como diria Sherlock Holmes ao seu caro Watson, num crime a primeira pergunta é quem é beneficiado. A histeria colectiva dentro e fora da Ucrânia foram forte suplemento para a eleição de Ioutchenko. Objectivo alcançado, deixou de ter interesse apurar a verdade.
Como disse Harold Pinter, ao receber o Prémio Nobel da Literatura em 2005, «existe uma manipulação do poder à escala mundial, se bem que mascarando-se como uma força para o bem universal, um esperto, mesmo brilhante, acto de hipnose altamente conseguido». É o que contumazmente tem acontecido em dezenas de anos praticando acções que seguem os princípios da Rainha de Copas na Alice no País das Maravilhas: «Condene-se primeiro, investigue-se a seguir». Os resultados são trágicos, com milhões de vitimas inocentes. Como dizia um personagem do filme de João César Monteiro Le Bassin de John Wayne, «hoje, os novos fascistas apresentam-se como democratas».
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui