Portugal, «através do seu governo», manifestou «a sua compreensão pelas razões e a oportunidade» da intervenção «de três amigos e aliados» contra alvos na Síria que acobertam «armas proibidas», declarou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na manhã de sábado. A declaração, proferida em nome dos portugueses, revela concordância com um acto de guerra contra um Estado soberano, cometido sem mandato das Nações Unidas e sem que haja quaisquer provas do pretexto invocado pelos agressores, uma vez que a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) está no terreno mas não iniciou ainda a sua missão de apuramento dos alegados factos.
Navios de guerra norte-americanos, apoiados pela aviação dos Estados Unidos, do Reino Unido e França, efectuaram um ataque com mísseis de cruzeiro contra a Síria, um Estado soberano, direccionado prioritariamente contra as regiões de Damasco e Homs. A operação decorreu durante cerca de hora e meia, entre a 1h42 e as 3h10 de sábado (hora de Lisboa). Os autores desta agressão militar cometida à revelia da Carta das Nações Unidas, e sem qualquer mandato da organização, invocam como pretexto um suposto ataque com armas químicas na localidade de Douma, em Ghouta Oriental, em relação ao qual não existe qualquer prova independente. A operação militar contra a Síria antecipou-se em algumas horas ao início da missão de investigação a realizar pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) no cenário do alegado atentado. Os enviados da OPAQ, entretanto, já informaram que prosseguirão a sua missão.
Os autores da agressão militar contra Damasco e Homs dispararam 103 mísseis de cruzeiro Tomahawk a partir de três navios de guerra norte-americanos deslocados para a região. O número de engenhos duplica os disparados há um ano contra uma base militar síria, como «retaliação» contra um ataque químico cuja autoria – não existem hoje dúvidas – partiu de grupos terroristas apoiados pelos países ocidentais que agora cometeram a agressão. De acordo com fontes concordantes, 71 dos 103 mísseis, quase 70 por cento, foram derrubados pelas forças de defesa da República Árabe Síria antes de atingirem os alvos.
Desde 1991, altura em que os Estados Unidos iniciaram as tentativas para impor a instauração da unipolaridade mundial como sucessora da guerra fria, as forças armadas norte-americanas dispararam 2145 mísseis de cruzeiro no âmbito da sua reformatação do mundo. Os alvos atingidos situam-se nos seguintes países: Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Sudão, Iraque, Líbia, Afeganistão e Síria.
No momento em que anunciou a realização do ataque, o presidente dos Estados Unidos convidou os seus concidadãos a «rezarem pelos nobres guerreiros enquanto cumprem a sua missão» e «para que Deus traga conforto aos que sofrem na Síria».
Os Estados Unidos anunciaram oficialmente que nenhum dos mísseis disparados tinha alvos situados nas zonas da Síria onde permanecem militares e equipamentos das forças armadas russas. A Rússia, porém, não foi notificada do ataque – quebrando-se as normas de segurança acordadas entre os dois países.
Para a Rússia, trata-se de um «acto de agressão»
O presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, qualificou a operação como «um acto de agressão» e «contra o direito internacional», pois foi executado sem mandato da ONU e violando a Carta da organização.
O embaixador da Rússia em Washington, Anatoly Antonov fez declarações no mesmo sentido e acrescentou que o acto «não ficará sem resposta». Tratou-se de uma acção pré-estabelecida, disse. Além disso, «o maior possuidor mundial de armas químicas não tem qualquer legitimidade para julgar e penalizar os outros» invocando situações afins.
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