|Síria

Rússia: ataque favorece grupos terroristas

Se Moscovo lamentou que os agressores não tenham ouvido os «apelos ao bom senso», a embaixadora dos EUA junto da ONU, Nikky Halley, afirmou que «o tempo das negociações com Damasco já passou».

Maria Zakharova acusou as potências ocidentais de «darem asas» aos grupos terroristas na Síria, numa altura em que o EAS conduz, com êxito, «uma ofensiva contra o Daesh, a Frente Al-Nusra e outros grupos terroristas»
Créditos / Sputnik News

O presidente francês, Emmanuel Macron, recusou-se a revelar ao presidente russo, Vladimir Putin, o teor das «provas irrefutáveis» que terá em seu poder sobre as responsabilidades de Damasco no suposto ataque químico em Douma. O episódio foi revelado pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov. Segundo a mesma fonte, na conversa entre os dois presidentes foi acordado o envio de especialistas franceses para investigar a situação na zona do alegado ataque químico; desde então, porém, Paris não estabeleceu mais qualquer contacto nesse sentido.

A agressão da madrugada de sábado contra a Síria foi realizada por três contratorpedeiros da marinha norte-americana, com apoio de aparelhos das forças aéreas dos Estados Unidos e Reino Unido. Os 103 mísseis de cruzeiro foram disparados dos navios de guerra USS Donald Cook, USS Porter e USS Higgins a partir de águas do Mediterrânio. No apoio aéreo participaram, designadamente, bombardeiros B1 norte-americanos e quatro aviões Tornado GR4s britânicos.

De acordo com as declarações oficiais de responsáveis das três potências agressoras, os alvos escolhidos para a operação militar foram laboratórios científicos e instalações de fabrico e armazenamento de armas químicas situadas numa região a ocidente da cidade de Homs. Segundo as informações oficiais sírias, foram atingidos as seguintes estruturas: o Centro de Investigação Científica de Barzah, nas imediações de Damasco, que integra estabelecimentos escolares e laboratórios científicos; a base aérea de Dumayr, 40 quilómetros a leste de Damasco, contra a qual foram disparados 12 mísseis de cruzeiro, todos abatidos pelas defesas sírias; a base militar de Mezzeh, na Grande Damasco; a base aérea de Monte Qasion; instalações militares nas imediações de Al-Ruhaybe e Al-Kiswa.

O responsável trabalhista britânico Jeremy Corbyn, que nos últimos dias pedira à primeira-ministra, Theresa May, que convocasse o Parlamento para debater uma eventual agressão à Síria, condenou oficialmente o ataque. «As bombas não salvam vidas, nem trazem a paz», disse.

O Ministério da Defesa da Rússia, através da sua porta-voz, Maria Zakharova, considera que o ataque das potências ocidentais contra Damasco e Homs faz parte da estratégia para derrubar o governo sírio. «O ataque vem permitir aos grupos terroristas actuando na Síria que continuem em acção numa altura em que as forças regulares sírias conduzem, com êxito, uma ofensiva contra o Daesh, a Frente Al-Nusra (Al-Qaeda) e outros grupos terroristas», disse Zakharova. Ainda segundo a porta-voz do Ministério da Defesa, «existem boas razões para crer» que o momento escolhido para o ataque tem o intuito de dificultar as investigações dos inspectores da OPAQ em Douma.

O secretário-geral da ONU incitou as «partes em conflito» na Síria à «contenção», agora que os enviados da OPAQ já chegaram a Douma, como se não tivesse havido agressores e agredidos na madrugada de sábado. António Guterres quebrou assim o comprometedor silêncio em que se tinha mantido perante a violação da legalidade internacional cometida por três membros permanentes do Conselho de Segurança, e só no momento em que se iniciou uma reunião de emergência deste órgão, na tarde de sábado.

Na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, convocada de emergência para debater a agressão à Síria, a Rússia começou por apresentar uma proposta de resolução condenando o ataque. O embaixador de Moscovo, Vassily Nebenzia, lamentou que os agressores não tenham ouvido os «apelos ao bom senso» emitidos de numerosos lados. A embaixadora dos Estados Unidos, Nikky Halley, declarou que «o tempo das negociações com Damasco já passou».

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