A greve de 24 horas que os trabalhadores da CarrisTur estão a realizar hoje, com uma adesão que ronda os 80%, insere-se num conjunto mais amplo de paralisações que os trabalhadores aprovaram em plenário, no início deste mês: greves de 24 horas nos dias 23, 24 e 30 de Dezembro e 1 de Janeiro, e de duas horas por turno entre os dias 25 e 30 deste mês.
Nos últimos dias, os trabalhadores distribuíram panfletos – escritos em português, inglês, castelhano e francês – a alertar os turistas e a população em geral para o «roubo parcial do seu salário», para a greve e os eventuais transtornos causados, pelos quais responsabilizam a administração da empresa e o Governo.
Hoje, por volta das 13h, um dirigente do Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP/CGTP-IN) disse ao AbrilAbril que metade dos autocarros de turismo estava parada, registando-se uma adesão de cerca de 50% dos trabalhadores à greve.
Sobre a ligação entre os terminais 1 e 2 do Aeroporto Humberto Delgado, que também é assegurada pela CarrisTur, o dirigente sindical disse que a adesão era total e sublinhou que, aqui, a Lei da Greve estava a ser violada, na medida em que a Carris estava a colocar as suas viaturas à disposição para garantir a ligação entre os terminais, «ilegalmente».
«Insensibilidade do Governo»
Em causa estão «o roubo dos salários imposto aos trabalhadores da empresa desde o passado mês de Fevereiro», o facto de o Governo «nada ter feito para resolver o problema» e de «nada ter feito para garantir o reconhecimento da dívida aos trabalhadores no corrente ano», lê-se numa nota da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans/CGTP-IN), intitulada «Os trabalhadores da CarrisTur não se governam só com a razão».
A federação sindical sublinha que, tendo em conta a «insensibilidade do Governo», aos trabalhadores não restou outra alternativa senão avançar para a greve, num momento em que «aquilo que [lhes] é devido já é superior a mais de um mês de salário». Ou seja, «em virtude deste roubo», numa «parte do mês de Novembro e no mês de Dezembro os trabalhadores estão a trabalhar de borla, numa empresa da responsabilidade e tutelada pelo Governo», salienta a Fectrans.
No texto lê-se ainda que «esta situação fica mal num Governo cujo primeiro-ministro diz que quer combater um modelo assente em baixos salários e na precariedade, mas que recusa o aumento do salário de 570 para 630 euros, conforme o CCTV [contrato colectivo de trabalho vertical] sectorial, que a administração diz que é o que se aplica na empresa».
Irá o Governo autorizar?
No dia 12 de Dezembro, o PCP dirigiu uma pergunta escrita ao Governo, na Assembleia da República, na qual se expõe que, desde Fevereiro de 2016, a administração da CarrisTur se recusa a «aplicar os efeitos da renegociação do CCTV da ANTROP [Associação Nacional de Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros]», ou seja, «reduziu o salário daqueles trabalhadores dos 630 euros pagos em Janeiro para os 560 euros».
«O próprio Conselho de Administração reconhece a justiça das reclamações dos trabalhadores, e coloca-se a questão da tutela/Ministério das Finanças para continuar a não se cumprir parte do CCTV assinado entre a ANTROP e o STRUP/CGTP-IN», lê-se no texto.
O PCP entende que a «reposição do primado da contratação colectiva para o Sector Empresarial do Estado efectuada pelo Orçamento do Estado para 2017 deveria ter na CarrisTur uma consequência concreta e imediata». Neste sentido, os comunistas perguntam ao Governo se este irá «autorizar a Administração da CarrisTur a pagar os salários dos trabalhadores de acordo com o CCTV aplicado na empresa» e se o Executivo dará orientações para que a administração «inicie um processo de discussão de um Acordo de Empresa para a CarrisTur», tal como é exigido pelos trabalhadores.
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