Estudo revela intenções de accionistas privados da TAP

O estudo pedido pelos accionistas privados da TAP confirmam as intenções na reestruturação da TAP que vão de encontro à sua descaracterização. Está na mira a redução de custos, nomeadamente em relação aos trabalhadores.

O plano de reestruturação da TAP continua a trazer várias preocupações aos trabalhadores
CréditosDean Morley / CC BY-ND 2.0

Foi tornado público o documento «Project RISE: Transformar a TAP numa mais eficiente e ágil companhia aérea de bandeira», encomendado por David Neeleman (uma das caras do consórcio Atlantic Gateway que detém 45% da TAP) à consultora americana Boston Consulting Group. Este é um documento que confirma um plano de intenções dos accionistas privados para o processo de reestruturação da TAP que está em curso, para o qual os trabalhadores, através do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos, já haviam alertado e exigido medidas ao Governo, tendo em conta que o Estado detém 50% da TAP.

O documento aponta na sua matriz eixos como a redução da TAP, o que parece ter encapotado a transformação total ou parcial da TAP numa low cost. Mesmo reconhecendo que a companhia aérea tem uma boa posição competitiva face a outras companhias de bandeira, define como prioridade competir com as low cost. Nesta linha, nota-se uma sobrevalorização de hipotéticas reduções de custos, ignorando as perdas de receita que a descaracterização da TAP poderá trazer.

«Melhorar», reduzindo trabalhadores e remunerações

O estudo divide em sete áreas as «oportunidades para melhorar»: tripulações, passageiros e comercial, handling, manutenção, custos da frota, taxas e outros custos.

Na área das tripulações, a ideia é reduzir em 50/70 milhões de euros a remuneração dos trabalhadores, através da renegociação dos Acordos de Empresa, da redução das tripulações aos mínimos permitidos internacionalmente, da redução dos tempos de descanso (diminuindo os custos com os alojamentos das tripulações no exterior), do aumento da polivalência, da redução muito significativa da parte fixa dos salários e promovendo a saída «voluntária» dos trabalhadores mais caros.

Na área de passageiros e comercial, aponta-se para reduzir 40/65 milhões de euros nos custos, através da redução do nível de serviço (reduzindo refeições, eliminando os jornais e os brindes), da redução da estrutura de vendas, da redução do preço pago à Cateringpor (colocando em risco o futuro desta), e da redução de trabalhadores nas vendas (em mais de 300 postos de trabalho).

«Na área das tripulações, a ideia é reduzir em 50/70 milhões de euros a remuneração dos trabalhadores, através da renegociação dos Acordos de Empresa»

No sector do handling, a proposta é renegociar o contrato com a Groundforce, procurando a redução dos custos, apontando para níveis superiores de self-service (no check-in e no boarding) e apontando para o self-handling na área de passageiros de Lisboa.

Na manutenção, o estudo valoriza a Manutenção Brasil e aponta para o fim da Manutenção Portugal. É notório quando o documento remete para: a separação entre a TAP e a sua Manutenção e Engenharia Portugal; para um crescente recurso ao outsourcing; o questionamento do futuro da oficina de motores em Portugal; a previsão da transferência de mais trabalho para o Brasil, nomeadamente de toda a frota de longo curso da TAP; a possibilidade da Manutenção e Engenharia do Brasil prestar ainda mais ao serviço à Azul (detida por David Neeleman).

No que diz respeito a outros custos, aponta-se para uma brutal redução de trabalhadores na Megasis, superior a 50% dos efectivos, e ainda consideram a possibilidade de alienar a UCS (Cuidados Integrados de Saúde, S.A, que tem a finalidade de prestar serviços na área da saúde às empresas do Grupo TAP, aos trabalhadores e familiares, e a terceiros) e as LFP (Lojas Francas de Portugal, SA).

Revelando as intenções do adjudicante, o estudo faz ainda um levantamento das possibilidades a utilizar para reduzir os postos de trabalho: despedimento «voluntário»; pré-reforma; reforma antecipada; não renovação dos temporários; redução do tempo de trabalho; licença sem vencimento; despedimento por extinção do posto de trabalho; despedimento com justa causa; e o despedimento colectivo 30 meses depois da privatização. E aponta a vontade de reduzir os níveis de progressão na carreira que existem actualmente na empresa. Desta forma, a consultora revela a necessidade de definir uma «estratégia para os sindicatos».

O PCP já exigiu do Governo o urgente esclarecimento das preocupações que o estudo agora revelado levanta, pelo que já dirigiu ao ministro da tutela um requerimento urgente.

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