«Esta obrigação, mais uma, está a provocar forte descontentamento nos exaustos enfermeiros, muitos a trabalhar dias seguidos sem folgar e com turnos de 12h, para poder dar resposta a actividades Covid e ainda à actividade assistencial, já de si limitada», afirma o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN), através de comunicado.
A estrutura sindical lembra que, no mês de Julho, outra orientação da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve impunha direccionar os recursos para a vacinação massiva e o atendimento aos utentes Covid, bem como a redução, se necessário, da actividade clínica, mantendo o atendimento dos utentes agudos, entre outros.
Neste sentido, o SEP interroga-se sobre «quais são afinal as prioridades da ARS Algarve», ao mesmo tempo que denuncia a existência de lesões músculo-esqueléticas e situações de esgotamento, «que estão a levar os enfermeiros a ficar de baixa médica».
Numa concentração esta terça-feira, o SEP exigiu que o Governo passe a contrato efectivo «mais de 2000 profissionais» com vínculos precários e acusou a tutela de não dar a «estabilidade necessária» ao SNS. A concentração de enfermeiros à porta do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, teve como objectivo exigir a efectivação dos contratos precários. «A pandemia veio exaltar a falta de profissionais. Continuamos a ver horários de 12 horas consecutivas. Continuamos a verificar que há colegas que querem gozar férias e não podem. Continuamos a ver os nossos colegas a querer acompanhar os filhos menores, mas por falta de pessoal não podem», disse Fátima Monteiro, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN) aos jornalistas, acrescentando que os direitos são postos em causa apesar de todos os profissionais com vínculos precários serem necessários ao normal funcionamento das unidades de saúde. «A pandemia não suspende direitos», «O país tem 2000 enfermeiros na precariedade» ou «SNS não é só pandemia» eram algumas das frases das faixas e cartazes que ilustraram a concentração. Inês Fardilha, enfermeira há dois anos e a trabalhar no Hospital Pedro Hispano desde Maio ao abrigo dos chamados «contratos Covid-19», contou à Lusa que o seu contrato termina este mês e se nada for feito ficará desempregada e a «fazer falta a um SNS que precisa de todos». Fátima Monteiro explicou que no que diz respeito ao Hospital Pedro Hispano existem 102 enfermeiros com contratos a termo ao abrigo das contratações extraordinárias por causa da Covid-19, aos quais se somam 28 com contratos de substituição. «Exigimos opções políticas que de uma vez por todas acabem com a incerteza nos serviços. Para os hospitais também é muito complicado. Sei que este conselho de administração já fez todas as iniciativas possíveis para que o Ministério lhe dê autorização para efectivar. Alguns reúnem condições, mas há um volume muito significativo que fica com a sua situação por resolver», disse Fátima Monteiro. «Estes profissionais não estão cá para responder a necessidades pontuais. Estão cá para dar resposta a necessidades permanentes, seja Covid-19 ou não. O despacho anterior só resolveu a situação de 500 e tal enfermeiros, deixando 2000 a nível do País com vínculo precário», disse Fátima Monteiro. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Governo «fomenta precariedade» entre os enfermeiros
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O sindicato revela que, numa reunião com a ARS, foi confirmado que a resposta aos postos de praia seria dada com recurso a horas extraordinárias e mobilidade parcial. O problema, adianta, é que também os enfermeiros do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) «estão assoberbados com trabalho».
E depois de muitos não terem gozado férias ao longo do último ano e meio, há enfermeiros a quem lhes foi pedido para suspenderem as férias, apesar da garantia dada pelo secretário de Estado, Lacerda Sales.
O SEP insiste que as instituições algarvias «são co-responsáveis pela manutenção do problema» existente na região pelo facto de não exigirem soluções por parte da tutela, e denuncia que, desde que acabou o estado de emergência e voltou a vigorar a possibilidade de demissão, várias dezenas de profissionais demitiram-se do CHUA, «o que denota bem a insatisfação face às condições de trabalho, mas também à forma como são tratados».
Valorizar a profissão de forma a «fixar os que cá trabalham» e incentivar quem está no estrangeiro a regressar é uma das reivindicações do SEP, a que se junta a criação de condições para poder admitir os alunos que estão prestes a sair das escolas de enfermagem.
Em resposta à denúncia do SEP, a Administração Regional de Saúde do Algarve justificou que até agora «só abriu sete» dos 30 postos de assistência nas praias. O sindicato reage e diz que esta é mais uma tarefa que se junta às muitas que já estão na esfera de accção dos enfermeiros e que não é possível responder a tudo.
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