Este é já o sexto protesto que os trabalhadores da Celcat se vêem obrigados a fazer este ano, mas nem por isso a adesão diminuiu. Luís Santos, dirigente do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas (SIESI/CGTP-IN), fala de uma «unidade extraordinária», vincando que os trabalhadores «não arredam pé».
A decisão de avançarem para a greve parcial foi novamente tomada em plenário. Desde as 0h30 de hoje até à mesma hora do dia 28 de Outubro, haverá paralisações de quatro horas por turno – duas horas ao início e duas horas ao fim de cada turno.
Entre as dificuldades que os trabalhadores enfrentam, e que servem de suporte ao protesto, está a exigência de aumentos salariais. Luís Santos denuncia que, fazendo o somatório dos pequenos aumentos verificados ao longo de dez anos, não se consegue contabilizar 20 euros.
Os trabalhadores acusam, no entanto, a empresa de discriminação, pelo facto de a política de aumentos reduzidos não se ter aplicado a «um grupo restrito» de funcionários.
Por outro lado, contestam a ilegalidade do horário praticado, de seis dias com laboração de sete horas seguidas no primeiro turno, sem pausa para descanso ou refeição. «Já sabemos a penosidade que é trabalhar no turno da madrugada, mesmo assim ainda trabalhamos mais um dia e sem pausa para refeição», denuncia Luís Santos.
O dirigente sindical revela que a ilegalidade do horário de trabalho motivou a apresentação de uma queixa à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) em 2014. A ausência de resposta obrigou a nova queixa no início deste ano.
«Entretanto, já tivemos uma reunião e, apesar de não nos terem dado ainda o parecer, já nos transmitiram que os trabalhadores têm razão e que a empresa vai ser autuada porque está em incumprimento», revela.
A discussão entre a CelCat e o seu pessoal decorreu ao longo do último ano no Ministério do Trabalho. Perante a impossibilidade de chegarem a um consenso, os trabalhadores esperam agora que a ACT seja rápida a anunciar o parecer para que, admite Luís Santos, «se a empresa não alterar o horário de trabalho, possamos utilizar as ferramentas que estiverem ao nosso alcance».
A revisão de cláusulas referentes a férias, o pagamento do trabalho complementar, subsídios de alimentação e anuidades contidas no Acordo de Empresa integram também o conjunto de reivindicações.
«Está a ver o tipo de repressão que a gente sofre»
Além de não verem respeitados os direitos laborais, os trabalhadores da empresa de cabos eléctricos vêem-se a braços com uma série de repressões que por sua vez motivam a entrada de acções em tribunal.
Hoje foi dia de vitória para um dos funcionários, que havia sido penalizado com falta injustificada e com perda salarial por causa do tempo investido na comissão de trabalhadores. «Por mais que a gente tenha dialogado com a empresa, ao fim de um ano tivemos que ir para tribunal. Hoje chegaram a acordo, tiveram que pagar ao trabalhador e retirar a falta injustificada», frisa Luís Santos.
Acrescenta que existem outros casos pendentes em tribunal, designadamente o de um trabalhador da comissão sindical que também foi penalizado. «A acção já entrou em tribunal e vamos lá no dia 2 de Novembro». Esclarece o dirigente sindical que, «no dia da greve, no ano passado, retiraram-no da laboração contínua, ficando com uma penalização de 30% no ordenado, e retiraram-no também da máquina onde trabalhava há 16 anos».
O caso mais recente aconteceu aquando da greve realizada em Setembro. Luís Santos conta que o director fabril foi «à casa de banho abrir as portas e chamar os trabalhadores que lá estavam», ou seja, aqueles «com vínculo precário, que não são efectivos e que por isso não fizeram greve». «Está a ver o tipo de repressão que a gente sofre», conclui.
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