Trabalhadores da hotelaria do Norte lutam por melhores salários

O Sindicato da Hotelaria do Norte promoveu ontem, junto ao Hotel Ipanema Park, no Porto, a primeira de várias iniciativas por aumentos salariais, contra a precariedade e em defesa dos direitos.

O Sindicato da Hotelaria do Norte promoveu ontem uma iniciativa à entrada do Hotel Ipanema Park, no Porto
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O Sindicato da Hotelaria do Norte (Fesaht/CGTP-IN) deu ontem início a um conjunto de acções que visam denunciar, à porta dos hotéis, restaurantes, cafés e pastelarias da região, o não aumento dos salários, a grande precariedade e a forte exploração existentes no sector, bem como a violação dos direitos dos trabalhadores.

As iniciativas passam pela distribuição de comunicados em português e em inglês, e pela recolha de assinaturas dos clientes, num abaixo-assinado que depois é enviado por fax à empresa. Assim ocorreu ontem, na primeira destas acções, que teve lugar à entrada do Hotel Ipanema Park, uma unidade hoteleira que, como as restantes do grupo Fênix, não aumenta os salários dos trabalhadores há mais de cinco anos.

Em declarações à comunicação social, o dirigente sindical Francisco Figueiredo sublinhou que os patrões estão a aumentar os proveitos, mas não estão a reduzir os preços aos clientes, e estão a fazê-lo «de costas voltadas para os trabalhadores, que são o que lhes dão lucro, que são o que produz».

Referindo-se ao Ipanema Park, Francisco Figueiredo recordou que o hotel não dá aumentos salariais desde 2011. Emprega 100 trabalhadores, «que levam para casa cerca de 500 euros», disse, acrescentando que nem mesmo com a descida do IVA de 23 para 13% os patrões se mostraram disponíveis para aumentar os salários – com os preços a aumentarem tanto no alojamento como na restauração, denunciou.

Exploração num sector a crescer

Numa nota, o sindicato destaca que o sector da hotelaria tem vindo a crescer sucessivamente desde 2013, com um aumento enorme de hóspedes e dormidas. A taxa de ocupação por quarto da hotelaria nacional aumentou em Maio face ao período homólogo de 2015, atingindo os 78,2%, com este aumento a ser mais acentuado nas unidades de cinco estrelas, segundo anunciou a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) também apontam para um crescimento no sector: em Maio deste ano, os estabelecimentos hoteleiros registaram 1,8 milhões de hóspedes e cinco milhões de dormidas, correspondendo a aumentos de 5,1% e 7,8%, respectivamente. Os proveitos totais aumentaram 15,8%.

Os preços já ultrapassam os praticados antes da crise de 2008, o que leva o Sindicato da Hotelaria do Norte a reafirmar que os patrões querem igualar os preços em Portugal às principais cidades europeias, em particular a Barcelona e Madrid, mas deixando para trás os trabalhadores, de costas voltadas para quem produz a riqueza e lhes dá o lucro. Por isso, advoga que a igualdade dos preços deve igualar ao mesmo tempo os salários.

Outro elemento destacado pelo sindicato é o facto de a redução do IVA para 13% não ter conduzido à criação de emprego de qualidade no sector. Ao invés, registam-se jornadas de trabalho diárias de 10 e 12 horas, sem pagamento do trabalho suplementar; e há trabalho não declarado, numa clara violação dos direitos dos trabalhadores.

Foram poucos os hotéis e restaurantes que aumentaram os salários, devido à pressão sindical e dos trabalhadores, mas, mesmo assim, estes continuam muito baixos, criticou o sindicato, que irá continuar a lutar até que a Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT) reconsidere a sua posição.

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