É difícil encontrar alguma coisa positiva por entre todas as consequências directas do encerramento da Refinaria do Porto, em Matosinhos, há exactamente um ano. E a primeira foi logo o despedimento de centenas de trabalhadores da empresa, «empurrados para o desemprego com alegadas rescisões por mútuo acordo ou em forma de despedimento colectivo».
Em comunicado, enviado ao AbrilAbril, a Comissão Central de Trabalhadores (CCT) da Petrogal relembra ainda que outros «milhares de trabalhadores de empresas prestadoras de serviço ficaram desempregados», atirando centenas de família para uma situação extremamente precária.
Os trabalhadores da refinaria de Matosinhos garantem que vão lutar «até ao fim» pelos postos de trabalho e enfrentar o despedimento colectivo, decidido pela Galp, depois de concentrar a operação em Sines. «Fomos [comissão de trabalhadores] mandatados para levar a cabo qualquer iniciativa na defesa intransigente dos postos de trabalho», revelou à Lusa o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (SITE Norte/CGTP-IN), Telmo Silva. O sindicalista falava no final de um plenário de trabalhadores que decorreu esta segunda-feira nas instalações da refinaria em Matosinhos, no distrito do Porto. A Galp decidiu concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos, dando início a um despedimento colectivo de cerca de 150 trabalhadores. A petrolífera justificou a «decisão complexa» de encerramento da refinaria de Matosinhos com base numa avaliação do contexto europeu e mundial da refinação, bem como nos desafios de sustentabilidade, a que se juntaram as características das instalações. «Querem tirar-nos tudo, mas nós não baixamos os braços e vamos continuar a lutar até ser possível», garantiu Telmo Silva. O sindicalista contou que, na semana passada, terminaram as conversas com o Ministério do Trabalho, onde ficou claro que a «intenção» da Galp é o despedimento colectivo. «Ao fim de quatro reuniões, a empresa mostrou nunca querer negociar, rejeitando todas as soluções apresentadas», vincou. Telmo Silva adiantou que vão reunir hoje com o ministro do Ambiente, em Lisboa, para exigirem uma solução para os trabalhadores. Desde o anúncio do encerramento da refinaria, em Dezembro passado, a luta dos trabalhadores tem mostrado que se está a assistir à destruição do aparelho produtivo nacional e ao aumento da dependência externa. A administração da Galp consumou, esta sexta-feira, o encerramento da refinaria de Matosinhos com a paragem da laboração. O País passará, a partir de hoje, a importar o alcatrão necessário para as suas estradas, bem como os óleos base, as ceras e os aromáticos. O Governo, a Galp e a União Europeia têm alimentado a ilusão de que esta decisão serve objectivos ambientais. No entanto, o facto de o País passar a importar o que hoje produz não altera em nada a emissão global de gases com efeito de estufa. Pelo contrário, esta decisão contribuirá para aumentar a produção desses gases pelo acréscimo da necessidade de transporte de um vasto conjunto de mercadorias. A Galp, à boleia da pandemia, tomou a decisão de encerrar a sua refinaria de Matosinhos, cuja consequência é o despedimento directo de mais de 400 trabalhadores e indirecto de cerca de outros mil, referentes a empresas que operam para a refinaria. Uma opção que não resulta nem da defesa do interesse nacional nem do facto de a empresa estar a perder dinheiro, mas sim dos interesses dos seus accionistas, que pretendem fazer outros investimentos mais lucrativos. A não ser travada, esta opção levará à concretização de novas medidas de destruição da capacidade produtiva nacional, capacidade que tem sido defendida pelos que lutam em defesa dos seus postos de trabalho. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O ajustamento operacional traduziu-se na suspensão, desde 10 de Outubro, da produção de combustíveis em Matosinhos e na altura a Galp garantia que o encerramento não teria impacto nos trabalhadores. A consequência desta decisão é o despedimento directo de cerca de 500 trabalhadores e indirecto de outros mil, referentes a empresas que operam para a refinaria. Uma opção que não resulta nem da defesa do interesse nacional nem do facto de a empresa estar a perder dinheiro, mas sim dos interesses dos seus accionistas, que pretendem fazer outros investimentos mais lucrativos. Para este encerramento, Governo e Galp alegam a necessidade de reduzir as emissões de CO2. No entanto, tal não acontecerá se se verificar apenas uma deslocalização da produção, por exemplo para a refinaria da Repsol na Corunha, ligada por um pipeline até à fronteira portuguesa. De outro modo, terá mesmo um efeito contraproducente face à necessidade da utilização de transporte pesado de mercadorias para trazer o combustível. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Trabalhadores não aceitam despedimento colectivo em Matosinhos
Nacional|
Consumado crime contra interesses nacionais
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Desde o encerramento, a Galp já importou «centenas de toneladas de produtos petrolíferos», havendo já mesmo estações de serviço da Repsol a ser abastecidas «directamente a partir de Espanha, via camião-cisterna». «Mais de 20 produtos muito relevantes para a indústria nacional deixaram de ser produzidos em Portugal, apesar da sua valorização vertiginosa neste ano».
Mesmo em termos ambientais, não fica comprovada a ideia de que Portugal beneficiaria em termos ambientais. «A Refinaria do Porto era das mais eficientes em termos energéticos, logo em emissões de CO2 e o seu encerramento pouco ou nada determinou», como fica comprovado pela avaliação da Agência Internacional de Energia, de 2021: «as emissões terão um aumento record de 5% e deverão atingir os valores pré-pandemia do ano de 2019», anterior ao encerramente desta unidade.
Os trabalhadores lamentam que o Primeiro-Ministro tenha decidido remeter-se ao silêncio que já tinha mantido durante os nove meses de total conivência com a administração da empresa, «após um episódio de histerismo eleitoralista», que rapidamente passou. Em Dezembro de 2021, «a questão essencial para a CCT da Petrogal continua a ser a salvaguarda de todos os postos de trabalho, mesmo aqueles já despedidos e que devem ser reintegrados».
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