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Recordar Fernanda Lapa nos 80 anos do seu nascimento

Assinalam-se esta quinta-feira, 11 de Maio, os 80 anos do nascimento da actriz e encenadora Fernanda Lapa, nome maior do teatro e da cultura portuguesa, falecida a 6 de Agosto de 2020.

Fernanda Lapa (1943-2020) na Escola de Mulheres - Oficina de Teatro, onde foi encenadora e directora artística desde a fundação da companhia, em 1995
CréditosJoão Miguel Rodrigues / Escola de Mulheres

Com um importante património de intervenção como actriz, nos palcos, na televisão e no cinema, Fernanda Lapa contribuiu para abrir um novo espaço à mulher no teatro – a encenação – dirigindo actores e trabalhando textos de diversos autores.

Em Março de 1995, Fernanda Lapa criou a Escola de Mulheres/Companhia de Teatro, da qual foi directora Artística, um projecto que envolveu, nomeadamente, Isabel Medina, Chucha Carvalheira e Marta Lapa, e que  abriu um caminho de intervenção para afrontar o papel de subalternidade a que a mulher tem sido reduzida no panorama teatral e privilegiar a criação e o trabalho feminino no teatro.

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Escola de Mulheres leva a palco «O Punho»

A estreia da peça de Bernardo Santareno, esta quinta-feira em Lisboa, concretiza a homenagem ao dramaturgo, nascido há cem anos, e honra «a vontade» da encenadora Fernanda Lapa.

«O Punho» de Bernardo Santareno, pela Escola de Mulheres
CréditosMário Cruz / Lusa

Foi nestes moldes que os actuais directores artísticos da Escola de Mulheres, Marta Lapa e Ruy Malheiro, definiram à Lusa o processo de pôr em palco a versão cénica concebida por Fernanda Lapa, para a peça O Punho, de Bernardo Santareno, «grande amigo» da actriz, encenadora, directora e fundadora da companhia, que morreu no passado dia 6 de Agosto, aos 77 anos.

Fernanda Lapa ultimou a versão cénica da derradeira obra do dramaturgo, durante o primeiro confinamento. E tinha por vontade que a estreia ocorresse no dia do centenário do nascimento do autor, 19 de Novembro. Para a companhia, era uma necessidade «honrar o pedido e a vontade expressa» da mulher que a fundou, há 25 anos.

O desejo de Fernanda Lapa era o de que esta encenação fosse «uma criação colectiva, com os actores a envolverem-se em tudo, desde o acting até às propostas de som e aos figurinos», referiu Marta Lapa.

A «amizade e cumplicidade» que se foi sedimentando entre a actriz e o dramaturgo tiveram início quando conheceu, na adolescência, o psiquiatra António Martinho do Rosário, nome verdadeiro de Santareno, depois de ter realizado «uns testes psicotécnicos que deram uns resultados esquisitos», contou a filha da encenadora.

À amizade com este «ser humano incrível» – como o caracterizou Fernanda Lapa a propósito do Dia Mundial do Teatro, quando coube à actriz ler a mensagem da Sociedade Portuguesa de Autores – não era alheia a ideologia de esquerda e a militância antifascista.

A Reforma Agrária e as mulheres

Escrita por Bernardo Santareno no ano da sua morte (1980), o texto de O Punho viria a ser publicado postumamente, sete anos mais tarde, em 1987.

Os actores construíram uma peça «não panfletária» que «nunca foi o objecto de trabalho da Fernanda», referiu Marta Lapa, mas que acaba por falar de «temas que pautaram o seu trabalho», que estiveram na base da fundação da Escola de Mulheres e que continuam actuais: questões sociais, políticas, de igualdade entre homens e mulheres.

Centrada na Reforma Agrária, a peça O Punho torna-se «absolutamente contemporânea pelas questões que levanta», e porque fala «de um período que historicamente foi branqueado», afirmou Marta Lapa.

«A Reforma Agrária é uma coisa linda que aconteceu no nosso país, e se falarmos com miúdos de 20 anos, poucos sabem o que é», disse. O motor central da acção é a luta de classes no contexto da Reforma Agrária no Alentejo. As duas personagens principais – a camponesa Maria do Sacramento e a latifundiária Mafalda são, simultaneamente, protagonistas e antagonistas.


Na versão cénica que construiu, Fernanda Lapa colocou uma personagem – o Narrador – que não consta da obra de Santareno e que tem um discurso político a favor da Reforma Agrária.

«É a [sua] tomada de posição perante a entrega deste texto e enquanto acto provocador», enfatizou Marta Lapa. «A zona de trabalho da Fernanda foi sempre levantar questões. Mais do que apresentar respostas», acrescentou.

Marta Lapa sublinha ainda a «contemporaneidade» da obra, numa altura em que «o fascismo está aí».

A música e a direcção de coro são de Janita Salomé, «convidado, por motivos óbvios, por Fernanda Lapa», disse a filha da encenadora.

O Punho vai estar em palco até 20 de Dezembro, com sessões de quarta-feira a sábado às 20h e, aos domingos, às 17h, no Clube Estefânia, na Rua Alexandre Braga, em Lisboa. Excepcionalmente, por causa das medidas restritivas, as sessões do próximo fim-de-semana realizar-se-ão na segunda e na terça-feira, dias 23 e 24 de Novembro, às 20h.

Com agência Lusa

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Fernanda Lapa fez do teatro e da cultura uma bandeira de intervenção cívica e política. A actriz assumiu uma intensa actividade em defesa dos direitos das mulheres, tendo sido durante décadas membro do Conselho Nacional do Movimento Democrático de Mulheres (MDM). Enquanto militante comunista, Fernanda Lapa deu também um importante contributo em defesa dos trabalhadores da cultura e pela «concretização do sonho e do projecto de concretizar em Portugal o direito à criação e fruição da Cultura e das Artes em igualdade para todos», conforme a Constituição da República.

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