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Afectadas pelos furacões, milhares de pessoas dormem debaixo da ponte nas Honduras

Com os centros de acolhimento a rebentar pelas costuras, milhares de hondurenhos cujas casas foram danificadas ou destruídas pelos furacões Eta e Iota encontraram refúgio debaixo de viadutos e pontes.

Um grupo de pessoas desalojadas pelos furacões Eta e Iota debaixo de um viaduto em San Pedro Sula, no Norte das Honduras
Créditos / Resumen Latinoamericano

De acordo com a Cruz Vermelha Internacional, 4,2 milhões de pessoas foram afectadas pelos dois furacões consecutivos de categoria 4 nas Honduras, Nicarágua e Guatemala, e centenas de milhares de pessoas encontram-se refugiadas em centros de acolhimento ou em «acampamentos informais», debaixo da ponte.

Só nas Honduras, foram afectadas 3,7 milhões de pessoas – mais de 35% da população do país –, segundo dados da Comissão Permanente de Contingências (Copeco). Os departamentos onde se verifica maior destruição de infra-estruturas são Yoro, Santa Bárbara, Gracias a Dios e Cortés.

É precisamente a capital de Cortés, San Pedro Sula (Norte das Honduras), que regista um maior aumento de pessoas desalojadas após a passagem dos furacões. Os afectados temem que, ao regressar a suas casas, não encontrem nada, refere o Resumen Latinoamericano.

Orlando Antonio Linares supervisiona um centro de acolhimento municipal instalado numa escola de San Pedro Sula, onde se refugiaram cerca de 500 vítimas dos furacões. Em toda a cidade existem 84 centros de acolhimento, que atendem cerca de 100 mil pessoas.

«Tudo o que há não chega», declarou Linares à imprensa, referindo-se à água, à alimentação e aos medicamentos. «Não chega porque é muito evidente a falta [das coisas] depois destes dois furacões», explica.

Outra questão tem a ver com a dificuldade de acolher vítimas de desastres naturais no contexto da pandemia de Covid-19, porque não há espaço suficiente para o «distanciamento social» e poucas pessoas têm máscaras.

Pobres nos centros de acolhimento, outros debaixo da ponte

O casal Rebeca Díaz e José Alberto Murillo e os seus cinco filhos passaram quase duas semanas no centro de acolhimento depois de o seu bairro ter sido inundado, com a passagem do Eta e do Iota.

Dizem que estão ali «esquecidos» e mostram-se mais preocupados com a sua casa do que com o coronavírus, porque não têm meios para «erguer uma casa». Outras vozes, no centro, manifestaram preocupações semelhantes, porque as suas casas continuam inundadas e vêem o «futuro incerto».


Mas há quem esteja em pior situação, indica o Resumen Latinoamericano. Devido à enchente nos centros de acolhimento, muita gente já não conseguiu encontrar lugar, como o operário Jarlin Antonio Lorenzo. Com ele, mais 500 pessoas acampam debaixo de um viaduto nas imediações da cidade.

«Sem casa de banho, vamos ao monte fazer as necessidades», disse, acrescentando: «Aqui as pessoas estão a morrer de fome… Os centros estão cheios.»

A Comissão Económica para a América Latina e as Caraíbas (Cepal) define as Honduras como o país mais pobre de todo o continente. Em Fevereiro deste ano, o Instituto Nacional de Estatística, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial indicaram que cerca de 43% da população hondurenha vive abaixo do limiar da pobreza e tem dificuldades em aceder a bens e serviços essenciais como alimentos, educação, saúde, roupa ou transportes.

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