Em Vado Hondo, departamento guatemalteco de Chiquimula, o forte dispositivo policial e militar destacado pelo governo de Alejandro Giammattei – que na quinta-feira havia decretado o «estado de prevenção» em sete departamentos, dando carta branca para dissolver à força qualquer reunião, grupo ou manifestação pública – empenhou-se a fundo para demover os migrantes hondurenhos de seguir para norte e, em menos de 48 horas, usou bastões e gás lacrimogénio para torcer as vontades.
Antes da segunda carga, na segunda-feira, a Polícia tentou convencer os migrantes a sair do local, mas estes recusaram-se. Seguiram-se confrontos e a forte repressão das forças destacadas, que fez com que a caravana, que entrou na Guatemala entre sexta-feira e a madrugada de domingo, andasse para trás, indica a TeleSur.
A Procuradoria dos Direitos Humanos da Guatemala emitiu um comunicado em que repudiou o uso da força pelo Exército da Guatemala e a Polícia Nacional Civil contra os migrantes provenientes das Honduras, sublinhando que estes «fogem da desigualdade social, da pobreza e da violência, e não podem ser submetidos a um tratamento cruel e desumano em território guatemalteco».
De acordo com o Instituto Guatemalteco de Migração (IGM), mais de 6000 hondurenhos entraram no país de forma ilegal. A grande maioria, esgotada pelo cansaço dos vários dias a andar a pé e pela repressão em território guatemalteco, regressou às Honduras. Ontem, o Exército da Guatemala estimou que apenas 1500 membros da caravana de migrantes hondurenhos ainda permanecessem no país.
Destes – informa a TeleSur –, algumas centenas conseguiram chegar à cidade de Tecún Umán, na fronteira entre a Guatemala e o México, para continuar a viagem para norte. O objectivo é escapar às autoridades dos dois países e atravessar o Rio Suchiate ou passar a fronteira nalgum outro ponto dos 700 quilómetros que ligam o México e a Guatemala.
«O êxodo da desesperança»
Num texto publicado no Resumen Latinoamericano, Giorgio Trucchi, jornalista italiano radicado na América Central, afirma que, «contrariamente ao que muitos pensam, as pessoas que integram estas caravanas que saem das Honduras não perseguem o "sonho americano", mas fogem do pesadelo hondurenho».
«O que há é desespero. Fogem da miséria, da violência, da falta de trabalho. Não podem esperar mais. Preferem enfrentar uma viagem repleta de incógnitas e perigos a ficar nas Honduras», disse Bartolo Fuentes, jornalista e especialista em questões migratórias, citado no texto.
Trucchi lembra ainda que as Honduras, onde governa Juan Orlando Hernández (acusado de ter sido reeleito, em 2017, de forma fraudulenta), são um dos países com maior nível de desigualdade e pobreza na América Latina, e também «um dos mais perigosos para quem defende a terra e os bens comuns», para os jornalistas ou as mulheres, entre outros.
«Muitas das pessoas que foram nesta última caravana perderam tudo com os furacões e estavam a viver em centros de acolhimento ou debaixo das pontes. A maior parte sente-se abandonada, dizem-te que se vão embora porque não há trabalho nem futuro», diz Bartolo Torres.
«Muitas são famílias numerosas com crianças. Também se juntam à caravana nos bairros, nas comarcas, nas aldeias. Custa muito ver tanto desespero», lamenta Fuentes.
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