A greve nacional dos agricultores indianos, na passada terça-feira, contou com o apoio da grande maioria dos sindicatos, de federações sectoriais, de mais de 20 partidos políticos, de dezenas de organizações sociais e figuras públicas, e teve tal dimensão que o ministro indiano do Interior, Amit Shah, convocou as organizações representativas dos agricultores para uma reunião logo no dia 8, mesmo sabendo que a sexta ronda de negociações entre sindicatos e governo estava agendada para o dia seguinte.
Logo após a reunião com o ministro do Interior, Hannan Mollah, secretário-geral do All India Kisan Sabha – organização conhecida como a frente de luta dos trabalhadores do campo do Partido Comunista da Índia (Marxista) –, disse que os agricultores exigiram a revogação total da legislação aprovada pelo governo de Modi, enquanto o executivo indiano estava disposto a fazer algumas alterações.
Ontem, representantes dos sindicatos dos agricultores afirmaram que as propostas do governo, entretanto apresentadas por escrito, não traziam nada de novo, reiteraram a exigência de revogação completa da legislação e anunciaram uma escalada nas acções de luta, com o bloqueio das auto-estradas que ligam Déli a Jaipur (no Rajastão) e a Agra (em Uttar Pradesh), no dia 12, e a convocatória de novo protesto nacional, para dia 14, refere o portal downtoearth.org.in.
A sexta ronda de negociações desde o início dos protestos, marcada para ontem entre os sindicatos e o ministro da Agricultura, Narendra Singh Tomar, acabou por ser cancelada.
Acampados em Déli, a lutar em toda a Índia
Milhares de trabalhadores do campo dirigiram-se há duas semanas para a capital da Índia, no contexto da marcha «Dilli Chalo» (Vamos para Déli), mas a Polícia impediu-os de entrar nos limites da cidade, à bastonada, com gás lacrimogéneo e jactos de água. Em redor da capital, nas suas «fronteiras», há vários acampamentos de agricultores em luta, que rejeitam o fim do preço mínimo garantido, as ameaças à segurança alimentar do país, a destruição da pequena agricultura pelo agronegócio.
O início do protesto dos agricultores indianos coincidiu com a greve geral do passado dia 26 de Novembro, que, segundo os organizadores, teve uma participação de mais de 250 milhões de trabalhadores, em protesto contra legislação laboral e agrícola gravosa, bem como contra a privatização do sector público.
Relativamente a esta terça-feira, a Comissão de Coordenação da Luta dos Agricultores de Toda a Índia (All India Kisan Sangharsh Coordination Committee) estima que mais de cinco milhões de pessoas tenham participado directamente em acções relacionadas com a greve, em cerca de 20 mil locais de protesto, em 22 estados do país.
Vários partidos de esquerda e progressistas – incluindo o Partido Comunista da Índia (Marxista), o Partido Comunista da Índia, o Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) – destacaram a resposta sem precedentes, em todo o país, à recusa do governo de revogar a legislação.
Ontem, uma delegação dos mais de 20 partidos que apoiaram a greve entregou ao presidente da Índia, Ram Nath Kovind, um documento em que declaram a sua «solidariedade à luta histórica em curso do campesinato indiano» e exigem a revogação da «legislação retrógrada» aprovada no «Parlamento de forma anti-democrática, impedindo uma discussão estruturada e votação», e que «destrói a agricultura indiana e os nossos agricultores».
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