Não foi totalmente como as sondagens previram, no entanto, os resultados finais continuam a não augurar um futuro fácil para o povo e os trabalhadores alemães. Nas eleições deste domingo mais de 60 milhões de pessoas foram chamadas às urnas, num processo eleitoral que ocorre num momento particularmente delicado no quadro da União Europeia.
Contados os votos, os Partidos da União, a União Democrata-Cristã (CDU) e a União Social-Cristã (CSU), concorrendo em coligação, alcançaram 28,5% dos votos, uma subida de 4,4 pontos percentuais (p.p), e arrecadando assim a vitória por maioria relativa com 208 lugares no Bundestag, o parlamento alemão.
A extrema-direita também confirmou a subida que lhe era vaticinada, ficando em segundo lugar. A Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), liderada por Alice Weidel, alcançou 20,8%, uma subida de 10,3 p.p, elegendo 152 deputados. Apesar de corresponder a uma tendência de crescimento da extrema-direita na Europa, importa lembrar que nas últimas semanas veio a registar-se uma convergência entre este partido e o vencedor das eleições, no que à política de imigração diz respeito.
O derrotado da noite é o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), força política que se encontrava no Governo sob a batuta de Olaf Scholz. O actual chanceler federal e o SPD obtiveram apenas 16,4% dos votos, o pior resultado em mais de um século, ficando em terceiro lugar e elegendo somente 120 deputados. A governação social-democrata estava debaixo de fogo dada a recessão verificada, enormes dificuldades nas principais indústrias e a política de austeridade que se começava a verificar. Durante a campanha, a grande crítica que o SPD fez ao programa da CDU/CSU foi precisamente no plano dos gastos públicos.
Já o Partido Verde, que se encontrava numa coligação de Governo com o SPD, também foi penalizado, vendo reduzido o seu resultado em 3,1 p.p, alcançando cerca de 11,6% dos votos. Os parceiros de Scholz interrompem a tendência de crescimento que se registou no últimos dez anos, ficando desta vez com 85 deputados, menos 33 que em 2021.
Uma das notas de registo é o resultado do Die Linke/A Esquerda, partido que as sondagens colocavam fora do Bundestag. O partido de Jan van Aken duplicou os votos, destacando-se por ter a maior percentagem de votos nos jovens entre os 18 e os 24 anos, e conseguiu ser o último partido a alcançar representação parlamentar, ficando com 64 deputados, o correspondente a 8,8%. Serão estes deputados os únicos que irão fazer uma oposição à esquerda ao futuro Governo, cuja composição ainda é desconhecida.
Quem não conseguiu representação foi o Partido Liberal-Democrático (FDP), o típico partido com a abordagem pró-mercado e contra as funções sociais do Estado. O resultado é uma forte penalização por parte do eleitorado, uma vez que os liberais encontravam-se no Governo coligados com o SDP e o Partido Verde. Fica também fora do Bundestag a Aliança Sarah Wagenknecht (BSW), partido criado em 2024 que se apresentava à esquerda do Die Linke, com o discurso anti-NATO e uma abordagem mais recuada face à imigração. O BSW conquistou 4,972% dos votos, ficando aquém da barreira de 5% necessária para entrar no Parlamento alemão.
Cabe agora à CDU/CSU a formação do Governo, sabendo-se já que a ausência de uma maioria absoluta obrigará a várias negociações. O líder da coligação democrata-cristã, Friedrich Merz já disse que quer ter a questão arrumada até à Páscoa, tarefa que não se avizinha simples. Para já, a CDU/CSU diz recusar acordos com a AfD, mas se o Partido Verde ou o SPD dificultarem a formação do Governo, Friedrich Merz poderá sempre recorrer à extrema-direita para fazer valer a sua vontade.
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