Estabelecer bases militares e operar sistemas de armamento pesado em zonas civis, sem as evacuar previamente, constitui uma grave «violação do direito internacional», pondo desnecessariamente em risco a população civil ucraniana, conclui o relatório publicado ontem pela Amnistia Internacional.
«Permitir que Julian Assange seja extraditado para os Estados Unidos pode colocá-lo perante um grande risco e envia um 'recado arrepiante' aos jornalistas de todo o mundo», considera a AI. A Amnistia Internacional considera que a autorização do Executivo britânico à extradição para os Estados Unidos do fundador do portal WikiLeaks, Julian Assange, «põe em grande risco» o jornalista australiano. A secretária geral da Amnistia Internacional (AI), Agnès Callamard, lamentou em comunicado a decisão adotada pela ministra do Interior do Reino Unido, que assinou a ordem de «entregar o jornalista australiano» Julian Assange à Justiça dos Estados Unidos, onde é acusado de espionagem. Os eleitos do PCP, João Pimenta Lopes e Sandra Pereira, tomaram a iniciativa de promover um apelo à libertação de Julian Assange, dirigido às autoridades competentes do Reino Unido e dos EUA. O texto, que deverá ser subscrito pelos deputados no Parlamento Europeu, apela às autoridades britânicas que recusem a extradição do jornalista para os EUA, e que os EUA encerrem as acusações contra Assange, com vista à sua libertação imediata. Os eleitos comunistas alertam no documento que a decisão do tribunal britânico, de autorizar a extradição do criador do WikiLeaks para os EUA «é motivo de maior preocupação». «Importa recordar que havia sido anteriormente recusado um pedido de extradição de Julian Assange para os EUA alegando a existência de riscos para a sua vida», lê-se na petição a que o Abrilbril teve acesso. Por outro lado, os deputados Sandra Pereira e João Pimenta Lopes lembram que, na consideração de um relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU), Julian Assange está arbitrariamente preso e «foi deliberadamente exposto, ao longo de vários anos, a formas progressivamente severas de tratamento ou punição cruel, desumana ou degradante, cujos efeitos cumulativos só podem ser descritos como tortura psicológica». O especialista em direitos humanos receia que Assange enfrente o risco real de graves violações dos seus direitos, incluindo de liberdade de expressão, a um julgamento justo, à proibição de tortura e de outras práticas cruéis, desumanas ou degradantes. Perante a mascarada de justiça que prossegue num tribunal de Old Bailey, evaporam-se os princípios deontológicos e as normas éticas de uma profissão essencial para a dignidade de qualquer ser humano. O silêncio guardado pela comunicação social corporativa em relação ao linchamento judicial de Julian Assange e da liberdade de informação que está a decorrer em Londres testemunha o estado de miséria a que chegou o jornalismo dominante, capturado pelos grandes interesses minoritários e elitistas que controlam o mundo. Perante a mascarada de justiça que prossegue num tribunal de Old Bailey para crucificar o homem que contribuiu para demonstrar alguns dos mais incontestáveis crimes contra a humanidade que têm vindo a ser cometidos em nome da democracia, das liberdades e dos direitos humanos, evaporam-se os mais básicos princípios deontológicos e as mais elementares normas éticas de uma profissão que é essencial para a dignidade de qualquer ser humano, sob qualquer sistema político e em qualquer lugar do mundo. O martírio de Assange é relatado e desmontado apenas por jornalistas e comentadores submetidos a uma espécie de clandestinidade mediática, barrados pelo muro espesso de silêncio, manipulação e mentira montado pelos proprietários dos meios de informação dominantes e alimentado pelas suas hierarquias de mercenários. Em termos formais, o que está em causa no julgamento do fundador do website WikiLeaks em Londres é um pedido de extradição apresentado pela justiça norte-americana para que Assange venha a ser julgado nos Estados Unidos por uma panóplia de supostos crimes, os mais sonantes dos quais são a espionagem e a conspiração. A seriedade do processo é tal que a sentença do julgamento em território norte-americano é conhecida por antecipação: 175 anos de reclusão. Sem dúvida, um caso de viciação em que o resultado é divulgado antes de se iniciar o jogo. «Tal como o silêncio do sistema mediático corporativo enxovalha o jornalismo, a criação e funcionamento do tribunal de Londres para julgar o pedido de extradição de Assange deixa de rastos o conceito de justiça» Na prática, estamos perante a um assalto vingativo contra alguém que expôs os crimes e os métodos de propaganda suja praticados pelos Estados Unidos e muitos dos seus aliados – designadamente através das guerras sem fim – para gerirem a pretendida globalização imperial e neoliberal; e testemunhamos um assalto desapiedado contra a liberdade de informação através da intimidação dos jornalistas que levam a sério o seu ofício, doa a quem doer. O julgamento do pedido de extradição apresentado pelos Estados Unidos é mais uma etapa de um caminho repleto de atrocidades processuais contra Assange, a começar por um caso de alegado assédio sexual praticado na Suécia e que foi – como está hoje provado – totalmente montado pela polícia sueca, certamente não apenas por iniciativa própria. Um percurso que prosseguiu com o penoso refúgio de anos na Embaixada do Equador em Londres, a traição do governo deste país chefiado pelo colaborador da CIA Lenin Moreno e o posterior internamento, em condições insalubres, na prisão de Belmarsh na capital britânica, por suposta falta a uma audiência de um tribunal. Uma prisão onde Julian Assange é submetido a «tortura psicológica», como denunciou o relator especial das Nações Unidas sobre a tortura, Nils Metzer – sem que isso tenha sido suficiente para soltar a verve do secretário-geral da organização sobre a gravidade do assunto. «Assange não é jornalista», alegam mercenários da propaganda dominante como pretexto para se eximirem à solidariedade corporativa que lhes assentaria muito bem em termos de hipocrisia mas os forçaria a abordar segundo perspectivas mais objectivas a mascarada de justiça que acontece em Londres. Ser ou não ser jornalista levar-nos-ia muito longe, não sendo esta a questão de fundo do que está em causa. «O que melhor traduz, porém, a hipocrisia e o oportunismo da comunicação corporativa em relação ao papel jornalístico de Julian Assange é [que] usaram, abusaram e lucraram das mensagens a que tiveram acesso sem qualquer esforço e depois, como agora é evidente, traíram vergonhosamente o mensageiro» Julian Assange é fundador e director de WikiLeaks, um website jornalístico com matérias editadas, designadamente para omitir identificações que deixariam pessoas à mercê de eventuais consequências do seu envolvimento em casos reproduzidos pela publicação. Parte da acusação bastante fluida construída pelos Estados Unidos para o processo de extradição tem falsamente a ver com isso: a publicação de materiais resultantes de fugas de informação de organismos públicos prejudicaria funcionários inocentes. No tribunal, porém, os advogados de acusação não conseguiram ainda dar um único exemplo da utilização indevida por WikiLeaks de identificações de pessoas associadas aos documentos. Julian Assange foi agraciado, entretanto, com prémios jornalísticos atribuídos por diversas entidades de múltiplas nacionalidades – o que o coloca inquestionavelmente na área de intervenção do jornalismo. O que melhor traduz, porém, a hipocrisia e o oportunismo da comunicação corporativa em relação ao papel jornalístico de Julian Assange é o facto de os meios de informação dominantes ditos «de referência», sem excepção, terem reproduzido, com absoluta confiança, matérias divulgadas por WikiLeaks e que deixaram a galáxia de poder global bastante comprometida. Esses meios cumpriram parcialmente o seu dever recorrendo a WikiLeaks como fonte fidedigna. Isto é, usaram, abusaram e lucraram das mensagens a que tiveram acesso sem qualquer esforço e depois, como agora é evidente, traíram vergonhosamente o mensageiro. Na prática, os New York Times ou Washington Post, os El País, Le Monde, Spiegel, BBC, Sky, Reuters, AFP, CBS, CNN e correlativos não tiveram qualquer pudor e reticência em recorrer ao WikiLeaks de Assange como acervo de fontes acima de quaisquer suspeitas mas agora silenciam uma estratégia de linchamento assumida pelas castas dominantes que pretende punir, tornar ilegítimas e silenciar essas riquíssimas fontes de jornalismo livre. Tal como o silêncio do sistema mediático corporativo enxovalha o jornalismo, a criação e funcionamento do tribunal de Londres para julgar o pedido de extradição de Assange deixa de rastos o conceito de justiça. «as figuras coroadas da chamada «civilização ocidental» preparam-se para enclausurar alguém que simboliza o jornalismo livre e, por isso, naturalmente incómodo. Pretendem isolá-lo numa pequena cela por um horizonte temporal de 175 anos e deitar a chave hora – afinal uma variante agravada e sádica da simples pena de morte» O modo como se processa o «julgamento» é aberrante em termos de desequilíbrio entre acusação e defesa, o processo foi instruído por uma juíza, Emma Arbuthnot, carregada de incompatibilidades – por exemplo, o marido é membro de um grupo de pressão do governo dos Estados Unidos –, Julian Assange está forçado ao silêncio absoluto, segregado numa jaula de vidro blindado. Fica claramente explicado que, para o regime de tendência global, um bom jornalista livre é um jornalista enjaulado e calado. Além disso, os advogados de defesa não podem utilizar mensagens de Assange na sua argumentação, sob pena de serem, eles próprios, criminalizados. Acresce que a defesa não teve acesso ao teor das acusações, que vão variando com o andamento do «julgamento», e os juízes rejeitaram todos os pedidos de adiamento, impedindo que os advogados de Assange pudessem adaptar a sua estratégia ao aparecimento de dados novos. Nada mais existe do que um arremedo de justiça como caminho para a sentença pré-estabelecida: a extradição do fundador de WikiLeaks para os Estados Unidos e para a morte lenta. Trata-se de tentar cobrir com um invólucro de «justiça» a vingança e a punição letal contra o homem que, sem cometer ilegalidades, recorrendo apenas à divulgação de informação qualificada que lhe foi cedida por fontes de dentro do sistema, desvendou os crimes e os métodos arbitrários e violentos usados pela elite dominante em nome do monopólio da «democracia» e dos «direitos humanos». Entretanto chegou ao tribunal londrino a informação de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria disposto a «perdoar» a Assange caso este identificasse a fonte das informações obtidas no interior do Partido Democrata e que, por exemplo, deixaram a ex-secretária de Estado e ex-candidata presidencial, Hillary Clinton, atolada num muito comprometedor pântano de emails. Com esta manobra Trump quererá provar que a fonte pertence ao próprio Partido Democrata; e a Comissão Nacional deste partido continua a argumentar que as informações divulgadas por WikiLeaks foram fabricadas pelos serviços secretos russos. Uma trica doméstica em tempos eleitorais. Ora o que tem isto a ver com justiça? Os acontecimentos vêm confirmar que o processo em torno de Assange não passa de política, uma política reles, perigosa e criminosa. Isto é, o presidente dos Estados Unidos pode passar por cima do tribunal de Londres, do processo instruído e outorgar «perdão» a um réu a ser julgado noutro país desde que este quebre uma norma básica do jornalismo que ainda o é: manter o anonimato das fontes. Se alguma coisa tem a ver com justiça neste processo, é apenas com uma arbitrária justiça imperial. Entretanto, praticamente sem que o mundo se aperceba disso e com a cumplicidade daqueles que usurparam e desmantelaram o nobre ofício de jornalista, as figuras coroadas da chamada «civilização ocidental» preparam-se para enclausurar alguém que simboliza o jornalismo livre e, por isso, naturalmente incómodo. Pretendem isolá-lo numa pequena cela por um horizonte temporal de 175 anos e deitar a chave hora – afinal uma variante agravada e sádica da simples pena de morte. Os jornalistas livres e independentes e os cidadãos em geral considerem-se avisados. José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O caso de Julian Assange está ligado à revelação de informação considerada confidencial, em particular sobre a guerra no Iraque e no Afeganistão, que expôs violações do direito internacional, algumas das quais configurando crimes de guerra. Para os deputados comunistas, a tentativa de extradição, criminalização e prisão deste jornalista representa «uma inaceitável pressão, visando condicionar a publicação de informação de interesse público». Tentativa que, refere-se no documento, «não se pode dissociar dos processos de concentração da propriedade e do controlo dos meios de comunicação social por parte de transnacionais», mas também do aumento da precariedade nas relações laborais dos jornalistas, «que constitui uma séria ameaça ao pluralismo, à liberdade de imprensa, de expressão e de informação». Esta terça-feira assinala-se o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa. Em Abril, 19 organizações, nomeadamente federações europeias e internacionais de jornalistas e vários clubes PEN, enviaram uma carta à ministra britânica do Interior suscitando a recusa da extradição de Julian Assange. Os signatários reclamavam ainda a sua libertação da prisão de Belmarsh, perto de Londres, onde se encontra há cerca de três anos, depois de permanecer mais de sete anos na Embaixada do Equador em Londres, como refugiado. Em caso de extradição, Julian Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão nos EUA. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Permitir que Julian Assange seja extraditado para os Estados Unidos pode colocá-lo perante um grande risco e envia um 'recado arrepiante' aos jornalistas de todo o mundo», disse a responsável pela AI. «Se a extradição se verificar (...) Assange pode enfrentar o risco de uma detenção prolongada», frisou Callamard. «As garantias diplomáticas dos Estados Unidos de que Assange não vai ser submetido ao confinamento solitário não podem ser levadas a sério, dado o historial» no país, acrescentou. «Pedimos ao Reino Unido que se abstenha de extraditar Julian Assange, que os Estados Unidos deixem cair as queixas e que Assange seja libertado», apelou a secretária-geral da organização não-governamental, com sede em Londres. O Governo britânico confirmou esta sexta-feira a extradição para os EUA do fundador do portal WikiLeaks, Julian Assange, onde é procurado pela divulgação de uma grande quantidade de documentos confidenciais. «De acordo com a Lei de Extradição de 2003», o governo deve assinar uma ordem de extradição «se não houver motivos que parem a ordem», disse um porta-voz do Ministério do Interior britânico, confirmando que a ministra Priti Pratel já assinou o documento de extradição. A decisão é um momento que pode pôr termo à longa batalha legal de Assange que tentou, durante os últimos anos no Reino Unido, evitar a extradição para os Estados Unidos. Assange, de 50 anos, preso no Reino Unido, tem formalmente 14 dias para apresentar recurso. Em reacção à ordem de extradição, o portal WikiLeaks já considerou que se trata «de um dia negro para a liberdade de imprensa e para a democracia britânicas». «Qualquer pessoa, neste país, que se preocupe com a liberdade de expressão deve estar profundamente envergonhada com o facto de a ministra do Interior ter aprovado a extradição de Julian Assange para os EUA, um país que planeou assassiná-lo», refere o comunicado divulgado pelo portal WikiLeaks. Lusa Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Amnistia denuncia a extradição de Assange
Internacional|
Deputados no Parlamento Europeu apelam à libertação imediata de Assange
Opinião|
Assange e a miséria do jornalismo
Vingança e intimidação
Jornalismo e oportunismo
Paródia de justiça e baixa política
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Estas tácticas transformam as população em autênticos «alvos militares», provocando a morte de cidadãos que não estariam, de outra forma, envolvidos nos combates. Os subsequentes ataques russos, direccionados contra as infraestruturas ocupadas pela Ucrânia, não deixarão de causar vítimas inocentes, injustificadamente.
«Documentámos este padrão nas forças ucranianas, que põe em risco a população e viola as leis da guerra sempre que operam em zonas de densidade populacional», afirma Agnès Callamard, secretário-geral da Amnistia.
«Encontrar-se numa posição defensiva não isenta o exército ucraniano de assegurar» o cumprimento da lei e os seus deveres humanitários.
De entre as dezenas de casos identificados, os soldados ucranianos encontravam-se a vários quilómetros da frente de combate, «com várias alternativas viáveis, sem nunca pôr em risco vidas civis, à sua disposição». A Amnistia Internacional não está a par, em nenhuma das situações, de qualquer iniciativa, tomada pelo exército ucraniano, para evacuar os edifícios em redor destas bases.
A Amnistia acusa a Ucrânia de demonstrar a sua «incapacidade de tomar todas as precauções viáveis para proteger os civis» nas situações verificadas.
A guerra da propaganda e mentira dá-se nas redes sociais, o efeito das aldrabices é amplificado pelas televisões e muitos órgãos de comunicação social que não verificam factos e não cruzam informações. Na semana passada, o exército ucraniano partilhou um vídeo no Instagram e Facebook que, segundo afirmou, mostrava drones de fabricação turca Bayraktar TB2 a destruir uma coluna militar russa nos campos de batalha da Ucrânia. De facto, as imagens são verdadeiras, mas reportam-se a uma acção desse tipo de drones, há dois anos, na província síria de Idlib, contra um comboio do exército de Damasco. A empresa Meta comprometeu-se a investigar o vídeo depois de o site Middle East Eye (MEE) ter pedido uma reacção à proprietária do Facebook e do Instagram. O vídeo foi seguidamente retirado pela conta ucraniana. Não sem antes ser passado como verdadeiro por muitas televisões do mundo, entre as quais todas as estações de televisão portuguesas, que raramente verificam as informações ou põem em dúvida notícias vindas de fontes ucranianas. Durante as semanas da invasão russa, multiplicaram-se os falsos casos: os 13 heróis ucranianos que mandaram «foder» os russos e morreram a defender a ilha Zmiinyi, divulgados pelo presidente ucraniano, sendo que dias depois se descobre que estão vivos e de boa saúde; o senhor idoso atropelado em Kiev por um veículo blindado russo que, afinal, era ucraniano, dado que os russos estavam a centenas de quilómetros de distância. Dezenas de vídeos que se tornaram virais eram afinal imagens da Líbia, Líbano e Palestina, falsamente identificados como estando a passar-se durante a invasão da Ucrânia. Imagens antigas da activista palestiniana Ahed Tamimi foram colocadas online sob a falsa alegação de que ela era uma rapariga ucraniana a enfrentar um soldado russo e foram partilhadas milhões de vezes. O Ministério da Defesa da Ucrânia partilhou imagens que, segundo afirmou, mostravam um jacto a abater um avião de guerra russo – mas o vídeo era na realidade de um jogo de vídeo. «Como é quase sempre o caso em tempos de guerra, o ambiente de informação online torna-se incrivelmente rapidamente poluído», disse Layla Mashkoor, editora associada no laboratório de investigação forense digital do Atlantic Council, ao site MEE. «Vídeos antigos e reciclados começam a circular online, por vezes inocentemente por pessoas que não conhecem melhor, e outras vezes por actores maliciosos que procuram semear o pânico e o caos». O jornalista Luís Galrão é pioneiro em Portugal na utilização de instrumentos disponíveis na Internet para verificação de notícias: os chamados OSINT (Open Source Intelligence). É um modelo de inteligência que visa encontrar, selecionar e adquirir informações de fontes públicas e analisá-las para que em conjunto com outras fontes possam produzir um conhecimento. Numa entrevista ao site Setenta e Quatro ele critica o trabalho dos órgãos de comunicação social durante esta guerra, nomeadamente as televisões. «Ao nível do jornalismo televisivo há de facto uma grande incapacidade para breaking news, sobretudo na componente principal do jornalismo, que é a verificação. É raro o evento em que nas primeiras horas as televisões partilham conteúdos verificados. Vêem alguém partilhar numa rede social, acreditam na narrativa que acompanha esse conteúdo e exibem-no, às vezes durante horas e em repetição permanente. São coisas evitáveis – e eu costumo demonstrá-lo – com três segundos a três horas de verificação.» Luís Galrão fala em concreto daquele suposto ataque a um prédio de Kiev por um míssil russo (na foto ilustrativa do artigo) que passou em todos os canais portugueses. «Há uma reiterada violação do dever de verificação. Isso resulta num trabalho jornalístico mau. É o caso do míssil alegadamente russo que acertou naquele prédio, que depois já era um avião russo que tinha sido abatido. E, ao se verificar, afinal era um avião ucraniano que muito provavelmente foi abatido pelas próprias defesas antiaéreas ucranianas. E ainda há canais, hoje, a dizer que foi um avião russo abatido. Há pivôs a dizer isso enquanto mostram imagens a partir das quais eu consigo verificar, em segundos, que se trata de um avião ucraniano. Não consigo perceber este tipo de ...». Para o jornalista, a situação não é de agora. E manifestamente as televisões não estão interessadas em corrigir as notícias falsas, nem em verificar aquilo que divulgam. «Nos últimos anos, na questão de Cabo Delgado, com o terrorismo no norte de Moçambique, também acompanhei aquele grande ataque a Palma. Na altura fiz uma grande verificação de informações divulgadas no Leste-Oeste da SIC [programa de Nuno Rogeiro], um dos meus alvos semanais porque infelizmente é um programa que divulga muita desinformação. Tem muito conteúdo enganador, mau jornalismo – boa parte daquilo nem é jornalismo. E nesta questão de Cabo Delgado há um episódio que me marcou: a divulgação de fotografias de pessoas apelidadas de terroristas, e que eu, através destas técnicas, consegui identificar como sendo agentes da Força de Guarda de Fronteira de Moçambique. Tenho o número de telefone de um deles, tenho as redes sociais de dois deles, falei com colegas deles. Propus à SIC facultar-lhes toda esta informação para que pudessem desmentir o que tinham exibido em antena e isso não aconteceu. Este é um exemplo da utilidade prática destas técnicas, que infelizmente não foi aproveitado pela SIC. Foi utilizado por outras pessoas para acabar com aquela desinformação e com o dano que aquilo estava a fazer àquelas pessoas.» Em Portugal, não costuma passar desinformação russa, dado que os órgãos de comunicação social, com destaque para as televisões, se entretêm a passar notícias não verificadas de fontes ucranianas. Mas ela é acessível na Internet. Na semana passada, a Meta – reinvenção da marca Facebook pelo seu proprietário, Mark Zuckerberg – anunciou que tinha derrubado uma rede de desinformação pró-russa que consistia em 40 contas, grupos e páginas falsas no Facebook e Instagram. A rede utilizou imagens de perfil gerados por Inteligência Artificial para criar perfis de engenheiros aeronaúticos, editores de notícias, autores científicos, entre outros, que garantiam estar em Kiev. Uma imagem gráfica amplamente partilhada mostra um mapa de «ataques aéreos nas últimas 48 horas» destaca ataques israelitas na Síria, ataques aéreos sauditas no Iémen e dos EUA visando a Somália, para além de ataques russos na Ucrânia. A legenda é a seguinte: «Condene a guerra em todo o lado». A imagem foi criada pelo site Redfish, uma iniciativa mediática, com aparentes pontos de vista de esquerda, que é um projecto da estação estatal russa RT. Apesar de, neste caso, não ser mentira nenhuma, as principais redes sociais decidiram restringir totalmente a possibilidade dos internautas postarem esta imagem e outras publicações que tenham origem nessas redes russas. A UE anunciou recentemente que os meios de comunicação social estatais russos seriam proibidos de transmitir em todo o território da União. «A cadeia estatal RT e a Sputnik, e as suas subsidiárias, já não poderão espalhar as suas mentiras para justificar a guerra de Putin», disse a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen. «Estamos a desenvolver ferramentas para proibir a sua desinformação tóxica e prejudicial na Europa». Esta iniciativa censória de carácter ilegal, que viola as leis europeias e constituições como a portuguesa, teve rápido acolhimento. Nick Clegg, da Meta, anunciou que os canais estatais russos RT e Sputnik seriam bloqueados em toda a UE no Facebook e Instagram. O mesmo cuidado não foi tido para extremistas ucranianos. No meio da invasão russa, o Facebook permitiu temporariamente aos utilizadores elogiar o neonazi Batalhão Azov, um grupo militar ucraniano que foi anteriormente proibido de ser discutido na plataforma ao abrigo da sua política de Indivíduos e Organizações Perigosas. A unidade militar voluntária foi formada em 2014 por neonazis e supremacistas brancos. Foi oficialmente integrada no exército da Ucrânia alguns meses após a sua formação, elogiada pelo antigo Presidente Petro Poroshenko eteve elementos condecorados pelo actual presidente Zelensky . As tropas do Azov treinam frequentemente em uniformes militares adornados com símbolos nazis, incluindo o símbolo Totenkopf «cabeça da morte», o Wolfsangel, um antigo símbolo rúnico que se acreditava afastar os lobos popularizados durante o Terceiro Reich, e o Sonnerad (símbolo do Sol Negro), que foi apropriado pelos nazis numa tentativa de inventar uma herança ariana. De acordo com materiais de política interna vistos pelo site The Intercept, o Facebook permitirá agora aos utilizadores elogiar o Batalhão Azov no contexto do seu papel de defesa da Ucrânia. Na semana passada, na conta oficial no Twitter da Guarda Nacional da Ucrânia, foi tweetado: «Lutadores Azov da Guarda Nacional untaram as balas com banha contra os orcs de Kadyrov». O tweet discriminatório referia-se a balas revestidas com gordura de porco para serem usadas contra soldados chechenos muçulmanos que participam na invasão russa, cujo líder é Ramzan Kadyrov. «Caros irmãos muçulmanos. No nosso país, não ireis para o céu. Não vos será permitido ir para o céu. Vão para casa, por favor. Aqui, encontrarão problemas. Obrigado pela vossa atenção, adeus», diz um combatente do Batalhão Azov, enquanto é filmado a mergulhar as balas em gordura de porco. O Twitter restringiu o tweet da Guarda Nacional, mas manteve-o na sua plataforma. «Este tweet violou as regras do Twitter sobre conduta odiosa. Contudo, o Twitter determinou que pode ser do interesse do público que o tweet permaneça acessível», pode se ler junto ao tweet da Guarda Nacional ucraniana. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
As mentiras andam mais depressa que os mísseis
É possível ter um jornalismo melhor
Desinformação russa e neonazis
Contribui para uma boa ideia
As instituições ucranianas não tardaram em responder às denúncias ontem tornadas públicas. O conselheiro presidencial Mykhailo Podoliak acusou a Amnistia, que frequentemente alinha com as posições condicentes com as dos interesses ocidentais, de «participar na campanha de desinformação e propaganda» russa, descrevendo o relatório como uma acção de descrédito de Moscovo. Nas suas redes sociais, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano considerou o relatório da ONG: «injusto».
As reacções do Governo ucraniano surgiram após a divulgação pública do relatório. O seu conteúdo, mais detalhado, foi entregue às instituições desse país a 29 de Julho, não tendo suscitado, até à data da publicação, qualquer tipo de reacção.
Exército ucraniano ocupa escolas e hospitais, provocando baixas civis desnecessárias
Investigadores da Amnistia Internacional identificaram cinco ocasiões em que forças ucranianas transformaram hospitais (em funcionamento) em bases militares activas; a mesma situação foi testemunhada em 22 escolas destas regiões (entre as 29 visitadas pela ONG).
«A utilização de hospitais e escolas para fins militares é uma violação flagrante do direito internacional».
Sem a presença dos deputados da oposição, suspensos por Zelensky, o resultado da votação era um dado adquirido. Partidos acusados de tendências «pró-russas» serão proibidos em definitivo, para lá da lei marcial. A vida do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acaba de ficar relativamente mais fácil. Seguindo o método dialético de Manuela Ferreira Leite (numa teoria formulada aquando da sua liderança do PSD), de vez em quando, o melhor mesmo é suspender a democracia durante seis meses, «mete-se tudo na ordem e depois, então, venha a democracia». A pretexto da lei marcial, Zelensky proibiu hoje 11 partidos políticos, do centro à esquerda, na Ucrânia, incluindo o maior da oposição. A extrema-direita, por seu lado, não vê qualquer restrição à sua actividade. «Primeiro vieram buscar os comunistas (...)», lembrava Bertolt Brecht, e agora, por fim, levam o que restava do centro/centro-esquerda ucraniano. O processo de «descomunização», em marcha desde 2015, que resultou na ilegalização e perseguição do Partido Comunista da Ucrânia, aproveita o contexto da guerra para afastar os restantes rostos da oposição anti-NATO/anti-corrupção ao governo de Zelensky. Sob pretexto de se tratarem de partidos «pró-russos», uma narrativa rapidamente adoptada pelos meios de comunicação ocidentais, 11 partidos, com ou sem assento parlamentar, foram impedidos de exercer a sua função principal numa democracia: exercer a representação política dos seus eleitores e militantes. O Ministério da Justiça terá agora de «tomar imediatamente medidas abrangentes para proibir as actividades desses partidos políticos». A explicação dada pelo presidente ucraniano, numa declaração proferida hoje, 20 de Março, na qual anuncia o prolongamento da lei marcial por um novo período de 30 dias, falha na prova dos factos. Muitos destes partidos, acusados de pró-russos, participam activamente na defesa da Ucrânia. Há pouca margem para interpretar esta acção que não seja a de afastar o que resta da oposição ao seu mandato, e aos interesses que ele serve. A Plataforma de Oposição - Pela Vida, que nas eleições parlamentares de 2019 ficou em segundo lugar, com 13,05% dos votos e 43 assentos no parlamento, não só denunciou publicamente a invasão da Rússia, chegando mesmo a expulsar um deputado por não o fazer e remover um vice-presidente com ligações a Vladimir Putin, como incitou à participação nas milícias de defesa do país. Nada impediu a suspensão. No caso do Socialistas, trata-se de um pequeno partido político pró-União Europeia [ver foto em caixa] que defende a reintegração da Crimeia na Ucrânia, ao mesmo tempo que defende a nacionalização de vários importantes sectores da economia ucraniana e o combate à corrupção nas instituições governamentais. O verdadeiro crime destas formações políticas, algumas com quase 30 anos de actividade, foi, em alguns casos, continuarem a defender posições anti-NATO ou representarem as populações russófilas do país, enquanto outros, apoiantes do projecto europeu, se limitam a defender uma solução pacífica para o conflito no Donbass e se opõem aos ímpetos privatizadores do governo de Zelensky. O projecto iniciado em Maidan, em 2014/15, concluiu finalmente uma das suas principais ambições políticas: afastar todos os grupos partidários que contestem a hegemonia dos interesses económicos norte-americanos na Ucrânia. Para além da Plataforma de Oposição - Pela Vida, também os partidos Sharia, Nosso, Bloco de Oposição, Oposição de Esquerda, União das Forças de Esquerda, Estado, Partido Socialista Progressista da Ucrânia, Partido Socialista, Socialistas e Bloco de Volodymyr Saldo, foram suspensos. A necessidade de uma «política de informação unificada» levou Zelensky a assinar um decreto que funde todos os canais de informação, públicos e privados, num único órgão informativo, sob gestão da presidência da república da Ucrânia. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Zelensky, no entanto, decidiu ir mais longe. Depois da experiência do último mês, com a suspensão de todos os partidos políticos da oposição de centro e centro-esquerda (sem nunca tocar nos sacrossantos direitos dos partidos da extrema-direita), o parlamento ucraniano deliberou proibir, em definitivo, a oposição. Nas suas redes sociais, Olena Shuliak, presidente e deputada do partido Servo do Povo (pelo qual Zelensky se fez eleger) manifestou a sua satisfação pela aprovação da proposta: «Finalmente vamos parar de tolerar o 'mundo russo' dentro dos nossos círculos políticos, que só trazem destruição à Ucrânia». A pretexto de se tratarem de partidos «pró-russos», o novo projecto de lei (n.º 7172-1) permite a ilegalização de partidos, a cessação dos mandatos de representação, sejam ao nível local ou nacional, e o confisco de toda a propriedade registada pelos partidos visados. A Assembleia Geral da ONU adoptou, de forma esmagadora, a resolução que a Rússia apresenta há vários anos contra a «glorificação do nazismo», que voltou a não contar com o apoio dos países da NATO. Por iniciativa da Rússia, a resolução «Combater a glorificação do Nazismo, Neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada» foi aprovada esta quinta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas, com 130 votos a favor, dois votos contra (EUA e Ucrânia) e 49 abstenções. Entre as abstenções, inclui-se a de Portugal, a dos estados-membros da União Europeia e dos países que integram a NATO. A resolução proposta pela Rússia apela aos estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que «eliminem todas as formas de discriminação racial por todos os meios adequados», incluindo a via legislativa, e expressa «profunda preocupação sobre a glorificação, sob qualquer forma, do movimento nazi, do neonazismo e de antigos membros da organização Waffen-SS». De acordo com uma nota publicada no portal na ONU, o texto refere-se, também, à «construção de monumentos e memoriais», e à «celebração de manifestações em nome da glorificação do passado nazi, do movimento nazi e do neonazismo» – algo que ocorreu nos últimos anos em países como a Ucrânia, a Letónia, a Estónia, a Lituânia e a Polónia. Grigory Lukiantsev, director-adjunto do Departamento de Cooperação Humanitária e Direitos Humanos do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, disse que a adopção da resolução será um contributo real para a erradicação do racismo e da xenofobia, refere a TASS. Cerca de mil pessoas participaram no desfile do Dia do Legionário em homenagem aos mais de 140 mil letões que integraram unidades nazis. A diplomacia russa classificou a marcha como uma «vergonha». O Dia do Legionário, a 16 de Março, é assinalado na Letónia desde os anos 90, para homenagear e evocar aqueles que fizeram parte da Legião da Letónia na Waffen Schutzstaffel (Tropa de Protecção Armada, mais conhecida como Waffen-SS). A marcha deste ano, em Riga, contou com a participação de alguns veteranos legionários, que integraram a 15.ª e a 19ª divisões de Granadeiros da Waffen-SS, bem como de apoiantes e neonazis. O evento anual, que tem sido criticado a nível internacional como uma forma de «glorificação do nazismo», também mereceu oposição interna, com alguns manifestantes a exibirem cartazes em que classificavam a Legião como uma «organização criminosa» e a lembrar que «lutaram ao lado de Hitler», segundo refere o periódico Haaretz. A Embaixada da Rússia no país do Báltico condenou a marcha de homenagem aos legionários da Waffen-SS, que classificou como «uma vergonha». Na sua conta oficial de Twitter, a Embaixada afirmou, no sábado: «Que vergonha! Veteranos da Waffen-SS e apoiantes estão novamente a marchar com honra no centro de uma capital europeia. E isto acontece na véspera do aniversário dos 75 anos da libertação de Riga dos invasores nazis!» Também a Embaixada da Rússia no Canadá se manifestou no Twitter contra o desfile realizado em Riga: «Veteranos da Waffen-SS nazis e apoiantes marcham desafiantes e livremente no dia 16 de Março em Riga, Letónia, recohecidos pelas autoridades como heróis nacionais. Uma realidade ignorada por muitos no Ocidente que não pode ser descartada como "propaganda do Kremlin".» A Waffen-SS, que foi criada como um ala armada do Partido Nazi alemão, foi considerada uma organização criminosa nos julgamentos de Nuremberga, após a Segunda Guerra Mundial, pela sua ligação ao Partido Nazi e envolvimento em inúmeros crimes de guerra e contra a Humanidade. A Legião da Waffen-SS da Letónia foi fundada em 1943. Muitos dos seus membros viriam a integrar depois, juntamente com combatentes da Lituânia e da Estónia, os chamados Irmãos da Floresta, que até 1953 lutaram contra as tropas soviéticas nos países bálticos. Em Julho de 2017, a NATO publicou um vídeo que apresenta, com visível dose de heroísmo, essa guerrilha anti-soviética, sem mostrar grande preocupação pelo facto de, nessas forças, estarem integrados muitos legionários das SS nazis ou os que, nos países bálticos, haviam colaborado com as forças invasoras nazi-fascistas. Então, Maria Zakharova, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, pediu que «se veja com respeito as páginas trágicas da história e se repudie tão repugnante acção da Aliança Atlântica». Disse ainda esperar que «não seja necessário recordar os assassinatos massivos perpetrados por muitos dos membros dos Irmãos da Floresta». Por seu lado, a representação da Rússia junto da NATO considerou que o material fílmico constitui uma nova tentativa de reescrever a história, para a colocar de acordo com os processos políticos nas ex-repúblicas socialistas do Báltico, onde prolifera o neofascismo e o nacionalismo. Moscovo tem reafirmado a sua preocupação sobre o surgimento de grupos neonazis e acerca de políticas que glorificam colaboradores com o nazismo na Ucrânia, na Polónia e nos Estados Bálticos – países onde, refere a agência Sputnik – são frequentes as marchas em louvor de destacadas figuras fascistas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Acrescentou que o texto sublinha a inadmissibilidade de «glorificar os envolvidos nos crimes do nazismo, incluindo o branqueamento de ex-membros da organização SS e das unidades Waffen-SS, reconhecidas como criminosas pelo Tribunal de Nuremberga». A representação diplomática dos Estados Unidos junto das Nações Unidas tem votado sempre contra a resolução apresentada pela Rússia, alegando que se trata de um documento que legitima as «narrativas de desinformação russa» e «denigrem os países vizinhos sob a aparência cínica de travar a glorificação do nazismo». No contexto da votação realizada há um ano, o embaixador norte-americano afirmou ainda que a resolução é contrária ao «direito de liberdade de expressão», a que também os «nazis confessos» têm direito, tal como estipulado pelo Supremo Tribunal dos EUA. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A decisão foi aprovada com o voto favorável de 330 deputados. Apenas 17 votaram contra. O parlamento da Ucrânia (ou Rada) continua a funcionar, desde finais de Março, com um número reduzido de deputados (num total de 450), já que várias dezenas estão impedidos de cumprir o mandato para o qual foram eleitos por milhões de ucranianos, no mesmo sufrágio que legitima Zelensky. Qualquer partido que adopte posições, como parte da sua linha programática, que justifiquem, considerem legal e neguem o ataque da Rússia à Ucrânia, ou aceitem a conduta de militantes «pró-russos» nas «zonas temporariamente ocupadas» (em que se incluem as populações separatistas do Donbass e Crimeia), será imediatamente proibido. A capote desta lei, fica permanentemente proibida a defesa partidária do direito à autodeterminação dos povos do Donbass e da Crimeia, zonas com grandes populações russófonas e que votaram maioritariamente, em 2019, num dos partidos que será agora proibido: a Plataforma de Oposição - Pela Vida. Só saindo deste ciclo politicamente neurótico e retomando em força, e com urgência, as batalhas democráticas que continuam por fazer, é que conseguiremos apreender o neofascismo em toda a sua natureza. O fascismo nasceu como um novo produto ideológico das direitas do século XX, com uma origem e uma génese específicas na Itália do pós-I Guerra Mundial. Conquistou, contudo, o seu lugar na História justamente porque ganhou dimensão internacional, fascizando o corpus doutrinal de outras direitas em muitos contextos nacionais diferentes.1 Produtos de um processo degenerativo do sistema liberal, em cuja história se inscreve, o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, considerados justamente prototípicos do fenómeno à escala internacional, ascendem ao poder cumprindo as normas legais de um liberalismo autoritário2 no âmbito de uma transição autoritária (do sistema liberal para a ditadura fascista). «Produtos de um processo degenerativo do sistema liberal, em cuja história se inscreve, o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, considerados justamente prototípicos do fenómeno à escala internacional, ascendem ao poder cumprindo as normas legais de um liberalismo autoritário no âmbito de uma transição autoritária (do sistema liberal para a ditadura fascista)» Nos estudos do fascismo desenvolveram-se, entre muitos, dois debates clássicos que permanecem muito úteis para discutimos a extrema-direita que dele é herdeira. Em primeiro lugar, a distinção entre fascismo-movimento e fascismo-regime, isto é, entre os períodos e os contextos em que ele (ainda) não se constituiu como regime e ideologia de Estado e os que, sobretudo depois da nazificação da Alemanha a partir de 1933, tal acontece um pouco por toda a Europa; nos nossos dias, isto significa estudar a diferença entre as direitas radicais na oposição e no poder. Em segundo lugar, a aplicabilidade do conceito a uma grande variedade de casos nacionais – fascista foi apenas o partido e o regime de Mussolini?, ou devem também ser considerados como tal o nazismo, o franquismo, o salazarismo, o regime ustasha na Croácia, entre muitos outros? –, e contextos históricos – o fascismo teve a sua época, como lhe chamou Thomas Mann, e esta terminou definitivamente com a derrota militar nazi de 1945?, ou, sob muito variadas formas, foram e são neofascistas ou pós-fascistas movimentos, partidos e formas de governo que se desenvolveram/impuseram uma vez passada a época do fascismo, desde as extremas-direitas europeias mais clássicas (francesa, italiana, alemã), às formas ideológicas e orgânicas presentes em ditaduras reacionárias dos últimos 75 anos (sobretudo as latinoamericanas e as duas ibéricas nas suas versões adaptadas a um mundo de que havia desaparecido já qualquer esperança de uma Nova Ordem fascista), até às direitas radicais (demasiado) frequentemente descritas como populistas do século XXI? Diferenças de contexto, comunidade ideológica e perceção de continuidades são questões essenciais tanto para analisar as experiências políticas da época do fascismo (1922-45), como para discutir as direitas extremas dos nossos dias. A posição maioritária, e que vem ganhando contornos hegemónicos, é a de sublinhar a diferença entre as novas extremas-direitas, que julgamos conhecer melhor porque com elas vivemos, e aquelas que há cem anos cunharam o nome de fascismo. Antes de mais, esta parece-me a atitude intelectual mais fácil de assumir: em contextos inegavelmente diferentes, os objetos que neles encontramos parecem-nos também eles diferentes, pelo que a perspetiva com que, à partida, os abordamos é a da verificação da diferença face a outros objetos que já conhecemos, antes de mais por não termos sido contemporâneos dos objetos do passado, que nos são inevitavelmente mais estrangeiros (como lhes chama David Lowenthal) que os do presente. Dizia Eric Hobsbawm que «a maioria dos seres humanos opera como os historiadores: só retrospetivamente conseguem reconhecer a natureza da sua experiência.»3 É evidentemente difícil conseguir dar um nome adequado ao que vivemos enquanto o vivemos. Por outro lado, muita da discussão que hoje fazemos sobre a natureza da extrema-direita é a mesma que se vem fazendo há décadas sobre a natureza dos regimes autoritários da época do fascismo, e resulta, afinal, de saber-se que grau de flexibilidade é admissível no uso das categorias políticas. Por norma, aqueles que negam que ditaduras de direita do período de entre guerras, como a salazarista, tenham sido versões nacionais de um fascismo como fenómeno internacional, não se perguntam se são hoje igualmente democráticos regimes tão diferentes como o indiano ou o francês, e se já o era o sistema político norteamericano em 1776 ou em 1865. A pergunta nada tem de retórico uma vez que a Ciência Política mainstream tende a dar-lhe uma resposta positiva em todos os casos, ao mesmo tempo que entende que eram tão comunistas e totalitários (para usar um vocabulário hegemónico que não é o meu) o regime soviético em qualquer dos seus ciclos históricos, o dos Khmeres Vermelhos ou a Revolução Cubana, entre muitos outros exemplos. Porque se aplica, então, um grau tão amplo de flexibilidade para falar de democracia ou de comunismo e uma perspetiva tão restritiva para falar de fascismo? A resposta é simples: porque se aceita quase sempre trabalhar com conceitos genéricos de democracia e de comunismo e, pelo contrário, se recusa fazer o mesmo com o fascismo. «se a chegada da extrema-direita ao poder significa «mudar o sistema a partir de dentro», deve presumir-se que a mudança deixa mais ou menos intacta a natureza democrática do poder? Deixou Orbán intacta a democracia? E Bolsonaro, ou Duterte? Se não se trata de «mudar tudo», como designar, então, as alterações que todos eles, chegados ao poder por via constitucional exatamente como Hitler e Mussolini, vão introduzindo?» Para o que aqui nos ocupa, a questão é saber se, e quais, direitas extremas dos nossos dias são neofascistas, isto é, se são a versão do fascismo adaptada às condições específicas (mas muito diferentes entre si) de sociedades do século XXI marcadas pelo agravamento generalizado da desigualdade social e da perda de representatividade dos sistemas políticos. Nesta nova fase da globalização capitalista que coincide com o triunfo do neoliberalismo desde os anos 1980, são a retórica ocidentalista e o racismo culturalista dos nossos dias, empapados do Choque de Civilizações de Huntington, herdeiros do discurso da decadência do Ocidente de Spengler4 dos anos 20 que enformou a mundivisão fascista? A normalização do discurso xenófobo e racista, agravada com a chamada crise dos refugiados da última década (especialmente dos anos 2015-16), partilha a mesma mundivisão do fascismo na sua época? Há ou não continuidade entre o racismo politicamente organizado da primeira metade do século passado e o dos nossos dias, que alimenta movimentos políticos que, nos países mais ricos do Ocidente, se estruturam especificamente em torno do discurso xenófobo (contra o imigrante ou o refugiado, contra as minorias muçulmanas e ciganas), disfarçado de culturalismo determinista (hoje a «inassimilabilidade» do muçulmano ou do cigano, antes a do judeu)? Não pretendo fazer aqui uma discussão detalhada em torno da terminologia mais adequada para categorizar a extrema-direita que vem avançando por todo o Ocidente, não desde o Brexit ou a eleição de Trump, em 2016, mas desde pelo menos há 25 anos, desde que a direita radical começou o assalto ao poder nos países pós-comunistas, na Europa ocidental, a começar pela Itália, com a chegada de Berlusconi ao poder (1994) aliado (como por toda a parte acontece com a direita clássica) com a extrema-direita, ou nos EUA, quando a radicalização à direita do Partido Republicano levou ao poder George W. Bush (2000). Limito-me a contestar a validade do uso (em geral, puramente confrontacional) da categoria de populismo, mesmo que adjetivado como sendo de extrema-direita, expressão que, mimetizando o uso vulgar do totalitarismo, presume que existem tantos populismos quantos discursos antissistémicos se fizerem à esquerda e à direita; bem como a aplicabilidade do conceito de pós-fascismo para sob a sua capa se reunirem movimentos que «já não são fascistas [porque] surgiram depois da consumação da sequência histórica dos fascismos clássicos», dos quais «se emanciparam, ainda que na maioria dos casos o conservem como matriz». Impressiona-me que um historiador como Enzo Traverso, apesar de reconhecer que «Mussolini e Hitler chegaram ao poder por via legal», aceite que «a vontade [deles] de derrubar o Estado de Direito e apagar a democracia estava fora de discussão» permite marcar uma diferença essencial com a atitude da extrema-direita dos nossos dias, que, segundo Traverso, «quer transformar o sistema a partir de dentro, enquanto o fascismo clássico queria mudar tudo»5. Neste âmbito, se a chegada da extrema-direita ao poder significa «mudar o sistema a partir de dentro», deve presumir-se que a mudança deixa mais ou menos intacta a natureza democrática do poder? Deixou Orbán intacta a democracia? E Bolsonaro, ou Duterte? Se não se trata de «mudar tudo», como designar, então, as alterações que todos eles, chegados ao poder por via constitucional exatamente como Hitler e Mussolini, vão introduzindo? Mesmo não afirmando querer pôr em causa a natureza liberaldemocrática dos regimes, a extrema-direita no poder (e fora dele) ataca liberdades e direitos individuais e coletivos, coloniza o poder judicial, as forças de segurança e militares, propõe a ilegalização de forças políticas, a perseguição de organizações/movimentos associados a minorias étnicas, e assume práticas ultrassecuritárias contra inimigos internos (as minorias, os migrantes) e externos. Chamar, como está em voga, iliberal (como Fareed Zakaria) a este processo político parece-me muito menos adequado que nele reconhecer o liberalismo autoritário típico dos estados em transição para o autoritarismo. Um regime em transição muda inevitavelmente de natureza ao fim de algumas etapas; uma democracia em transição autoritária deixará sempre de ser democrática a menos que o processo seja revertido. Não creio ser razoável definir o ritmo da transição como indicador da natureza diferente do horizonte final da transição; a democratização social, como processo transicional que também é, produziu resultados muito diferentes e muito incompletos em países aos quais, em geral, vejo pouca gente recusar chamar democracias. Da mesma forma, a tese que deduz que as diferenças estruturais dos contextos históricos do fascismo na sua época (1922-45) e aquele em que hoje se expande a extrema-direita são obstáculo suficiente para não a podermos considerar neofascista, deveria para ser aceitável obrigar quem a sustenta a recusar falar hoje de democracia em contextos tão radicalmente diferentes do da Atenas do século V a.C.; ou, por comparação com o contexto bolchevique de 1917-18, chamar comunista aos partidos que, em estados liberaldemocráticos, disputam eleições e chegam a partilhar o poder sem propriamente subverter «por dentro»... E chegamos ao antifascismo. Sem se assumir haver uma continuidade entre as direitas extremas de há cem anos (fascistas) e as de hoje (neofascistas), não será viável estratégia alguma de reativação do antifascismo como cultura política e frente social de resistência ao ataque às três grandes conquistas de 1945: a construção da democracia social e a gradual (ainda que, uma vez mais, sempre incompleta) emancipação das classes trabalhadoras; a fundação da democracia sobre a rejeição radical das mundivisões racistas que conduziram a Auschwitz, da dominação colonial e da opressão de todas as minorias étnicas; a emancipação das mulheres de todas as culturas e de todos os continentes, de metade da Humanidade, motor das batalhas por outras emancipações, bem mais tardias, das subjetividades oprimidas definidas em torno da identidade sexual. Sem constituir em si mesmo um movimento político e social próprio, o antifascismo foi uma plataforma de resistência à expansão do fascismo e à subsequente dominação por ele imposta. O que, contudo, marcou a sua identidade na história foi a tomada de consciência de que, quer na Guerra de Espanha (1936-39), quer quando se começou a percecionar coletivamente a possibilidade efetiva de derrotar a Nova Ordem fascista, a luta antifascista era irreversivelmente uma luta pela reconstrução da democracia muito para lá dos estritos objetivos de liberais imperialistas como Churchill, De Gaulle ou Roosevelt, que lutaram contra o expansionismo de Hitler, Mussolini e Tojo mas que não pretendiam nem descolonizar, nem democratizar mais do que a reposição reformada dos termos estruturais do liberalismo oligárquico de 1939.6 «Fornecendo uma explicação convincente para a ascensão e a derrota do nazifascismo, hegemónica entre 1945 e os anos 70, o antifascismo e a memória coletiva por ele embebida sofreram um ataque generalizado com o avanço do neoliberalismo e a implosão do mundo soviético, justamente porque podiam reivindicar ter conseguido derrotar o fascismo como experiência histórica limite na história da violência como prática política, responsável pelo conflito mais mortífero e o modelo de genocídio mais eficaz e industrializado da história.» Fornecendo uma explicação convincente para a ascensão e a derrota do nazifascismo, hegemónica entre 1945 e os anos 70, o antifascismo e a memória coletiva por ele embebida sofreram um ataque generalizado com o avanço do neoliberalismo e a implosão do mundo soviético, justamente porque podiam reivindicar ter conseguido derrotar o fascismo como experiência histórica limite na história da violência como prática política, responsável pelo conflito mais mortífero e o modelo de genocídio mais eficaz e industrializado da história. Como aliança historicamente contingente entre as duas grande famílias ideológicas que, por motivos diferentes, se reviam na Revolução Francesa (o liberalismo e o socialismo), e de uma terceira que o fazia relativamente à Revolução Russa (o comunismo), a aliança antifascista das Nações Unidas (a designação que os aliados de 1941 se deram a si próprios) dividiu-se mal a ameaça fascista foi militarmente eliminada, em 1945, e em torno das mesmas questões que tinha dividido as suas componentes no passado (a dominação burguesa, a natureza intrínseca da desigualdade capitalista, a resistência liberal à democratização social, o imperialismo). É ainda nesse ciclo que nos encontramos: forças políticas muito diferentes podem partilhar (ou melhor, ter partilhado) uma mesma cultura antifascista, mas legitimamente não partilham os mesmos modelos de sociedade. Instrumento central para a defesa de um conjunto articulado de pressupostos democráticos sem os quais se vive automaticamente em ditadura socialmente reacionária, o antifascismo-movimento só se reativará quando os democratas percecionarem coletivamente o perigo, a ameaça (neo)fascista. Se continuarem convencidos que Le Pen, Salvini, Abascal e Ventura, como antes Trump ou Bolsonaro, não passam de figuras efémeras de um ressentimento punitivo e irracional com os quais se pode coexistir porque não querem, ou não conseguem, destruir os regimes liberaldemocráticos dentro dos quais operam, a luta política continuará a ser feita sem recurso ao frentismo antifascista – o mesmo que demorou a mobilizar, uma quinzena de anos passados sobre a ascensão de Mussolini ao poder. O novo ciclo histórico em que entrámos, de neuropolítica7, ansiedade coletiva, recessão económica sem precedentes e securitização global que a gestão política da pandemia tem vindo a acentuar, parece, aliás, ter tudo para facilitar transições autoritárias e dificultar a mobilização antifascista. Só saindo deste ciclo politicamente neurótico e retomando em força, e com urgência, as batalhas democráticas que continuam por fazer, é que conseguiremos apreender o neofascismo em toda a sua natureza. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Na mesma sessão, anunciaram os deputados Yaroslav Zhelezniak e Olha Sovhyria (o primeiro do partido Holos, da direita liberal, e a segunda do partido de Zelensky), foi aprovado um projecto de lei que proíbe a tomada de posições entendidas como sendo «pró-russas» na aplicação de mensagens instantâneas Telegram. Este é o segundo momento, no período que se seguiu ao golpe de estado de 2014, em que partidos políticos são proibidos na Ucrânia, depois da ilegalização do Partido Comunista da Ucrânia em 2015 (à altura com 32 deputados, eleitos por 2 687 246 eleitores). Zelensky dá continuidade ao seu trabalho na área da representação, interpretando, à letra, o poema de Bertold Brecht: «Primeiro vieram buscar os comunistas (...)». Apenas resta saber, após a nova vaga, qual será o próximo grupo político a ser perseguido no país. Por enquanto, a extrema-direita não vê ser entreposto qualquer entrave à sua acção política e paramilitar. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Parlamento ucraniano aprova a proibição dos partidos da oposição
Internacional|
Zelensky suspende a actividade de 11 partidos políticos na Ucrânia
Contribui para uma boa ideia
Quando dá jeito, qualquer opositor é «pró-russo». Por seu lado, a extrema-direita prossegue, intocável
Internacional|
Combate à glorificação do nazismo volta a não contar com o apoio de EUA e aliados
Internacional|
Neonazis e veteranos da Waffen-SS voltaram a marchar em Riga
Glorificação do nazismo e reescrita da história
Repúdio da Rússia
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Uma democracia não-representativa
Opinião|
(Neo)fascismo, antifascismo e transição autoritária
Continuidades ou diferença?
Para que serve dar um nome ao que vivemos?
Antifascismo sem (neo)fascismo?
Contribui para uma boa ideia
Contribui para uma boa ideia
Em duas cidades, dezenas de soldados ocupavam o interior de hospitais, descansando e comendo as suas refeições dentro das instalações. Noutro caso, soldados disparavam nos arredores de uma unidade hospitalar. Num ataque aéreo russo a 28 de Abril, dois trabalhadores de um laboratório de um hospital ocupado pelo exército ucraniano, perto de Kharkiv, ficaram feridos.
Embora as escolas estejam temporariamente encerradas, sem a presença de alunos, a maior parte dos edifícios encontra-se rodeado por bairros muito populados. Nas 22 escolas identificadas com ocupação militar ucraniana (75% das escolas visitadas estavam ocupadas) encontraram-se fardas militares, munições usadas, rações do exército e veículos militares estacionados.
«As forças russas têm bombardeado muitas destas localizações utilizadas pelo exército da Ucrânia». Em pelo menos três casos, após o bombardeamento, os soldados ucranianos limitaram-se a ocupar outra escola nas redondezas, «pondo outras populações em risco de ataques semelhantes». Vários civis terão morrido na sequência destes ataques.
Casos relatados no Donbass, em Kharkiv e Mykolaiv
«Entre Abril e Julho, investigadores da Amnistia Internacional assistiram e documentaram bombardeamentos russos no Donbass e nas regiões de Kharkiv e Mykolaiv. A ONG inspeccionou os locais, entrevistou sobrevivented e familiares das vítimas, tendo ainda recorrido à análise do armamento».
As recentes declarações do Papa Francisco sobre os motivos da guerra na Ucrânia e do candidato brasileiro Lula da Silva sobre a falta de vontade do poder ucraniano negociar a paz mostram que o conflito na Ucrânia não é visto de forma igual em todo o planeta. O Papa Francisco, nascido na Argentina, sugeriu, em entrevista do jornal Corriere della Serra, que a NATO poderá ter motivado a invasão da Rússia à Ucrânia. O Papa disse que a NATO «ladrou» à porta da Rússia e que isto pode ter forçado a invasão da Ucrânia. Por seu lado, o candidato à presidência brasileira, que é vencedor em todas as sondagens, realçou a falta de vontade dos EUA e da União Europeia em que haja uma negociação séria para conseguir a paz na região, numa entrevista à revista Time. «Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, eu vou colher coisa boa. Mas se eu planto discórdia, eu vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a NATO? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na NATO’. Estaria resolvido o problema.» Para o antigo presidente brasileiro, Putin, mas também Zelensky quiseram a guerra. «Zelensky quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo.» Ao contrário da maioria das nações ocidentais, lideradas pelos Estados Unidos, os países do Sul estão a tomar uma posição cautelosa em relação ao conflito armado entre Moscovo e Kiev. É indicativo disso a atitude das monarquias do Golfo, aliadas preferênciais de Washington durante décadas, nesta recusa de tomar partido: denunciam tanto a invasão da Ucrânia como as sanções contra a Rússia. Esses países acusam o Ocidente de ser cego à sua própria hipocrisia e aos seus estreitos interesses ao apelar a uma ordem baseada em regras que eles historicamente raramente cumprem.. Será a Ucrânia um confronto global entre «democracia e autocracia», como proclamado pelo Presidente dos EUA Joseph Biden e repetido por comentadores e políticos ocidentais? «Não», diz o jornalista americano Robert Kaplan, citado por Alain Gresh num artigo no Le Monde Diplomatique, «mesmo que possa parecer contra-intuitiva». Afinal de contas, «a própria Ucrânia tem sido uma democracia fraca, corrupta e institucionalmente subdesenvolvida há muitos anos. No índice mundial de liberdade de imprensa, o relatório Repórteres sem Fronteiras 2021 classifica-o em 97º lugar». «A luta», acrescenta Kaplan, «é sobre algo mais amplo e fundamental, o direito dos povos a decidirem o seu próprio futuro e a estarem livres de agressões.». Se, no Norte, as vozes discordantes sobre a guerra na Ucrânia continuam a ser raras e pouco audíveis, de tal modo que uma única forma de pensar em tempos de guerra se impôs mais uma vez , elas dominam no Sul, neste «resto do mundo» que constitui a maioria da humanidade e que observa este conflito com outros óculos. A sua visão foi resumida pelo Director-Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que lamenta que o mundo não dê igual importância às vidas de negros e brancos, às dos ucranianos, iemenitas ou dos cidadãos do Tigre, que «não trate a raça humana da mesma forma, sendo uns mais iguais do que outros». Ele já tinha feito esta observação no coração da crise da covid-19, recorda Alain Gresh . Esta é uma das razões pelas quais um número significativo de países, particularmente africanos, se absteve das resoluções das Nações Unidas (ONU) sobre a Ucrânia – entre os quais, a África do Sul , Índia, Arménia e México, Senegal e Brasil. E no final de Abril, nenhum país não ocidental parecia pronto a impor grandes sanções contra a Rússia. O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky tem tido uma prestação muito eficiente junto ao público ocidental. O esmagador apoio ocidental à Ucrânia deve-se não só à brutalidade da invasão ilegal da Rússia, mas também à astúcia e ao carisma com que Zelensky tem conseguido pressionar para ser concedida uma ajuda militar à Ucrânia. Um reforço militar que vai no sentido da política da administração Biden de prolongar uma guerra que desgaste a Rússia. Mas por mais eficaz que Zelensky tenha sido em angariar apoio da opinião pública ocidental, a mensagem da Ucrânia tem sido muito menos convincente para as audiências do Sul Global, onde muitos países se têm recusado a aderir às campanhas para sancionar a economia russa e isolá-la diplomaticamente. Isto ficou muito claro no Fórum de Doha no Qatar, onde Zelensky e a vice-ministra dos Negócios Estrangeiros ucraniana, Emine Dzhaparova, intervieram. A antiga jornalista, poderosa comunicadora por direito próprio, Dzhaparova, tártara da Crimeia, argumentou a partir dos temas usados pelos líderes ocidentais: Esta guerra não tem a ver apenas com a Ucrânia, mas com a sobrevivência da «ordem internacional baseada em regras». Argumentos que o presidente dos EUA Joe Biden e os líderes europeus têm repetidamente iusado para condenar a intervenção russa. Mas é aí que reside o motivo da falta de empatia com grande parte do Sul Global. A maior parte desses países sabe, por experiência própria, que há muito que os países ocidentais não cumprem as regras do direito internacional. É conhecida a velha anedota mexicana, em que o presidente desse país no final do século XIX e início do século XX, Porfírio Díaz, garantiu que «o problema do México era estar muito longe de Deus e muito perto dos EUA», assinalando as dezenas de intervenções que a América Latinha tinha sofrido às mãos do seu poderoso vizinho. Em conversas com diplomatas e analistas de toda a África, Ásia, Médio Oriente e América Latina, o dirigente do Quincy Institute for Responsible Statecraft, Trita Parsi, nota que estes países simpatizam largamente com a situação do povo ucraniano e vêem a Rússia como o agressor. Mas as exigências ocidentais de que façam sacrifícios dispendiosos, cortando os laços económicos com a Rússia para manter uma «ordem baseada em regras», geraram uma reacção alérgica. Essa ordem não tem sido baseada em regras; em vez disso, tem permitido aos EUA violar impunemente o direito internacional. A mensagem do Ocidente sobre a Ucrânia é pouco provável que ganhe o apoio de países que muitas vezes experimentaram os piores lados da suposta ordem internacional. Os países que têm contrariado os apelos ocidentais à ajuda e à unidade diplomática que têm recebido mais atenção são a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Numa ruptura brusca com Washington, promoveram o seu abraço económico e político à Rússia, ao mesmo tempo que rejeitaram o pedido de Biden de baixar os preços do petróleo através de bombearem mais petróleo e o disponibilizarem nos mercados internacionai. Os EAU recusaram-se a denunciar a invasão da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, e enquanto o seu líder de facto, Mohammed bin Zayed, recusou um telefonema com Biden, ordenou ao seu ministro dos Negócios Estrangeiros que se deslocasse à Rússia para reforçar os laços económicos com Moscovo. As preocupações de Riad e Abu Dhabi diferem nitidamente das da maioria do Sul Global, mais vasto, e radicam principalmente na deterioração dos seus laços com Washington, por problemas económicos e por considerarem que os EUA não os têm apoiado suficientemente em relação à disputa regional que têm com o Irão. Esta degradação das relações políticas tem reflexos na imprensa e na opinião pública desses países. «A NATO é uma das chaves para esta recente crise [...]. É certo que a Rússia - o legítimo herdeiro da União Soviética - não aceitará a expansão da NATO perto das suas fronteiras sob quaisquer condições», afirmou um editorialista no influente diário saudita Okaz a 25 de Fevereiro de 2022, três dias após o início da invasão da Ucrânia. No dia seguinte, outro comentador no mesmo diário observou: «O que é certo é que a invasão da Ucrânia pelo presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu novos factos no terreno que não podem ser ignorados. Impôs uma nova ordem mundial completamente diferente da que o Ocidente impôs à Rússia». Na mesma linha, o diário saudita Al-Riyadh insistiu a 3 de Março: «A velha ordem mundial que surgiu após a Segunda Guerra Mundial era bipolar, mas tornou-se unipolar após o colapso da União Soviética. Hoje estamos a assistir ao início de uma mudança para um sistema multipolar». E, visando o Ocidente, acrescentou: «A posição de alguns países nesta guerra não é defender os princípios da liberdade e da democracia, mas os seus interesses em manter a ordem mundial existente». A mesma crítica foi expressa nos meios de comunicação social dos Emirados Árabes Unidos (EAU). «As flutuações na posição dos EUA não são surpreendentes. Não é novidade para eles entregarem-se ao engano e renegarem os seus compromissos, como têm feito em várias áreas e questões. Têm utilizado de forma consistente as forças locais para servir os seus propósitos, apenas para lhes virar as costas e deixá-las vulneráveis. Washington e o Ocidente encorajaram a propensão ucraniana a opor-se à Rússia [...]. O comportamento de Washington e as posições europeias sobre a crise ucraniana, e a sua exploração da difícil situação de Kiev, revelam um problema nos valores dos seus sistemas políticos». Lendo estes comentários, quase parece que a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos não são aliados estratégicos dos EUA. No entanto, resumem os dois temas que dominam nos meios de comunicação nestes países, para além da condenação mais ou menos pronunciada da invasão da Ucrânia. Primeiro, uma crítica por vezes virulenta ao presidente dos EUA, Joe Biden, e aos Estados Unidos, que, embora permanecendo um aliado, não é considerado fiável porque acaba por trair os seus amigos. Quanto à sua defesa do direito internacional, é hipócrita: não invadiram e destruíram o Iraque em 2003 sem aprovação das Nações Unidas? E se a Ucrânia está parcialmente ocupada há algumas semanas, a Palestina está ocupada há décadas, com o apoio determinado dos Estados Unidos e o apoio mais embaraçado dos europeus. Para não falar do racismo expresso na crise dos refugiados e da «duplicidade de critérios», «dependendo se é ucraniano ou africano». O outro leitmotiv desses orgãos de comunicação social desses países, é a reorganização da ordem internacional, que se tornou multipolar, com um novo lugar para a Rússia e sobretudo para a China (e mais amplamente para a Ásia), acompanhada pela retirada dos Estados Unidos do Golfo. É portanto do interesse de ambos os países prosseguir a diversificação das suas relações e afastar-se de uma relação de um para um apenas com o Ocidente. Para o resto do Sul Global, vários factores estruturais locais e mais amplos contribuíram para uma hesitação em apoiar o isolamento da Rússia. Potências sul-americanas como o Brasil e o México, os pesos pesados africanos África do Sul e Etiópia e a crescente potência asiática Índia são todas maioritárias nas suas regiões na sua recusa em sancionar a Rússia. As relações da Índia com a Rússia remontam à Guerra Fria, quando a União Soviética vetou numerosas resoluções do Conselho de Segurança da ONU sobre Caxemira que a Índia se opunha. A Rússia continua a ser um dos principais fornecedores de armas da Índia até aos dias de hoje. O mesmo se aplica a muitos países africanos. De acordo com o Stockholm International Peace Research Institute, 18 por cento de todas as vendas de armas russas foram para África entre 2016 e 2020. A dependência africana do trigo e fertilizantes russos e ucranianos é ainda maior - um quarto dos países africanos recebe um terço do seu trigo da Rússia e da Ucrânia. O Egipto conhece demasiado bem o significado disto. O aumento dos preços dos cereais russos e ucranianos nos meses que antecederam a Primavera árabe em 2011 desempenhou um papel crucial na criação das condições sociais para os protestos que eclodiram em toda a região. Mas a maior dependência ou vulnerabilidade do Sul Global em relação à Rússia não conta a história toda. Muitos destes Estados também vêem uma hipocrisia flagrante ao enquadrar a guerra da Ucrânia em termos da sobrevivência da ordem baseada em regras. Do seu ponto de vista, nenhum outro bloco minou mais o direito internacional, as normas ou a ordem baseada em regras do que os Estados Unidos e o Ocidente. Exemplos não faltam. Nos últimos anos, os EUA subverteram a ordem baseada em regras quando Donald Trump retirou-se do Conselho de Direitos Humanos da ONU devido às suas críticas ao tratamento dado por Israel aos palestinianos e cortou verbas à Organização Mundial de Saúde no meio da pandemia da covid-19, por esta não endossar acusações fantasiosas contra a China, e sancionou altos funcionários do Tribunal Penal Internacional por procurarem investigar os crimes de guerra americanos no Afeganistão. (O mesmo EUA que se recusa a ser investigado por crimes de guerra pede que o tribunal investigue os crimes de guerra russos na Ucrânia). Há também a flagrante ilegalidade da invasão do Iraque pela administração George W. Bush, a intervenção da administração Obama na Líbia, o apoio contínuo dos EUA e do Reino Unido à guerra saudita no Iémen (que deixou 13 milhões de pessoas em risco de fome) e a celebração da resistência armada ucraniana contra os invasores russos, condenando ao mesmo tempo não só a resistência palestiniana contra a ocupação israelita, mas também proibindo a oposição económica não violenta a essa ocupação de décadas. E depois há a «guerra global ao terror», que desestabilizou grande parte do Médio Oriente e do Norte de África, matando mais do dobro do número de pessoas que os próprios terroristas assassinaram desde os ataques de 11 de Setembro. De facto, embora os EUA tenham desempenhado um papel instrumental no estabelecimento das regras e normas da ordem pós Segunda Guerra Mundial, começaram quase imediatamente a quebrá-las. Durante os seus dois mandatos, o Presidente Dwight D. Eisenhower autorizou nada menos que 104 operações encobertas, que incluíam derrubar governos e armar revoltas regionais. Mas agora os EUA exigem que os países do Sul Global façam sacrifícios maciços e dispendiosos - com pouca consideração pelas suas vulnerabilidades e necessidades de segurança - para salvar uma ordem que os próprios EUA têm estado na linha da frente na sua violação. Voltar a uma ordem em que os EUA possam continuar a agir fora do direito internacional é equivalente a pedir ao Sul Global que faça sacrifícios insuportáveis para manter o excepcionalismo americano. A outra linha de argumentação dos meios de comunicação árabes denuncia a dupla conversa do Ocidente. Democracia? Liberdade? Crimes de guerra? Os direitos dos povos à autodeterminação? Serão os Estados Unidos, que bombardearam a Sérvia e a Líbia, que invadiram o Afeganistão e o Iraque, os mais qualificados para reivindicar o direito internacional? Não utilizaram também munições de fragmentação, bombas de fósforo, projécteis de urânio empobrecido? Os crimes dos militares norte-americanos no Afeganistão e no Iraque foram amplamente documentados sem nunca conduzir a acusações, a destruição infligida a estes dois países excede em muito o que tragicamente está a sofrer a Ucrânia. A Palestina, que está totalmente ocupada há décadas enquanto a Ucrânia está parcialmente ocupada há algumas semanas, continua a ser um ponto doloroso no Médio Oriente, mas não suscita qualquer solidariedade por parte dos governos ocidentais, que continuam a oferecer um cheque em branco a Israel. «Não é inútil recordar», observa um jornalista local, «os cânticos entoados durante as manifestações, as declarações iradas que, ao longo dos anos e décadas, têm implorado sem resultados para ajudar o povo palestiniano bombardeado em Gaza ou que vive sob a ameaça de incursões, assassinatos, assassínios, apreensões de terras e demolições de casas na Cisjordânia, uma área que todas as resoluções internacionais consideram territórios ocupados». A comparência do Presidente Volodymyr Zelensky perante o Knesset, traçando um paralelo entre a situação do seu país e a de Israel «ameaçada de destruição», indignou muitos, sem, além disso, obter o apoio esperado de Telavive, ligado às suas estreitas relações com Moscovo. Finalmente, o tratamento diferenciado concedido aos refugiados ucranianos, brancos e europeus em comparação com os do «resto do mundo», asiáticos, norte-africanos e subsaarianos, despertou uma amarga ironia no Médio Oriente, como em todo o Sul. Dir-se-á que isto não é novidade, que as opiniões árabes (e os meios de comunicação social) sempre foram anti-ocidentais, que a «rua árabe», como por vezes é desdenhosamente chamada nas chancelarias europeias e norte-americanas, não tem muito peso. Afinal, na primeira Guerra do Golfo (1990-1991), a Arábia Saudita, o Egipto e a Síria deixaram-se arrastar para a guerra ao lado dos Estados Unidos, contra a vontade das suas populações. No caso da Ucrânia, por outro lado, estes países, mesmo quando são aliados de longa data de Washington, distanciaram-se do Tio Sam, e não apenas da Arábia Saudita. A 28 de Fevereiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros dos EAU, Sheikh Abdullah bin Zayed Al-Nahyane, encontrou-se com o seu homólogo russo Sergei Lavrov em Moscovo e saudou os estreitos laços entre os dois países. E o Egipto não respondeu à injunção não diplomática dos embaixadores do G7 no Cairo para condenar a invasão russa. Até Marrocos, um aliado fiel de Washington, esteve convenientemente «ausente» da votação da Assembleia Geral da ONU sobre a Ucrânia no dia 2 de Março. No momento que as medida e as linhas divisórias ideológicas de outrora se desvanecem, que as promessas de uma «nova ordem internacional» feitas por Washington no rescaldo da primeira Guerra do Golfo se afundam nos desertos iraquianos, um mundo multipolar está a emergir no caos. Oferece uma margem de manobra mais ampla para o «resto do mundo». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Metade do mundo condena a guerra na Ucrânia mas não confia no Ocidente
Há várias formas de ver o mundo
Quando as regras internacionais só são cumpridas por uns
Quando os aliados dos EUA no golfo o abandonam
Dois pesos e duas medidas
Contribui para uma boa ideia
Foi através destas investigações que a Amnistia Internacional encontrou provas de disparos de armamento pesado ucraniano efectuados no seio de zonas densamente populadas, assim como o estabelecimento de bases militares em edifícios cívis em 19 cidades e vilas destas regiões. A análise de imagens de satélite «corroborou alguns destes incidentes».
Vários sobreviventes e testemunhas de ataques russos nessas regiões denunciaram a presença de forças militares ucranianas em acção perto das suas habitações, «expondo essas zonas à retaliação das forças russas». A Amnistia testemunhou, presencialmente, inúmeras situações deste tipo.
«A lei internacional exige que ambas as partes de um conflito evitem, na medida do possível, estabelecer objectivos militares perto, ou dentro, de áreas de grande densidade populacional. São igualmente responsáveis pela protecção dos civis, removendo-os, sempre que possível, das proximidades e alertando activamente para os ataques que os possam afectar».
«O facto de o exército ucranino situar bases militares em zonas de alta densidade populacional não juntifica ataques indiscriminados russos», realça o relatório da Amnistia. Porém, «ambas as partes devem saber distinguir entre objectivos militares e a população civil, tomando todas as precauções possíveis (incluíndo a escolha do armamento utilizado) para minimizar baixas».
«Todos os ataques indiscriminados que matam e ferem civis, ou danificam objectos civis, constituem crime de guerra», adverte a Amnistia Internacional.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui