A Organização Nacional Indígena da Colômbia (ONIC) denunciou esta segunda-feira o assassinato de Marta Carolina Cañas Yagarí, dirigente social indígena Embera Chamí, de 23 anos, na reserva de Karmata Rúa, no departamento de Antioquia.
Vista pela última vez no domingo à noite a caminho de casa, Cañas Yagarí foi encontrada morta a poucos quilómetros da sua residência. De acordo com a TeleSur, o corpo da jovem apresentava feridas de arma branca e, apesar de se desconhecerem mais detalhes do assassinato, este poderá estar relacionado com uma série de ameaças recebidas nos últimos dias, alegadamente por parte de grupos armados, segundo revelou a ONIC.
Também ontem, a Contagio Radio dava conta do assassinato de uma outra jovem dirigente social no mesmo departamento. Trata-se de Leidy Correa Valle, de 25 anos, que foi dada como desaparecida há alguns dias e encontrada morta, com sinais de tortura.
Oscar Zapata, membro da secção de Antioquia da Coordenação Colômbia-Europa-Estados Unidos (CCEEU), disse que Leidy era secretária da Junta de Acção Comunal da vereda de Guayabal, município de Peque, onde ocorreram os factos.
Zapata referiu que a jovem não tinha recebido qualquer tipo de ameaça, mas sublinhou que na região existe uma forte presença das Autodefensas Gaitanistas de Colombia (AGC). «Apesar de terem sido postas ao corrente desta situação, as autoridades não tomaram as medidas necessárias e, pelo contrário, negaram o facto», denunciou Zapata.
No passado dia 5, Oscar Zapata revelou a morte de um outro dirigente social no departamento: Norberto Jaramillo, presidente da Junta de Acção Comunal da vereda La Envidia, que estava ligado ao processo de substituição de cultivos de uso ilícito e que Zapata caracterizou como «um líder inato».
Jaramillo foi morto a tiro no dia 3 de Setembro, depois de várias pessoas armadas o terem abordado em sua casa, no município de Tarazá. O dirigente social não tinha revelado a existência de ameaças contra a sua vida; contudo – denunciou Zapata –, os dirigentes do processo de substituição de cultivos em Tarazá «estão a ser extorquidos pelo grupo Los Caparrapos, e são ameaçados pelas Autodefensas Gaitanistas de Colombia caso não paguem essas extorsões».
«O Estado esqueceu-se de Antioquia»
Para Oscar Zapata, estes assassinatos «fazem parte de uma estratégia selectiva e sistemática contra o movimento de defensores dos direitos humanos».
«Da parte do Estado, as acções não existem, não há uma vontade real, e todas as políticas no âmbito da prevenção e protecção evidenciam, com estes números, que estamos a perder a vida de homens e mulheres muito válidos para o país e a democracia», declarou Zapata à Contagio Radio.
Em meados de Agosto, na sequência do aparecimento de novos panfletos com ameaças a dirigentes sociais e funcionários públicos, da autoria das AGC e de um novo grupo, chamado Agucan, o representante da CCEEU em Antioquia revelou que, na região do Baixo Cauca, cerca de 110 dirigentes tinham abandonado o trabalho que estavam a realizar.
Referindo-se a todo o departamento de Antioquia, afirmou ter-se registado «um aumento de 110% nas ameaças», o que conduziu a «movimentações massivas» das populações. Disse ainda que, agora, a maioria das ameaças chegam aos dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos – «para os intimidar» – por via da aplicação WhatsApp.
De acordo com os dados divulgados em Maio pela Marcha Patriótica, pela Cimeira Agrária, Étnica e Popular e pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), em 2016 foram assassinados na Colômbia 116 «líderes sociais e defensores dos direitos humanos» e, em 2017, 191.
Relativamente a 2018, em Agosto estes organismos revelaram que, até ao final Julho, foram assassinados 123.
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