|México

Avanços nas investigações a 7 anos do desaparecimento dos 43 de Ayotzinapa

Em várias cidades do México, os manifestantes exigiram justiça e reclamaram da lentidão nas investigações para esclarecer os factos. Ainda assim, a «verdade histórica» de Peña Nieto já foi desmontada.

Milhares de pessoas manifestaram-se no México a sete anos do desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa 
Créditos / @FundarMexico

Milhares de pessoas mobilizaram-se este domingo, em vários pontos do México, para exigir «verdade e justiça» no caso do desaparecimento forçado dos 43 estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, no estado de Guerrero, a 26 de Setembro de 2014.

«Vivos os levaram, vivos os queremos» continua a ser o lema principal das manifestações, sete anos depois, promovidas pelos familiares, organizações sociais e de defesa dos direitos humanos.

Sem que se tenha ainda certeza de qual foi o destino e paradeiro dos estudantes atacados por agentes da Polícia em conjunto com criminosos, e num momento em que apenas foram identificados os restos mortais de três deles, os seus familiares mantêm os apelos às autoridades para que avancem nas investigações e dêem a conhecer a explicação do caso.

Nesse sentido, reuniram-se este sábado na capital do país com o presidente da República, Andrés Manuel López Obrador, e autoridades judiciais.

O caso de Ayotizpana e a chamada «verdade histórica»

Na noite de 26 e na madrugada de 27 de Setembro de 2014, polícias e criminosos atacaram a tiro cerca de cem estudantes de Ayotzinapa, no estado de Guerrero, e 43 deles foram dados como desaparecidos.

O crime ocorreu durante o governo de Enrique Peña Nieto (2012-2018), que determinou uma versão dos factos que ficou conhecida como «verdade histórica», de acordo com a qual os estudantes desaparecidos foram entregues por polícias do município de Iguala, em Guerrero, a elementos do grupo criminoso Guerreros Unidos, que assassinaram os jovens, queimaram os seus corpos e os atiraram a um rio.

Avanços nas investigações

Essa versão viria a ser posta em causa e refutada pelos pais dos estudantes e por organizações humanitárias, que acusaram Peña Nieto de ter silenciado o caso, ocultado elementos e dificultado as investigações independentes, num contexto geral de violência e impunidade.

Quando López Obrador se tornou presidente do México, em Dezembro de 2018, uma das promessas que fez foi esclarecer o desaparecimento dos estudantes da Escola Normal Isidro Burgos.

Este sábado, ao dar a conhecer os avanços na investigação, a sete anos dos factos, o magistrado especial encarregue do caso, Omar Gómez Trejo, afirmou em conferência de imprensa que a «verdade histórica» do governo de Peña Nieto foi fabricada «à base de torturar as testemunhas», indica a TeleSur.

|

México cria mecanismo especial para o caso dos desaparecidos de Ayotzinapa

Os estudantes da Escola Normal Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, foram interceptados pela Polícia em Iguala (estado de Guerrero), a 26 de Setembro de 2014, e ainda se desconhece o seu paradeiro.

Manifestação para exigir a verdade sobre o caso de Ayotzinapa e responsabilidades ao Estado mexicano
Créditos / fallingintoincandescence.com

O governo mexicano e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) decidiram criar um Mecanismo Especial de Cooperação e Assistência Técnica para o caso dos 43 estudantes de Ayotzinapa desaparecidos em 2014.

O acordo foi estabelecido esta quinta-feira entre Secretaria mexicana dos Negócios Estrangeiros e a CIDH para acompanhar os trabalhos da Comissão para a Verdade e de Acesso à Justiça no Caso de Ayotzinapa, revela a TeleSur.

O convénio surge no âmbito do que ficou estipulado num decreto firmado no passado dia 4 de Dezembro, no qual se determina criar as condições materiais, jurídicas e humanas efectivas para reforçar os direitos humanos dos familiares das vítimas do caso de Ayotzinapa à verdade e ao acesso à Justiça.

A criação do mecanismo responde também a uma proposta dos familiares dos estudantes desaparecidos, disse a subsecretária do governo mexicano para os Assuntos Multilaterais e os Direitos Humanos, Martha Delgado, que explicou que o mecanismo tem por objectivo prestar assistência técnica e apoiar o desenvolvimento de capacidades institucionais em questões relacionadas com os direitos humanos, incluindo as relativas ao desaparecimento, busca, investigação, atendimento às vítimas e reparação integral – previamente acordados entre as partes, segundo noticia a Prensa Latina.

«Queremos ver resultados»

No final de Fevereiro, na marcha que assinalou os 53 meses do desaparecimento dos 43 de Ayotzinapa, os pais dos jovens, acompanhados por centenas de pessoas, na Cidade do México, voltaram a exigir esclarecimentos sobre o paradeiro dos seus filhos.

Na ocasião, reconheceram que o governo de Andrés Manuel López Obrador está disposto a colaborar com eles na busca da verdade, mas lamentaram não ver «avanços nas investigações».

«Vimos a disposição do novo governo, que se comprometeu. Até ao momento, formou as comissões, mas o que nós queremos ver são resultados», disse à TeleSur Hilda Legideño, manifestante e mãe de um dos desaparecidos.

«As instituições debilitam-se se se esconde a verdade»

Ainda antes de tomar posse como presidente do México, em Dezembro último, López Obrador reuniu-se com os familiares dos jovens de Ayotzinapa, por ocasião do quarto aniversário do seu desaparecimento, em Setembro do ano passado, tendo ouvido as suas exigências e comprometido a fazer avançar as investigações em defesa da justiça e da verdade, de modo a eliminar os entraves com que as investigações se depararam ao logo da governação do seu antecessor, Peña Nieto.

Também se comprometeu a permitir a participação de organizações internacionais nas investigações, nomeadamente das Nações Unidas e do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), cuja missão foi cancelada pelo governo de Peña Nieto.

Os 43 de Ayotzinapa

Os 43 estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, em Ayotzinapa, desapareceram em Iguala, no estado de Guerrero, a 26 de Setembro de 2014. De acordo com a versão oficial, os estudantes viajaram para Iguala para participar num protesto quando foram interceptados por «polícias corruptos», que os entregaram a membros do cartel Guerreros Unidos, que os mataram e queimaram num aterro.

No entanto, esta versão viria a ser posta em causa, e os familiares dos desaparecidos exigiram respostas ao governo de Peña Nieto, que é acusado de ter silenciado o caso, ocultado elementos e dificultado as investigações independentes, num contexto geral de violência e impunidade.

Isso mesmo é apontado no documento sobre a violência no México elaborado, em 2015, pelo relator especial das Nações Unidas contra a tortura, Juan E. Méndez. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autónomo da Organização de Estados Americanos (OEA), também criticou duramente as autoridades mexicanas em diversas ocasiões.

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

Em virtude disso, as pessoas que foram apresentadas pela então Procuradoria-Geral da República (PGR) como autores materiais do desaparecimento e da execução dos 43 estudantes foram exoneradas, disse Gómez Trejo.

O magistrado explicou ainda que a versão do governo anterior de que todos os estudantes foram queimados num mesmo local já foi desmontada, uma vez que as investigações mostraram que os restos mortais de dois estudantes estiveram expostos à intempérie durante sete anos, não apresentando sinais de exposição ao fogo.

O procurador do caso Ayotzinapa indicou que os restos encontrados recentemente foram enviados para a Universidade de Innsbruck, na Áustria, e que a análise os permitiu identificar como Christian Rodríguez Telumbre e Jhosivani Guerrero de la Cruz. Desta forma, há três estudantes identificados.

Lidar com «complicações», fugas para Israel

Além disso, referiu-se a um outro aspecto que trouxe complicações ao avanço das investigações, o facto de entre Outubro de 2014 e 22 de Setembro último «terem morrido ou sido executadas 21 pessoas ligadas ao caso», pelo que se perderam «importantes fontes de informação».

O responsável precisou que, pela prática dos alegados crimes de manipulação das investigações, foram decretadas 89 ordens de detenção. Destas, refere a TeleSur, 48 já foram concretizadas; entre as 40 detenções por realizar encontra-se a do ex-director da Agência de Investigação Criminal da PGR, Tomás Zerón, que fugiu para Israel.

O governo de López Obrador já solicitou a extradição de Zerón, que teve a seu cargo a investigação do desaparecimento dos estudantes de Ayotzinapa e é acusado de torturar testemunhas e manipular provas para criar a chamada «verdade histórica».

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui