|Eurovisão

Banda sonora para um genocídio

Para orgulho de todos nós, foram portuguesas as vozes que melhor se ouviram, vozes de cidadãs, de mulheres de paz, que tiveram a coragem de se distanciar da cumplicidade objectiva da EBU e afins com a carnificina e a limpeza étnica que o regime sionista comete há 76 anos na Palestina.

CréditosPedro Pina / RTP

É compreensível que o leitor não tenha estômago, tempo e paciência para frequentar anualmente esse happening de decadência cultural, cívica e humanista a que chamam Festival da Eurovisão. Numa outra perspectiva, porém, saiba que não é fácil encontrar um concentrado tão perfeito, directo e completo para ilustrar o estado de degradação a que chegou a «civilização ocidental», aquela que diz carregar os valores que enformam a sociedade perfeita e o ser humano ideal.

Num Festival da Eurovisão resumem-se os comportamentos, os tiques e as práticas inerentes à necessidade de continuar a impôr à generalidade do mundo um conceito civilizacional, cultural e humanista superior, único e inquestionável. O Festival da Eurovisão tem, por isso mesmo, uma virtude insubstituível: dá-nos a oportunidade de observarmos um Ocidente desnudado de cuidados e disfarces hipócritas usados em circunstâncias não enquadráveis na área do entretenimento, deixando cruamente perceber aquilo em que se transformou – exactamente o contrário do que diz ser.

Que o espectáculo e as incidências em seu redor sejam uma réplica da mediocridade tóxica que Hollywood exporta como arte oficial do neoliberalismo globalista e das oligarquias dominantes, não temos de nos surpreender. É a ordem natural e colonial das coisas, a cultura formatada para transformar as grandes massas de cidadãos em rebanhos de imbecis da mesma maneira que o aparelho transnacional mediático gera exércitos de ignorantes, pessoas desabituadas de se interrogarem sobre as realidades que as cercam.

Ora, a União Europeia de Radiodifusão, esse antro de perversão ética conhecida anglo-saxonicamente por EBU, é um braço qualificado da central globalista de propaganda que reúne as rádios e televisões públicas dos países europeus, todos eles europeus de gema como, por exemplo, Israel e a Austrália, talvez num futuro próximo a Nova Zelândia, o Canadá, os Estados Unidos. Aliás, todos estamos informados, através de uma prática quotidiana que se prolonga há séculos, de que o Ocidente é onde o Ocidente quiser.

«Aliás, todos estamos informados, através de uma prática quotidiana que se prolonga há séculos, de que o Ocidente é onde o Ocidente quiser.»

Cabe à EBU organizar anualmente o Festival da Eurovisão onde, no essencial, se promovem o ruído em vez da música, versículos delicados como martelo-pilão no lugar da poesia e a incandescência de luzes que cegam aconselhável para criar um ambiente irracional de plena fruição niilista.

A EBU abusa do seu direito discricionário ao transformar a música, a poesia e a encenação no equivalente ao fast food das artes de palco – nada disso deveria esperar-se do tão falado serviço público. É verdade que o espectador só consome se quiser, tem sempre a possibilidade, graças às benesses do mercado, de emigrar para as estações privadas – que lhe servem mais do mesmo porque assim determinam a lei do lucro e o culto da cabeça oca. O consumidor não se sente satisfeito? Culpa do próprio, esquisito ou demasiado exigente.

Nada de políticas

O Festival da Eurovisão tem um dogma existencial: é um acontecimento apolítico. E a EBU assume esse estatuto até às últimas consequências, afinal com a mesma seriedade com que a «civilização ocidental» defende os direitos humanos.

Para que as tentações políticas sejam expurgadas do sistema, a EBU censura, persegue, ameaça, expulsa, mente, mas graças a esses comportamentos tão inequivocamente democráticos cumpre-se o desígnio sagrado.

Provavelmente, o festival deste ano foi o mais elucidativo quanto ao que representa a EBU como instrumento da «nossa civilização», dos nossos valores. A Rússia foi liminarmente excluída do concurso por ter invadido a Ucrânia; à Bielorrússia aconteceu o mesmo, embora não se saiba muito bem o que fez, talvez penalizada por ser aliada de Moscovo.

Nunca a EBU admitiu excluir a Ucrânia por conduzir há dez anos uma guerra contra as populações civis de vastas regiões do país, aliás de acordo com as consignas nazis e racistas do «nosso» regime de Kiev. Como entidade apolítica, não cabe à EBU inteirar-se dos crimes cometidos por um regime nazi; aliás, no ano em que foi invadida pela Rússia, a Ucrânia teve o privilégio visivelmente apolítico de ganhar o Festival da Eurovisão.

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Eurovisão proíbe símbolos pró-palestina para não «perturbar o sucesso do evento»

A cumplicidade é cada vez mais evidente. A organização do Festival Eurovisão anunciou que vai proibir a entrada de bandeiras da Palestina e outros símbolos pró-palestinianos. A razão? Evitar qualquer objecto que «possa perturbar o sucesso do evento».

Será na Suécia, o país que quer entrar na NATO e usou curdos como moeda de troca, que se realizará, entre 7 e 11 de Maio, o Festival da Eurovisão da Canção. O evento da União Europeia de Radiodifusão anunciou esta semana que não irá permitir a entrada de bandeiras da Palestina e outros símbolos pró-palestinianos.

À agência Associated Press (AP), a União Europeia de Radiodifusão afirmou que se reserva no direito de «retirar quaisquer outras bandeiras ou símbolos, vestuário, artigos e cartazes que estejam a ser utilizados com o objetivo provável de instrumentalizar os programas de televisão».

A justificação para além do objectivo apagamento da causa palestiniana passa, supostamente, evitar qualquer objecto que «possa perturbar o sucesso do evento». Martin Österdahl, supervisor executivo do concurso, disse ainda que «estas regras são as mesmas do ano passado» e «não há qualquer alteração», mesmo sabendo-se da recusa em tratar Israel como a Federação Russa. 

Esta tomada de posição vem no sentido de uma cedência às vontades israelitas, uma vez que o Conselho de Segurança Nacional de Israel emitiu um suposto alerta para que os israelitas reconsiderassem a viagem à Suécia por se tratar de «um foco de protestos anti-israelitas»

Naturalmente estão marcados protestos em solidariedade com a Palestina, até porque, dado o silenciamento e a cumplicidade da organização da Eurovisão com o massacre que está a ocorrer na Faixa de Gaza, a única opção é sair à rua para que o foco mediático se mantenha. 
 

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Este ano, os ambientes em redor do festival toldaram-se um pouco mais porque alguém, completamente a despropósito e parece que confundindo o que não pode ser confundível, alegou que também Israel deveria ficar de fora do concurso devido ao genocídio e à limpeza étnica que continua a praticar contra o povo palestiniano.

Nada disso, contrapôs a EBU, excluir Israel seria o mesmo que politizar o festival. Além disso, é completamente descabido comparar o caso de Israel ao da Rússia. Explica a EBU que o festival é um concurso de estações públicas de rádio e TV e não de países. A organização deve avaliar se os comportamentos dessas empresas respeitam as normas apolíticas do concurso e, analisando as circunstâncias, concluiu que a televisão pública sionista se comporta como deve ser, o que não acontece com a da Rússia, que apoia a invasão da Ucrânia.

Deveremos deduzir que a televisão israelita trata de maneira objectiva e apolítica as operações militares de chacina em Gaza, além de funcionar sob censura militar. Faz todo o sentido.

Em matéria de coerência, o comportamento da EBU não fica por aqui. Alguém lembrou aos organizadores do festival que, se o certame se disputa entre empresas de rádio e televisão, por que razão se usam as bandeiras dos países e não as das instituições concorrentes? Não será isso uma opção política e até nacional-populista? A EBU respondeu que se trata de uma falsa dúvida, sem qualquer lógica. E mais não disse.

Mulheres corajosas e de paz

Apesar destas convincentes explicações, continuou a haver gente recalcitrante quanto à presença de Israel no concurso, pessoas visivelmente antissemitas, quiçá simpatizantes do Hamas, como informados comentadores, organizadores, generais e politólogos desde logo sugeriram.

Para desgosto da EBU e de vários outros meios dotados com a vocação civilizacional do Ocidente, o rebanho em construção tem ainda muitas dissidências. Demasiadas dissidências – até, imagine-se, entre membros dos júris nacionais, e mesmo entre os concorrentes. Assim como há aqueles participantes que ainda insistem em apresentar música e poesia, sujeitando-se, inapelavelmente, à secundarização e ao desrespeito pelo seu trabalho, há também os que não desistem de pensar, de se interrogar e até de invocar a paz – o que levou a EBU a sacar da censura e da ameaça de penalizações tal como, em seu tempo, Hitler puxava da pistola quando ouvia falar em cultura.

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No caso de Israel, a Eurovisão já defende um «diálogo construtivo»

«Tendo em conta a crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de um candidato russo levaria ao descrédito» do festival da Eurovisão. O mesmo critério não se parece aplicar aos mais de 30 mil civis mortos em Gaza: Israel vai a concurso.

Créditos / Eurovisionfun

A EBU (União Europeia de Radiodifusão) «reconhece que o Festival Eurovisão da Canção deste ano suscitou fortes emoções e um intenso debate em torno da inclusão de um candidato israelita». Os dois pesos e duas medidas da entidade que gere o concurso europeu de canções, fundado em 1958, está a criar uma enorme comoção, com vários apelos ao boicote ao festival enquanto Israel, responsável pelo genocídio na Faixa de Gaza, participar.

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A fome é um crime de guerra: notas do genocídio israelita contra os palestinianos

Neste Ramadão não há refeição matinal (Suhoor) nem refeição noturna (Iftar). Há apenas o barulho perene dos caças israelitas e os gemidos de fome nas barrigas.

Créditos / UNRWA partners/X

Falando em Roma, Itália, a chefe do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, Cindy McCain, disse: «Se não aumentarmos exponencialmente o tamanho da ajuda destinada às zonas do norte» de Gaza, «a fome é iminente. É iminente.»

Mais de 30 000 palestinianos foram mortos em Gaza pela guerra genocida israelita e os palestinianos em Gaza estão à beira da fome. O Observador Permanente da Palestina nas Nações Unidas, Riyad Mansour, disse que mais de meio milhão de pessoas estão «a um passo da fome». «O que significa que as mães e os pais ouvem os seus bebés e crianças chorarem de fome dia e noite, sem leite, sem pão, sem nada», acrescentou.

Na verdade, bebés e crianças já começaram a morrer devido às condições semelhantes às da fome em Gaza. Com o Ramadão já iniciado, a situação não é apenas fisicamente aguda, mas também mentalmente torturante.

Existem actualmente 2000 profissionais de saúde que estão a dar o seu melhor para prestar cuidados médicos básicos no norte de Gaza. Trabalham sem acesso a quaisquer instalações hospitalares e muitas vezes sem energia ou água, incluindo fornecimentos muito limitados de medicamentos. Agora, o Ministério da Saúde palestiniano em Gaza afirmou que estes trabalhadores se encontram numa situação terrível.

A equipa, disse o Ministério, «começará o Ramadão sem refeições Suhoor ou Iftar». «Os médicos vão morrer. As enfermeiras de lá morrerão. E o mundo testemunhará o maior número de vítimas da fome nos próximos dias», disse Ashraf al-Qudra, porta-voz do Ministério.

Crime de guerra

Em Junho de 1977, numa conferência sobre o direito humanitário em conflitos armados, os Estados-membros das Nações Unidas prorrogaram as Convenções de Genebra (1949) para adicionar o Protocolo II. O Artigo 14 desse protocolo diz que «é proibida a fome de civis como método de combate». A potência beligerante está «proibida de atacar, destruir, retirar ou inutilizar» quaisquer «objetos indispensáveis ​​à sobrevivência da população civil, tais como bens alimentares, áreas agrícolas de produção de géneros alimentícios, colheitas, pecuária, instalações e abastecimentos de água potável e obras de irrigação».

«Na verdade, bebés e crianças já começaram a morrer devido às condições semelhantes às da fome em Gaza. Com o Ramadão já iniciado, a situação não é apenas fisicamente aguda, mas também mentalmente torturante.»

Duas décadas mais tarde, quando os Estados-membros da ONU redigiram o  Estatuto de Roma (1998), acrescentaram uma secção sobre a fome, sob o título de crimes de guerra (Artigo 8); «Usar intencionalmente a fome de civis como método de guerra, privando-os de objectos indispensáveis ​​à sua sobrevivência, incluindo impedir deliberadamente o fornecimento de ajuda humanitária» é um crime de guerra. O Estatuto de Roma é o tratado que formou o Tribunal Penal Internacional (TPI), que até agora permaneceu em  silêncio sobre as suas obrigações de agir com base no documento fundador.

No dia 29 de Fevereiro, camiões com ajuda humanitária chegaram à parte norte de Gaza. Quando pessoas desesperadas correram para estes camiões, os soldados israelitas dispararam contra elas e mataram pelo menos 118 civis desarmados. Esse episódio é agora conhecido como Massacre da Farinha. Na sequência disso, dez especialistas da ONU divulgaram uma forte declaração, que observava: «Israel tem deixado o povo palestiniano em Gaza à fome, intencionalmente, desde 8 de outubro».

O relator especial da ONU para a alimentação, Michael Fakhri, que assinou essa declaração, ampliou posteriormente esta acusação contra Israel. «Israel», disse ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, «montou uma campanha de fome contra o povo palestiniano em Gaza». Essas declarações são muito contundentes. Palavras como «intencionalmente» e frases como «campanha de fome» acusam directamente Israel de crimes de guerra com base no Protocolo II e no Estatuto de Roma.

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A guerra de Israel contra a Palestina e a revolta mundial contra ela

Nenhuma tentativa das empresas de redes sociais de virar o algoritmo contra os palestinos foi bem sucedida, nenhuma tentativa de proibir os protestos – nem mesmo a proibição da exibição da bandeira palestina – funcionou.

Com uma participação que pode exceder as 800 mil pessoas, segundo estimativas dos organizadores, a marcha realizada hoje, 11 de Novembro, em Londres, Inglaterra, de solidariedade com a Palestina, terá sido a maior manifestação em defesa da paz no país desde a invasão do Iraque, em 2003. Suella Braverman, Secretária de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido, considerou que se tratava de uma «marcha de ódio», incentivando os contra-protestos violentos por parte da extrema-direita. 
CréditosWiktor Szymanowicz / Anadolu

Centenas de milhões de pessoas em todo o mundo ficaram profundamente comovidas com as atrocidades da guerra israelita contra a Palestina. Milhões de pessoas participaram de marchas e protestos, muitas delas envolvendo-se em tais manifestações pela primeira vez nas suas vidas. As redes sociais, em quase todas as línguas do mundo, estão saturadas de memes e posts sobre esta ou aquela ação terrível.

Algumas pessoas concentram-se no ataque israelita às crianças palestinas, outras no ataque ilegal às infraestruturas de saúde de Gaza, e outras ainda apontam para a aniquilação de pelo menos quatrocentas famílias (mais de dez pessoas mortas em cada família). O foco de atenção não parece estar a diminuir. As férias de dezembro passaram, mas a intensidade dos protestos e das mensagens manteve-se constante. Nenhuma tentativa das empresas de redes sociais de virar o algoritmo contra os palestinos foi bem sucedida, nenhuma tentativa de proibir os protestos – nem mesmo a proibição da exibição da bandeira palestina – funcionou. As acusações de antissemitismo caíram por terra e as exigências de condenação do Hamas foram rejeitadas. Este é um novo estado de espírito, um novo tipo de atitude em relação à luta palestina.

Nunca antes, nos últimos 75 anos, houve uma atenção tão constante à causa dos palestinos e à brutalidade israelita. Desde 2006, Israel lançou oito campanhas de bombardeamento contra Gaza. E Israel construiu toda uma estrutura ilegal contra os palestinos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia (um muro de apartheid, assentamentos, postos de controle). Quando os palestinos tentaram resistir – seja através de ações cívicas ou da luta armada – enfrentaram imensa violência por parte dos militares israelitas. Desde que as redes sociais passaram a existir, imagens do que ocorre na Palestina têm circulado, incluindo a utilização de fósforo branco contra civis em Gaza, a detenção e o assassinato de crianças palestinas em todo o Território Ocupado da Palestina. Mas nenhum dos anteriores atos de violência evocou o tipo de resposta de todo o mundo como esta onda de violência que começou em outubro de 2023.

Genocídio

A violência armada israelita contra Gaza desde outubro tem assumido uma forma qualitativamente diferente de qualquer violência anterior. O bombardeamento de Gaza foi cruel, com aviões israelitas atingindo áreas residenciais sem qualquer preocupação com a vida dos civis. O número de mortos aumentou dia a dia a um ritmo nunca antes visto. Depois, quando as forças terrestres israelitas entraram em Gaza, realizaram uma expulsão ilegal em massa dos civis palestinos das suas casas e empurraram-nos cada vez mais para sul, em direção à fronteira com o Egito. Os israelitas violaram as suas próprias promessas de «zonas seguras», atingindo áreas mais densamente povoadas do que antes, devido ao deslocamento interno.

«Os israelitas violaram as suas próprias promessas de "zonas seguras", atingindo áreas mais densamente povoadas do que antes, devido ao deslocamento interno.»

Foi esta escala de violência que provocou a utilização precoce do termo «genocídio» para descrever o que estava a acontecer em Gaza. No início de janeiro, mais de 1% de toda a população palestina em Gaza tinha sido morta, enquanto mais de 95% tinha sido deslocada. O tipo de violência utilizado neste caso não foi visto em nenhuma guerra contemporânea, nem no Iraque (onde os EUA desrespeitaram a maioria das leis de guerra), nem na Ucrânia (onde o número de civis mortos é muito menor, apesar de a guerra já durar dois anos).

O ritmo dos protestos de massa levou o governo da África do Sul a apresentar uma disputa na Corte Internacional de Justiça (CIJ) contra Israel pelo crime de genocídio. Ambos os países são signatários da Convenção contra o Genocídio de 1948 e a CIJ é a instância competente para a solução de controvérsias. O processo de 84 páginas apresentado pelo governo sul-africano documenta muitas das atrocidades perpetradas por Israel e também, o que é crucial, as palavras de altos funcionários israelitas. Nove páginas deste texto (pp. 59 a 67) listam as autoridades israelitas nas suas próprias palavras, muitos deles apelando a uma «Segunda Nakba» ou a uma «Nakba contra Gaza», um uso do termo «Nakba» ou Catástrofe que se refere à Nakba de 1948, a expulsão dos palestinos das suas casas, que levou à criação do Estado de Israel.

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Palestina, o direito de resistir

Há mais de 70 anos que o Estado sionista de Israel, cuja formação é acompanhada da expulsão de centenas de milhares de palestinianos das suas terras (a que chamaram catástrofe, «Nakba»), faz tábua rasa do direito internacional com total impunidade. O crescimento de colonatos em terras ocupadas, a prisão de civis sem processo judicial, a usurpação de recursos naturais e a implementação de um sistema de apartheid são alguns traços da violência exercida por Israel contra o povo palestiniano, que está a ser vítima de uma nova catástrofe.

Há mais de 70 anos que o Estado sionista de Israel, cuja formação é acompanhada da expulsão de centenas de milhares de palestinianos das suas terras (a que chamaram catástrofe, «Nakba»), faz tábua rasa do direito internacional com total impunidade. O crescimento de colonatos em terras ocupadas, a prisão de civis sem processo judicial, a usurpação de recursos naturais e a implementação de um sistema de apartheid são alguns traços da violência exercida por Israel contra o povo palestiniano, que está a ser vítima de uma nova catástrofe.

Para nos ajudar a reflectir sobre o tema convidámos José Goulão, jornalista e autor, especialista em assuntos do Médio Oriente e colaborador do AbrilAbril, e Carlos Almeida, historiador e vice-presidente do MPPM (Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente).

Com o pretexto de «eliminar o Hamas» e «dar mais segurança a Israel», as forças de ocupação mataram, desde o passado dia 7 de Outubro,15 mil pessoas na Faixa de Gaza (mais de 6000 vítimas são crianças), destruíram casas e infra-estruturas fundamentais, designadamente hospitais, boicotaram a entrada de ajuda humanitária e criaram mais refugiados.  

Com: José Goulão, Carlos Almeida e Graça Gonçalves.

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São palavras assustadoras, e têm sido amplamente utilizadas desde outubro. O linguajar racista sobre «monstros», «animais» e a «selva» marca os discursos e as declarações destas autoridades do governo israelita. O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse em 9 de outubro de 2023 que as suas forças estão «impondo um cerco completo a Gaza. Sem eletricidade, sem comida, sem água, sem combustível. Tudo está fechado. Estamos combatendo animais humanos e estamos agindo de acordo». Isto, em conjunto com o caráter dos ataques militares israelitas, é suficiente como referência para a acusação de genocídio. Na audiência na CIJ, Israel não conseguiu responder de forma credível à queixa da África do Sul.

Foi uma combinação das imagens de Gaza e das palavras destes altos funcionários israelitas – com total apoio do governo dos Estados Unidos e de muitos governos de países europeus – que provocou a raiva e a desesperança que impulsionaram estes protestos em massa.

Legitimidade

Ao longo dos últimos dois anos – desde o início da guerra na Ucrânia até agora – houve um rápido declínio da legitimidade do Ocidente, especialmente dos países da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), liderados pelos Estados Unidos. Essas guerras não são a causa desta queda de legitimidade, mas aceleraram o declínio da legitimidade dos países da NATO, particularmente no Sul Global.

«Sem eletricidade, sem comida, sem água, sem combustível. Tudo está fechado. Estamos combatendo animais humanos e estamos agindo de acordo.»

ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant

Desde o início da Terceira Grande Depressão, em 2007, o Norte Global tem perdido lentamente o seu domínio sobre a economia mundial, sobre a tecnologia e a ciência e sobre as matérias-primas. Os bilionários do Norte Global aprofundaram a sua «greve fiscal» e transferiram uma grande parte da riqueza social para paraísos fiscais e para investimentos financeiros improdutivos. Isso deixou o Norte Global com poucos instrumentos para manter o poder económico, incluindo para investimentos no Sul Global. Esse papel foi lentamente assumido pela China, que vem reciclando os lucros globais em projetos de infraestrutura em todo o mundo. Em vez de contestar a Iniciativa «Cinturão e Rota» da China, por exemplo, através do seu próprio projeto comercial e económico, o Norte Global procurou militarizar a sua resposta com gastos maciços (três quartos dos gastos militares globais são dos Estados da NATO). O Norte Global utilizou a Ucrânia e Taiwan como alavancas para provocar a Rússia e a China em conflitos militares, de modo a «"enfraquecê-las», em vez de contestar o crescente poder energético russo e o poder industrial e tecnológico chinês através do comércio e do desenvolvimento.

«Palavras vazias não substituem ações reais. Falar de um "cessar-fogo sustentável" enquanto se arma Israel ou falar de "promoção da democracia" enquanto se apoia governos anti-democráticos define agora a hipocrisia da classe política do Norte Global.»

É evidente para a maioria das pessoas no mundo que foi o Norte Global que não conseguiu resolver as crises no mundo, quer se trate da crise climática ou das consequências da Terceira Grande Depressão. O Norte Global tentou substituir a realidade por uma linguagem eufemística, utilizando termos como «promoção da democracia», «desenvolvimento sustentável», «pausa humanitária» e – do ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Lord David Cameron, e da ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock – a ridícula formulação de um «cessar-fogo sustentável»

Palavras vazias não substituem ações reais. Falar de um «cessar-fogo sustentável» enquanto se arma Israel ou falar de «promoção da democracia» enquanto se apoia governos anti-democráticos define agora a hipocrisia da classe política do Norte Global.

Os israelitas dizem que continuarão essa guerra genocida durante o tempo que for necessário. A cada dia que passa desta guerra, a legitimidade de Israel deteriora-se. Mas por trás dessa violência há o fim muito mais profundo de manter a legitimidade do projeto da NATO, cuja hipocrisia ecoa como a de pregos sendo arrastados contra um ensanguentado quadro negro.


Artigo republicado no âmbito de uma parceria com a Globetrotter, editado e adaptado para português de Portugal pelo AbrilAbril. O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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Fakhri concentrou-se na indústria pesqueira de Gaza, que proporcionou uma importante segurança alimentar aos 2,3 milhões de palestinianos que ali vivem. «As forças israelitas», disse, «dizimaram o Porto de Gaza, destruindo todos os barcos de pesca e barracas. Em Rafah, restam apenas dois dos 40 barcos. Em Khan Younis, Israel destruiu aproximadamente 75 navios de pesca de pequena escala». Esta destruição, disse Fakhri, empurrou Gaza «para a fome e a inanição». «Na verdade», acrescentou, «Israel tem estrangulado Gaza há 17 anos através de um bloqueio, que incluía negar e restringir o acesso dos pescadores de pequena escala às suas águas territoriais».

Na Assembleia-Geral da ONU, o palestiniano Riyad Mansour afirmou que Israel bombardeou «todas as padarias e fazendas, destruindo gado e todos os meios de produção de alimentos».

No primeiro mês do bombardeamento, Israel bombardeou as principais padarias da Cidade de Gaza. Em Novembro de 2023, Abdelnasser al-Jarmi, da Associação de Proprietários de Padarias da Faixa de Gaza, disse que as padarias não conseguiam funcionar por falta de combustível e farinha. Como consequência da ausência de pão, as famílias começaram a colher uma erva daninha chamada khubaiza (ou Malva parviflora) e a fervê-la como refeição principal. «Estamos morrendo de vontade de comer um pedaço de pão», disse Fatima Shaheen enquanto preparava uma refeição para os seus dois filhos e os filhos deles no norte de Gaza.

Travessias

Israel recusou-se a abrir totalmente as passagens para Gaza em Beit Hanoun e Karem Abu Salem, tal como se recusou a permitir a abertura completa da passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egipto. Uma vez que estas passagens terrestres estão fechadas, e desde que Israel destruiu o Aeroporto Internacional Yasser Arafat em 2001, não existem soluções fáceis para levar ajuda alimentar a Gaza. A entrega de alimentos e abastecimentos por via aérea não é suficiente – na verdade, é uma gota no oceano (que foi onde alguns dos pacotes de ajuda chegaram).

Fala-se agora em construir corredores marítimos, mas como Israel bombardeou o Porto de Gaza, esta não é uma opção fácil. O facto de os EUA terem dito que iriam construir um cais temporário ao largo da costa da metade sul de Gaza é ridículo. Seria muito mais fácil abrir a passagem de Rafah para permitir a entrada de pelo menos 500 camiões por dia em Gaza. Mas Israel não permitirá esta opção.

O direito internacional é claro como a luz do dia sobre a questão da fome ser considerada um crime de guerra. Não existem lacunas no Protocolo II (1977) ou no Estatuto de Roma (1998).

Amigos em Gaza consideram este mês do Ramadão mais difícil do que qualquer um dos anteriores. A fome é o seu estado geral. Mas, ao contrário de outros Ramadões, não há refeição matinal (Suhoor) nem refeição noturna (Iftar). Existe apenas o ruído perene dos caças israelitas, reflectido nos gemidos de fome nas suas barrigas.

Artigo republicado no âmbito de uma parceria com a Globetrotter, traduzido e editado pelo AbrilAbril. O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

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Em 2022, a 25 de Fevereiro, no dia seguinte ao início da intervenção russa na Ucrânia, a EBU, pressionada por várias das organizações que a compõe, apressou-se a proibir a participação da Rússia e da Bielorrúsia na Eurovisão, alegando que, com «a crise sem precedentes na Ucrânia», seria um total descrédito para o festival se estes participassem.

Em 2024, a canção já é outra. No caso de Israel, que o festival defende publicamente no seu site, o director-geral da Eurovisão, Noel Curran, afirma agora que este «é um evento musical de carácter apolítico e uma competição entre organismos de radiodifusão de serviço público que são membros da EBU. Não é um concurso entre governos».

Seis meses depois do início do massacre em Gaza, quando mais de 30 mil civis já foram mortos (números que incluem apenas as mortes confirmadas)  pelas forças de ocupação israelita, e mais de 70% destes são mulheres e crianças; quando mais de 80% da população foi forçada a abandonar as suas casas (dados da ONU); quando 84% das infraestruturas de cuidados de saúde e 62% das habitações estão destruídas e danificadas (dados da UNICEF); o Festival Eurovisão da Canção reitera a sua posição que ignorou completamente há dois anos: é altura de «defender um diálogo construtivo e apoiar os artistas».

Em resposta ao mais recente comunicado do Festival Eurovisão da Canção, a Campanha Palestiniana para o Boicote Académico e Cultural a Israel (membro fundador do movimento BDS: Boycott, Divestment, Sanctions), lamenta que, uma vez mais, a EBU «ostente a sua hipocrisia colonial e a sua cumplicidade descarada com o genocídio perpetrado por Israel».

«Reiteramos o nosso apelo a todos os concorrentes da Eurovisão para que estejam do lado certo da história e se retirem imediatamente do concurso deste ano».

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Felizmente, para orgulho de todos nós, foram portuguesas as vozes que melhor se ouviram, vozes de cidadãs, de mulheres de paz, que tiveram a coragem – é preciso ter coragem num terreno de tal maneira minado – de se distanciar da cumplicidade objectiva da EBU e afins com a carnificina e a limpeza étnica que o regime sionista comete há 76 anos na Palestina. «A paz prevalecerá», proclamou a autora-intérprete Iolanda ainda em palco, no final da sua belíssima actuação. A cantora Mimicat, como porta-voz do júri nacional, enviou igualmente uma mensagem de paz, salientando que o fez ciente de que «somos um país que acredita na liberdade e na paz».

As vozes bem audíveis destas duas mulheres resgataram, em cenário global, a letra da Constituição e a dignidade do país de Abril que tantas vezes são hipotecadas, por sistema, tacanhez e subserviência, pelos titulares dos mais elevados cargos políticos.

Sabemos que Mimicat e Iolanda não são exemplos isolados; no meio artístico e musical português há muitos actores, actrizes, compositores, cantores e cantoras que usam os seus talentos sem esquecer causas nobres como a paz, a solidariedade e as liberdades, algumas tão ameaçadas como são as de opinião e expressão. E usam-nos com muita qualidade, para benefício de todos nós e até para prestígio do país.

O chamado «voto do público» ou «televoto» em Portugal, porém, não alinhou com as posições humanistas das representantes portuguesas, seguiu antes o «fenómeno» registado em quase todos os lugares onde houve «votações», isto é, a contagem de chamadas telefónicas em massa num processo hermético no qual os espectadores não têm acesso a qualquer garantia de fiabilidade dos resultados. A canção de Israel, isto é, a delegação sionista no festival, foi a que recebeu mais «votos» em 15 das contagens realizadas, incluindo Portugal, contrariando de maneira bastante acintosa a escassa receptividade que teve entre os júris nacionais.

«As vozes bem audíveis destas duas mulheres resgataram, em cenário global, a letra da Constituição e a dignidade do país de Abril que tantas vezes são hipotecadas, por sistema, tacanhez e subserviência, pelos titulares dos mais elevados cargos políticos.»

Sendo quase certo que nenhum «votante» saberá sequer alinhar duas notas da cantoria sionista, que passaria despercebida não fosse o alarido em seu redor, estamos perante um voto politicamente induzido num certame «apolítico».

E aqui, perante a enxurrada de supostas chamadas telefónicas de apoio à presença sionista, deixando toda a concorrência a uma distância inusitada e sem qualquer nexo com os pareceres dos jurados em cada país, várias hipóteses de explicação podem aventar-se: uma fraude em massa no processo telefónico assegurada em cada terminal de contagem; uma monstruosa mobilização de «votantes» patrocinada pela mafia sionista transnacional (não confundir com as comunidades judaicas espalhadas pelo mundo); ou – o que será o mais inquietante – uma grande manifestação de apoio das populações europeias, e de outras zonas do mundo, à delegação de um país comprovadamente responsável por uma política genocida e sangrenta conduzida sob os olhos do mundo inteiro. Se for este o caso, teremos de reconhecer que a imagem de Israel «concorrente perseguido» cultivada por toda a estratégia «apolítica» da EBU e, sobretudo, a poderosíssima vaga mediática internacional para branquear os crimes sionistas têm um êxito assombroso. À luz desta hipótese, o estado de indigência e insensibilidade de grandes massas internacionais perante os crimes de guerra sionistas está muito mais avançado do que seria de supor.

Um microcosmos

A EBU, ao aglutinar as estações públicas de rádio e televisão dos países «civilizados», é um microcosmos do aparelho de imposição da corrente política e geoestratégica neoliberal, de mentalidade colonial, dominante no chamado «Ocidente global».

Daí que o carácter «apolítico» invocado a todo o momento seja parte da sua estratégia de manipulação, uma falsificação grosseira da realidade.

«Se for este o caso, teremos de reconhecer que a imagem de Israel "concorrente perseguido" cultivada por toda a estratégia "apolítica" da EBU e, sobretudo, a poderosíssima vaga mediática internacional para branquear os crimes sionistas têm um êxito assombroso.»

Na preparação e emissão do Festival da Eurovisão, tal como acontece regularmente noutros anos, talvez com menor evidência, tornou-se claro que as preocupações «apolíticas» dos organizadores do certame tentaram esconder um apoio político específico à participação sionista, desde logo estampado nas alegações esdrúxulas, segundo as quais as razões que determinaram a exclusão da Rússia não se aplicam ao Estado de Israel.

Depois assistiu-se a uma perseguição e a uma actividade censória doentias contra tudo o que fosse, ou mesmo parecesse, uma contestação da política genocida israelita ou um gesto de solidariedade para com o povo palestiniano. Ou até contra uma simples proclamação em defesa da paz – um conceito que, como salta cada vez mais aos olhos de todos, se tornou verdadeiramente subversivo ou um sintoma de traição em todo o Ocidente.

Os esbirros da EBU abandonaram todos e quaisquer filtros de conveniência quando se tratou de censurar a eito para proteger Israel. O som das emissões nas meias-finais, nos ensaios e na final foi manipulado de modo a diminuir ou abafar os apupos e os protestos na sala contra a presença israelita; a actuação de um intérprete convidado na abertura de uma das sessões foi apagada dos registos oficiais do festival porque o cantor exibiu uma pulseira com símbolos associados à causa palestiniana; são conhecidas igualmente várias tentativas dos organizadores para ocultarem que a representante portuguesa Iolanda actuou com as unhas solidariamente decoradas com simbologia palestiniana. A publicação do vídeo oficial da sua actuação foi protelada até ao momento em que a RTP, honra lhe seja feita, decidiu intervir.

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Mais de 200 artistas em Portugal rejeitam Israel na Eurovisão

Sérgio Godinho, Scúru Fitchádu, Chullage, Cláudia Dias e Sérgio Tréfaut contam-se entre os artistas que, assinalando a hipocrisia do Festival da Eurovisão, apelam à proibição de Israel. 

CréditosNuno Veiga / Agência Lusa

Numa carta dirigida à RTP, responsável pelo concurso em Portugal, os subscritores – onde se incluem as cineastas Cláudia Varejão e Catarina Vasconcelos, os actores Carla Bolito, São José Lapa, João Grosso e Miguel Nunes, e o humorista Diogo Faro – pedem à emissora pública que exija, da European Broadcasting Union (EBU), entidade organizadora do Festival da Eurovisão, a proibição da «participação de Israel no evento até que Israel respeite o direito internacional, ou que, em caso de recusa [da EBU], boicote o Festival».

De variados campos artísticos, os subcritores, como o produtor musical Alain Vachier, a editora Cafetra ou a Associação A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, apontam «a hipocrisia da EBU», que baniu a Rússia no dia seguinte à invasão da Ucrânia, «mas que insiste na participação de Israel apesar da sua ocupação da Palestina e opressão do povo palestiniano que dura há mais de meio século».

A declaração, promovida pelo Comité de Solidariedade com a Palestina, surge numa altura em que as forças israelitas já mataram mais de 30 mil palestinianos, dos quais pelo menos 12 300 crianças, e fizeram cerca de 73 mil feridos desde o passado dia 7 de Outubro. «Os crimes de guerra perpetrados por Israel incluem o ataque intencional a instalações civis, como escolas, universidades e hospitais, a recusa de ajuda humanitária e o uso deliberado e ilegal de armas explosivas e fósforo branco contra civis», lê-se na carta. 

Os subscritores lembram que o Tribunal Internacional de Justiça advertiu para um «plausível» crime de genocício por parte de Israel contra o povo palestiniano em Gaza. Neste sentido, pretendem quebrar «o silêncio que impregna a maioria das instituições culturais do país em relação ao genocídio em curso do Estado de Israel contra a população palestiniana».

Como parte do seu genocídio cultural, acrescentam, «Israel matou artistas, escritores e poetas, destruiu ou danificou um património histórico singular, como a mesquita de al-Omari do século XIV, a igreja de São Porfírio, a terceira mais antiga do mundo, o Museum Nacional de Gaza com mais de 3.000 antiguidades raras, assim como centros culturais, teatros e bibliotecas».

A carta subscrita também pelo músico Tó Trips, o actor André Albuquerque e o fotógrafo Alípio Padilha, entre outros, termina a convidar «pessoas, associações e outros colectivos do sector artístico e cultural português» para que se juntem e assinem a mesma, «comprometendo-se a recusar colaborações com instituições culturais cúmplices israelitas ou a atuar em Israel, e apoiando a luta pela justiça e autodeterminação do povo palestiniano, reconhecendo que é o seu próprio direito à existência que está a ser negado por Israel». 

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Durante uma conferência de imprensa, o representante holandês teve um gesto espontâneo que a enviada de Israel e os fiscais da organização interpretaram como sendo hostil à presença sionista. Ao cabo da perseguição que logo lhe foi movida acabou por ser expulso, vítima de uma provocação montada num ápice e à qual não teve experiência para resistir. Por ironia do destino, o rapaz fora apurado para a final com uma espécie de redacção pateta e pueril sobre as delicodoces maravilhas da União Europeia capaz de derreter até às lágrimas qualquer federalista mais sensível. De nada lhe valeu: calaram-no sumariamente e nem sequer recebeu qualquer conforto solidário da TV pública neerlandesa, além de fazer agora parte da avultada lista mundial de antissemitas assim definidos pelas autoridades sionistas. Um rol que, aliás, acaba de ser engrossado com a presença de um «sionista cristão» de luxo, o presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, ao cometer o pecado de ameaçar (apenas ameaçar, como é óbvio) suspender a entrega de armas ao regime sionista para continuar o seu genocídio do povo palestiniano.

Comentadores geopolíticos norte-americanos asseguram que o sionismo internacional controla o aparelho mediático e a política externa dos Estados Unidos. Têm certamente as suas razões para o afirmar.

A realidade internacional que podemos acompanhar e escalpelizar em todas as suas cambiantes confirma-nos isso e vai mais além. Não existe actualmente qualquer entidade no mundo, qualquer lei ou mesmo qualquer «regra» da ordem internacional definida pelos Estados Unidos capaz de conter o comportamento arbitrário, criminoso e ilegal do regime de Israel. O sionismo internacional assume, através das práticas do governo israelita, as mais gravosas decisões contra as mais elementares normas de convívio internacional, de respeito pelos povos, pelas pessoas, pelas leis, pelos direitos humanos. Cumprindo a regra de ouro do sionismo como uma variante de fascismo, o regime de Israel comporta-se como se não fosse deste mundo, respondendo apenas perante um deus, como invocam muitos dos seus dirigentes mais representativos.

«Não existe actualmente qualquer entidade no mundo, qualquer lei ou mesmo qualquer "regra" da ordem internacional definida pelos Estados Unidos capaz de conter o comportamento arbitrário, criminoso e ilegal do regime de Israel.»

Os episódios do Festival da Eurovisão, em escala reduzida mas com um impacto internacional considerável, mostram que os tentáculos sionistas actuam em todas as áreas onde seja oportuno e conveniente mostrar quem manda. Neste caso, ganhar o certame não era sequer uma prioridade. Bastou mostrar que uma delegação sionista estará presente sempre que queira, independentemente das circunstâncias, das atrocidades cometidas pelo país, e que a sua vontade nunca deixará de prevalecer sobre quaisquer contestações.

Somando exemplos sobre exemplos de comportamentos que tentam branquear os crimes israelitas, os mais atrozes desde os tempos de Hitler, parece cada vez mais difícil adivinhar no horizonte as hipóteses de conter este rolo compressor, assassino e, comprovadamente sem limites.

A «civilização ocidental» cria os seus monstros, alimenta-se deles, associa-os à própria sobrevivência. E nada garante, levando a sério declarações e intenções só aparentemente tresloucadas proferidas por expoentes sionistas, que não venha a ser vítima deles.

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