Cerca de 200 pessoas juntaram-se no sábado à noite frente à casa natal de Primo de Rivera, em Madrid, na véspera do 86.º aniversário da sua morte e do 47.º aniversário da morte do ditador Francisco Franco.
Braços ao alto, gritos de «Arriba España» e «Franco, Franco, Franco», símbolos da Falange Espanhola e o hino fascista «Cara al Sol» cantado foram algumas das expressões prevalecentes na esquina entre as ruas madrilenas de Génova e Marquês de Ensenada.
A entrada em vigor, em Outubro, da Lei da Memória Democrática proíbe este tipo de exaltações do fascismo, lembra o diário Público (espanhol). A concentração foi precedida por uma missa na igreja de Santa Bárbara, onde Primo de Rivera foi baptizado e na qual, refere o diario.es, o padre se referiu a Francisco e a José Antonio sem os apelidos Franco e Primo de Rivera, respectivamente.
Em múltiplas mensagens nas redes sociais, aponta o Público, promoveu-se o enaltecimento de Primo de Rivera, fundador da fascista Falange Espanhola e fez-se um apelo à participação na peregrinação com tochas ao Vale de Cuelgamuros, a actual designação oficial do Vale dos Caídos, onde ainda permanecem os restos mortais do fascista, mas já não os de Franco.
Críticas à Delegação do Governo em Madrid
As cerimónias de homenagem a Franco e Primo de Rivera em Espanha – mais públicas ou no interior das igrejas – não se limitaram à da Falange em Madrid, no sábado à noite, mas esta foi a que despertou maior atenção e críticas.
No Twitter, um usuário destacou o facto de a manifestação estar a ocorrer «apesar de que em Outubro entrou em vigor a Lei da Memória Democrática, que proíbe expressamente as exaltações do franquismo». «Se fosse o despejo de uma família pobre, haveria uma centena de [agentes] antidistúrbio a dar porrada», acrescentou.
Fontes da Delegação do Governo na Comunidade de Madrid justificaram à agência Europa Press a não proibição da manifestação com base no direito constitucional de reunião e manifestação.
O Fórum pela Memória da Comunidade de Madrid mostrou-se muito crítico com a decisão da delegada. Em conjunto com outras organizações, convocou uma mobilização antifascista para ontem à porta do Vale de Cuelgamuros, exigindo o direito à exumação dos republicanos, a expulsão dos beneditinos da basílica, a reconversão do recinto num memorial antifascista e demolição da cruz.
Num comunicado, citado pelo diario.es, denunciaram a Delegação do Governo por permitir a mobilização falangista, tendo em conta que o ano passado os fascistas «atacaram jovens ao pé de uma discoteca com armas taser».
«Não só se deveria considerar perigosa e, portanto, proibi-la, mas a exaltação do fascismo que fazem e promovem estes grupúsculos está, na actualidade, proibida», acrescentam.
Em declarações ao Público, Miguel Ángel Muga, presidente do Fórum pela Memória da Comunidade de Madrid, disse esperar que este «seja último ano de peregrinação por parte da Falange, porque entendemos que Primo de Rivera não tardará a sair» do Vale de Cuelgamuros.
Governo promete punir envolvidos nos actos
Já esta manhã, o Público noticia que fontes do Ministério da Presidência informaram que vão instaurar processos contra os envolvidos nos actos cuja realização o próprio governo espanhol autorizou.
«Perante as imagens que se pôde ver de manifestações durante o dia de ontem, com gritos, gestos e cânticos que enaltecem o golpe militar, a ditadura e os seus protagonistas», o governo espanhol afirma que vai instaurar processos às pessoas e/ou organizações envolvidas nestes actos.
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