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Casa das Américas repudia «reunião de fascistas» celebrada nos EUA

A mais recente edição da Conferência de Acção Política Conservadora (CPAC) foi a «montra de uma ostentosa concertação das forças do novo fascismo», alerta a instituição cultural cubana.

O espanhol Santiago Abascal, o argentino Javier Mieli ou o salvadorenho Nayib Bukele estiveram entre os convidados do encontro anual da direita norte-americana  
CréditosJosé Luis Magana / mediaite.com

Numa declaração intitulada «Mais ódio, racismo e mentiras numa reunião de fascistas em Washington», emitida a propósito da celebração da CPAC, a Casa das Américas, com sede em Havana, pede que se denuncie «sem descanso o crescimento do novo fascismo e o seu empenho em criar uma internacional da barbárie e da cultura do ódio».

No encontro, que decorreu entre 21 e 24 de Fevereiro no estado de Maryland (nos arredores de Washington, EUA), a CPAC «acaba de lançar a sua mais recente ofensiva […] destinada, como o seu nome indica, a promover os "valores conservadores" no mundo».

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Execução do casal Rosenberg trouxe o fascismo a debate em Havana

A apresentação do livro La ejecución de los esposos Rosenberg en Estados Unidos: 70 años después propiciou o debate de especialistas sobre as acções fascistas que continuam a articular-se na actualidade.

CréditosPanchito González / Prensa Latina

A Casa das Américas, em Havana, foi palco da apresentação, esta terça-feira, do volume publicado sob a chancela da editorial Ocean Sur, que «reflecte sobre factos enquadrados no contexto da Guerra Fria, quando o ódio em relação a tudo o que se relacionasse com o comunismo ganhava apoiantes na sociedade norte-americana», afirma a agência Prensa Latina.

O encontro – refere a fonte – constituiu um espaço para a denúncia, e a execução do casal nova-iorquino Ethel e Julius Rosenberg, há 70 anos, serviu como elemento de reflexão e de ligação ao perigo real do fascismo nas sociedades de hoje.

«O fascismo é uma das configurações ideológicas com que o capitalismo responde à crise e aos desafios das diversas fases de transformação», destacou o poeta e investigador José Ernesto Nováez.

Por seu lado, o sociólogo Jorge Hernández abordou o contexto que esteve na origem da execução do casal norte-americano, tendo recorrido a uma frase do teórico Carl von Clausewitz: a derrota começa quando se perde a decisão de lutar.

Hernández defendeu que este é o espírito de resistência com que devemos enfrentar a prática fascista que se torna um perigo real.

Panchito González / Prensa Latina

Outro elemento do painel de oradores, Abel Prieto, intelectual e presidente da Casa das Américas, destacou o trabalho da Ocean Sur ao recordar uma data tão importante, que lança «uma tremenda luz para o presente, dada a actualidade que possui».

Sublinhou ainda a importância da obra La era del conspiracionismo, do jornalista espanhol Ignacio Ramonet, que em seu entender reflecte o papel decisivo das redes sociais na criação de grupos violentos, «responsáveis por esse clima irrespirável que os cubanos sofrem».

Neste sentido, referiu-se às acções contra o duo Buena Fe no seu giro recente pelo Estado espanhol e à decisão de retirar à poeta Nancy Morejón a condição de presidente de honra do Mercado da Poesia, em França.

O casal Rosenberg, executado há 70 anos, na caça às bruxas do macarthismo

O casal Ethel e Julius Rosenberg foi executado na cadeira eléctrica, a 19 de Junho de 1953, na prisão de Sing Sing, tendo sido acusados de entregar informação que alegadamente possibilitou à União Soviética aceder ao «segredo» da bomba atómica.

O processo judicial foi bastante questionado a nível mundial e várias figuras – algumas nada ligadas à esquerda – pediram clemência para os condenados à morte.

Albert Einstein escreveu ao juiz do processo e ao presidente norte-americano, Truman, defendendo que não havia ficado provada a culpabilidade «além da dúvida razoável» e, no caso de ter existido fuga de informação científica, esta não era de natureza vital. Mas não obteve respostas.

Panchito González / Prensa Latina

O intelectual francês Jean-Paul Sartre, que classificou o processo judicial como um «linchamento legal», denunciou fortemente as execuções.

O julgamento passaria à história como uma injustiça – algo que foi comprovado por documentos desclassificados e por testemunhas nos anos 1990 – promovida no seio do obscurantismo macarthista, destinada a alimentar a caça às bruxas anticomunista nos Estados Unidos.

Além disso, como afirma Rui Namorado Rosa, «as realizações materiais da União Soviética, e concretamente o respectivo desenvolvimento da arma nuclear nesse clima de guerra fria, teriam de ser negadas pelo imperialismo norte-americano».

«Esse desenvolvimento teria de ser justificado pela acção de espiões ou traidores que haveriam transmitido à outra parte o "segredo" da bomba».

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Segundo refere o texto da prestigiada instituição cultural, «entre os representantes conhecidos da extrema-direita que desfilaram pelo estrado da conferência sobressaiu Santiago Abascal, líder do partido espanhol Vox», que denunciou «a ameaça do "socialismo" e atacou com grosseiras calúnias a Revolução cubana».

O documento assinala também o facto de os oradores no encontro «conservador», entre os quais se contaram o argentino Milei ou salvadorenho Bukele, terem falado de modo geral «em nome da liberdade, da família, da cristandade, da tradição, do respeito pela sacrossanta propriedade, e repetiram os lugares-comuns da reacção, num tom entre apocalíptico e messiânico».

«Autoproclamaram-se salvadores de um mundo em perigo, não pela crise climática ou o capitalismo selvagem, mas pela presença das tendências "dissolventes" que implicam para eles a própria ideia da justiça social, a luta contra as alterações climáticas, o feminismo, a defesa do papel regulador do Estado, os movimentos LGBTIQ+, a invasão das "hordas" migrantes e outros "inimigos"», lê-se no texto publicado dia 26.

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Uma casa em Havana para erguer a voz da cultura latino-americana

Fundada por Haydée Santamaría, a Casa das Américas faz 61 anos, marcados pela ligação a centenas de escritores, artistas plásticos, músicos, investigadores e pela defesa da identidade da região.

Interior do edifício da Casa das Américas, que se localiza na emblemática esquina da «calle tercera y G», no Vedado de Havana
Créditos / AbrilAbril

Com o impulso de Haydée Santamaría – heroína do assalto ao Quartel Moncada (em Santiago de Cuba, a 26 de Julho de 1953) –, a instituição constituiu-se, ao longo da sua existência, como um marco na cultura do continente, sendo «a que mais fez para que se conhecessem» os seus escritores.

E continua «a vibrar, latir, palpitar, viver e dar vida», disse numa entrevista ao Granma, por ocasião do 60.º aniversário, o seu anterior presidente, o poeta e ensaísta Roberto Fernández Retamar, falecido em Julho de 2019.

Surgida menos de quatro meses após o triunfo da Revolução, a Casa enfrentou um contexto político hostil à ilha caribenha – devido às investidas constantes dos EUA e dos governos seus aliados na região – e teve um papel importante na ligação de Cuba à intelectualidade dos países latino-americanos, tornando-se um dos baluartes para impedir o isolamento de Cuba na América Latina.

A promoção e a redescoberta de um «pensamento latino-americanista» é outro elemento destacado na existência deste centro cultural, que foi concebido como espaço de troca de perspectivas e se tornou a «casa» de criadores prestigiados como Víctor Jara, Rodolfo Walsh, Julio Cortázar, Mario Benedetti, Juan Aburto ou Eduardo Galeano, entre muitos outros.

Além de divulgar, promover – nomeadamente na revista Casa de las Américas – e premiar trabalhos de jovens criadores e figuras consagradas nas áreas da literatura, do teatro, das artes plásticas e da música, a instituição passou a dar atenção, mais recentemente, a diversas investigações relacionadas com os tempos mais actuais, como os estudos sobre a mulher, os povos originários, os latinos nos Estados Unidos e os afro-descendentes.

Sobre a Casa das Américas, o escritor argentino Julio Cortázar «destacou o trabalho de recepção da cultura do mundo, impossível de obviar pela "qualidade e a validade da produção intelectual e artística que a Casa veicula e estimula"», revela a Prensa Latina. «Aqui me descobri latino-americano», disse.


Por seu lado, o escritor uruguaio Mario Benedetti afirmou: «Desde a sua criação, a Casa quis ser um centro de divulgação de estudo e de encontro da arte e das letras latino-americanas, ou seja, uma nova forma de luta contra a segmentação e o desmembramento da nossa cultura.»

Numa mensagem hoje divulgada pelo diário Granma – «Desde Casa, la voz de los pueblos» –, o seu actual presidente, Abel Prieto, lembra que este aniversário se celebra no contexto de «uma dupla pandemia» para os «mais pobres: o coronavírus e o neoliberalismo».

«O coronavírus também agudizou a barbárie: a cultura do ódio, violenta, fascistóide, xenófoba, racista», denuncia o antigo ministro da Cultura de Cuba, sublinhando que, «face a essas tendências obscuras, a Casa, tal como os representantes dignos dos povos latino-americanos e caribenhos, aposta na cultura da paz, da irmandade entre os seres humanos».

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A Casa das Américas destaca ainda a figura de Donald Trump, que, num discurso claramente eleitoral, «não teve qualquer pudor ao apresentar os males que afligem hoje os Estados Unidos como próprios de "países do Terceiro Mundo" e "repúblicas das bananas"».

«Como se fosse possível desligar as histórias de exploração e saque do nosso continente, e de todo o Sul, do intervencionismo do Império», sublinha.

«Xenofobia, racismo, medo irracional do "outro", supremacismo branco, patriarcado, mentiras flagrantes são rasgos desta extrema-direita que se apresenta como "dissidente", como "rebelde", como líder de uma subversão anti-sistema», alerta o texto.

Neste sentido, a instituição cultural defende a necessidade de continuar a trabalhar, recorrendo a todos os meios ao nosso alcance, «para fomentar um pensamento crítico contra a manipulação e em defesa do humanismo e da solidariedade».

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