Guillermo Lasso, que viu os equatorianos dizerem «não» às oito emendas constitucionais por ele propostas, pediu «unidade e reconciliação» numa mensagem transmitida pela TV.
Em declarações à Radio Pichincha, o ex-presidente Rafael Correa mostrou-se contrário a esse «grande acordo nacional» e disse que, depois das derrotas sofridas por Lasso no domingo, o «acordo» passa por eleições antecipadas.
Da mesma forma, a deputada Marcela Holguín, vice-presidente da Assembleia Nacional e membro da bancada Unión por la Esperanza, classificou como «falso e mentiroso» o apelo de Lasso à unidade.
«Não é a primeira vez que o governo lança um apelo ao diálogo e não resulta», disse a deputada, citada pela Prensa Latina, referindo-se ainda à necessidade de avaliar se este é o momento para adiantar as eleições.
Também o Partido Social Cristiano (de direita), que inicialmente foi um aliado do neoliberal Lasso, tendo-o ajudado a chegar ao poder, decidiu agora manter distâncias, afirmando que não fará parte de um acordo nacional convocado por este governo.
Ontem, com 97% das actas contabilizadas, o Não às oito alterações constitucionais propostas pelo presidente era um facto irreversível.
Em conversa com a Prensa Latina, Pablo Iturralde, porta-voz da campanha «Ecuador dice No», afirmou que estes resultados surgem «na sequência do trabalho realizado para explicar às pessoas as verdadeiras intenções do governo através de uma consulta popular enganosa».
«Tendo em conta a sua baixa popularidade, o presidente punha as suas esperanças neste mecanismo, procurava oxigénio, e agora fica em muito má situação, sem apoio para terminar o seu mandato», disse Iturralde.
«Quem votou Não no referendo entende que é enganador e que não ia servir para solucionar os problemas do país», disse, sublinhando que os resultados de domingo mostram um reforço da esquerda e das forças progressistas no país.
«O povo disse "não" no referendo e também à direita neoliberal», frisou.
Neoliberalismo derrotado nas eleições locais e regionais
Neste domingo, quase 13,5 milhões de equatorianos foram chamados a eleger os seus autarcas e governadores. Como o voto é obrigatório para todas as pessoas entre 18 e 65 anos, a participação superou os 80%, segundo o revelou o Conselho Nacional Eleitoral.
O grande elemento de destaque é que a Revolução Cidadã, do ex-presidente Rafael Correa, triunfou em nove províncias, incluindo as três mais povoadas do país – Guayas, Pichincha e Manabí – e em 61 municípios – incluindo os das maiores cidades: Guayaquil e Quito.
Após várias conquistas em 18 dias de mobilização nacional, o movimento indígena assinou, esta quinta-feira, uma «Acta pela Paz» com o governo de Lasso, para fazer avançar um processo de diálogo. Antes de aceitarem por escrito o fim da paralisação e das manifestações, os dirigentes da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) e de outras organizações indígenas dialogaram com as suas bases, que votaram a favor da assinatura da Acta. O documento foi elaborado pela Conferência Episcopal Equatoriana (CEE), que actuou como mediadora entre as partes, tendo o texto inicial sido alterado por proposta dos dirigentes dos povos originários. No final da cerimónia de assinatura do acordo, o presidente da CEE, Luis Cabrera, agradeceu ao povo, às organizações indígenas pela abertura e flexibilidade, e ao Executivo por ouvir o clamor popular e responder às reivindicações. Na Acta pela Paz, as partes sublinham a importância de dialogar e chegar a consensos, e ficam consagradas várias conquistas pelas quais os indígenas e as camadas populares equatorianas se bateram em 18 dias de paralisação nacional e de mobilização contra o alto custo de vida e as políticas neoliberais. Com mediação da CEE, o governo aceitou reduzir o preço dos combustíveis, revogar o Decreto 95 (relativo à política petrolífera), para proteger territórios e direitos colectivos dos povos indígenas. Também efectuou reformas ao Decreto 151, em matéria de exploração mineira, de modo que esta actividade seja proibida em zonas protegidas, territórios ancestrais e zonas arqueológicas, entre outras. Também são consagrados avanços em matéria de saúde, de educação, de apoio aos agricultores, e fica estabelecido o compromisso de criar uma mesa de diálogo, com uma duração de 90 dias, para tratar de assuntos pendentes. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) reafirmou, no sábado à noite, que a paralisação continua até que o governo de Lasso responda a todas as reivindicações colocadas. Em plenários realizados na Agora CCE, no sábado, e na Universidade Central do Equador, no domingo, o movimento indígena e os demais sectores mobilizados reafirmaram que a paralisação iniciada há duas semanas vai prosseguir. O presidente da Conaie, Leonidas Iza, agradeceu a todos os que se mantêm mobilizados nas províncias e na capital do Equador, Quito, onde muitos habitantes têm estado a apoiar os manifestantes com alimentos e outros bens. Iza avisou que os indígenas só vão regressar às suas comunidades quando a agenda proposta pelo organismo e outros sectores populares for respeitada, porque se trata de «questões sensíveis» para a população, nomeadamente a redução do preço dos combustíveis e dos bens de primeira necessidade, maiores benefícios para os agricultores, proibição da exploração mineira em territórios de povos originários. Reconhecendo que o governo deu alguns passos – decretos para controlar a especulação, declaração de emergência na Saúde Pública, medidas favoráveis ao sector da Educação –, sublinhou que falta o mais importante, que são as questões relacionadas com os combustíveis, a mineração e o alto custo de vida. O 11.º dia de protestos no Equador foi um dos mais violentos, com a Polícia a responder com grande violência aos manifestantes em Quito. Registou-se pelo menos um morto. Um «mau sinal» para o diálogo. A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) denunciou, esta quinta-feira, a morte de um manifestante na capital do país sul-americano – o quarto desde o início dos protestos contra as políticas do governo de Guillermo Lasso, a 13 de Junho. O falecido foi identificado como Henry Quezada e a sua morte, causada por disparos policiais, ocorreu no Parque El Arbolito, nas imediações da Assembleia Nacional. Os manifestantes dirigiram-se para ali, ontem, à espera de que o órgão legislativo se pronunciasse sobre a actual situação no país, depois de a Conaie, em conjunto com várias outras organizações, ter declarado uma paralisação nacional por tempo indeterminado, denunciando que o governo mantém uma política de linha neoliberal e que não prestou atenção, em diversas ocasiões, às questões sociais e económicas que lhe foram colocadas. «Enquanto assassinarem o povo, não existem garantias», denunciou o organismo, que reclama ao executivo que cesse a repressão, para que possa haver diálogo, e que responda positivamente à agenda com dez pontos que lhe foi apresentada, com temas prementes para os agricultores, os indígenas, os trabalhadores de diversos sectores, os estudantes e as mulheres. A Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos também denunciou a quarta morte desde o início dos protestos e pediu uma investigação urgente ao caso por parte da Procuradoria Geral. Antes da repressão de ontem em El Arbolito, a Aliança registava três falecidos, 92 feridos e 94 detenções desde 13 de Junho, refere a TeleSur. Ontem, centenas de indígenas reuniram-se na Casa da Cultura, em Quito, e seguiram depois, em marcha e de forma pacífica, até à Assembleia Nacional. Nas imediações, a Polícia anti-motim recebeu-os com gás lacrimogéneo, criando uma nuvem de gás para dispersar os manifestantes. Seguiram-se confrontos que duraram pelo menos duas horas, enquanto o presidente da Conaie, Leonidas Iza, prestava declarações à comunicação social e descrevia o que se estava a passar como um «mau sinal». Um segundo manifestante foi morto, esta terça-feira, no contexto dos protestos contra as políticas governamentais que se registam no país sul-americano desde 13 de Junho. A Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazónia Equatoriana (Confeniae) revelou, ontem, que um manifestante indígena foi morto como consequência da repressão policial na província de Pastaza. A organização indígena responsabilizou o presidente equatoriano, Guillermo Lasso, pelo facto, tendo informado que o manifestante Byron Guatatuca foi atingido com um disparo à queima-roupa. Também a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) denunciou o aumento da repressão por parte das forças policiais e do Exército, depois de o presidente do Equador ter ampliado, na segunda-feira à noite, o estado de excepção a seis províncias – Pichincha, Imbabura, Cotopaxi, Chimborazo, Tungurahua e Pastaza –, numa tentativa de conter os protestos de duram há dez dias. De acordo com a Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos, desde 13 de Junho, no contexto das mobilizações de carácter nacional e por tempo indeterminado convocadas pela Conaie, registaram-se pelo menos 90 feridos e 87 detenções, indica a TeleSur. O organismo mostrou-se preocupado com o recrudescimento da «violência militar e policial contra aqueles que exercem o seu direito ao protesto e a resistir». A Conaie afirma que as mobilizações se vão manter até que o conjunto de dez reivindicações apresentado ao governo obtenha resposta positiva, sublinhando que, ao longo de 2021, o caderno foi mostrado ao executivo em três ocasiões, sem ter obtido a atenção desejada. A exigência de mais verbas para a Educação e a Saúde, a criação de empregos, a redução do preço dos combustíveis, o controlo dos preços, mais apoios à agricultura, a não privatização de sectores estratégicos da economia, impedir a flexibilidade laboral, entre outras questões, mantêm os indígenas e outras camadas da população nas ruas, também na capital, Quito. O chefe de Estado afirma que já respondeu de forma positiva a uma série de reivindicações e acusa os promotores da paralisação de quererem tirá-lo do poder e instalar o caos no país. O ministro da Defesa, Luis Lara, dirigiu-se à imprensa no mesmo sentido, afirmando que «as Forças Armadas não permitirão que se tente romper a ordem constitucional ou qualquer acção contra a democracia e as leis da República». Em conferência de imprensa, ontem, a organização mais destacada na organização do protesto que hoje entra no décimo dia mostrou-se disposta a dialogar com o governo equatoriano, depois de Guillermo Lasso lhes ter enviado uma missiva expressando a disponibilidade para participar numa mesa de diálogo. Leonidas Iza, presidente da Conaie, afirmou que os protestos são realizados por quem sente uma profunda crise desde a Covid-19 e actualmente não tem condições de vida. Lembrou que o diálogo falhou nos espaços onde devia ter prevalecido, mas que a Conaie e as outras organizações que participam nos protestos estão dispostas a abrir um espaço de discussão para encontrar soluções para as condições adversas em que vive a população e lhe restituir os direitos sociais espezinhados pela política económica. Para esse efeito, pediu garantias. Neste sentido, Iza pediu ao governo que acabe com as acções de repressão e revogue o estado de excepção decretado, lembrando que, desde o início das mobilizações, a estratégia do governo se baseou quase exclusivamente no uso da força e na escalada do discurso de ódio e estigmatização do movimento indígena. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Dirigindo-se aos manifestantes, pediu-lhes que regressassem à Casa da Cultura. «Esta marcha foi pacífica. Não deixemos que seja infiltrada por gente que está a causar estragos a esta luta, que está a causar danos a esta marcha», disse, citado pela Prensa Latina. Fora da capital, realizaram-se mobilizações e cortes de estrada em múltiplas províncias, sem registo de grandes incidentes e num clima de expectativa quanto à resposta do governo sobre as garantias solicitadas pela Conaie, para que as parte se possam sentar à mesa e negociar. Essa perspectiva parece agora mais distante, mas a Conaie insiste que o diálogo é possível desde que o governo garanta o fim das acções de repressão e de criminalização dos manifestantes, a revogação do estado de excepção declarado, e que não existam pontos «inviáveis», à partida, na discussão. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Neste sentido, pediu que se mantenha a «solidariedade entre todos». «Arriscámos a vida e a liberdade, mas vamos continuar nesta luta pelos dez pontos da agenda», clamou perante os manifestantes reunidos na capital. «Não se confundam, se regressarmos, será com benefício para o povo. Se não houver isso, não nos vamos embora de Quito», insistiu, citado pela Prensa Latina. Nos últimos dois dias, as jornadas de mobilização foram mais tranquilas, depois de 12 dias consecutivos de forte repressão policial e do Exército, bem como de acções violentas de elementos infiltrados nas manifestações. Na sua conta de Twitter, a Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazónia Equatoriana (Confeniae) informou que até ontem, às 14h30, se registaram cinco mortos, oito desaparecidos, 280 feridos e 158 detenções, no âmbito da paralisação nacional e por tempo indeterminado, iniciada no passado dia 13. Ontem, ao fim do dia, os movimentos indígenas pediram aos manifestantes mobilizados que contribuam para a criação de corredores humanitários, de modo que alimentos, ambulâncias e tudo o que for emergência possam chegar às pessoas. «Esta luta continua pela nossa dignidade, pelos resultados, mas também pedimos, da maneira mais solidária, que garantam os corredores logísticos humanitários», disse Leonidas Iza, via vídeo. O pedido foi feito pouco depois de uma conferência de imprensa em que o director do Sistema Integrado de Segurança ECU 911, Juan Zapata, falou de desabastecimento de alimentos e combustíveis em várias províncias, bem como da necessidade urgente de fazer chegar oxigénio hospitalar à cidade de Cuenca. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. À noite, Leonidas Iza, dirigente da Conaie, informou os indígenas mobilizados em Quito da suspensão das mobilizações e do regresso paulatino aos seus territórios, tendo em conta os avanços alcançados em questões que o movimento indígena considerava prioritárias, refere a Prensa Latina. Leonidas Iza sublinhou que ainda há divergências e fez um apelo ao fim da estigmatização, do racismo e das ofensas contra os indígenas e o povo que luta. Pediu ainda que sejam trabalhados temas como a criminalização e a reparação às vítimas e seus familiares, indica a TeleSur. De acordo com a Aliança pelos Direitos Humanos do Equador, entre 13 e 29 de Junho (inclusive), no âmbito da paralisação nacional, registaram-se seis mortos, 335 feridos e 155 detenções. Na sua conta de Twitter, a Conaie destaca a força da paralisação nacional e a importância dos avanços alcançados. «Guillermo Lasso nunca se sentou à mesa de diálogo, apareceu nas cadeias de televisão, mas o seu governo viu-se obrigado a responder ao povo», frisa o organismo. Nas ruas da capital equatoriana, o ambiente era, ontem à noite, de triunfo e grande festa. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Para a socióloga Irene León, membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade, estes resultados são um exemplo da «inconformidade popular com o neoliberalismo».
À Prensa Latina, León disse que os leitores «deixaram clara a sua vontade de mudança» – e ela ficou bem clara na província de Guayas, onde a Revolução Cidadã pôs fim a mais de três décadas de governação do Partido Social Cristiano. Ali, Marcela Aguiñaga tornou-se a nova governadora e Aquiles Álverez passou a ser o presidente do Município de Guayaquil.
Irene León sublinhou a dimensão política destes resultados depois da perseguição movida à Revolução Cidadã nos últimos anos, das prisões e do exílio sofridos pelos seus dirigentes.
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