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Petro: «ao que se passou em Bello chama-se fascismo»

Sara Millerey, uma mulher trans de 32 anos, foi assassinada brutalmente em Bello, a norte de Medelín, Colômbia. Só em 2025, já foram mortas 25 pessoas LGBT em crimes de ódio no país. Petro promete acção.

Vigília em memória de Sara Millerey, uma mulher trans de 32 anos que foi brutalmente assassinada na Colômbia a 4 de Abril de 2025. Parque de los Hippies, Bogotá, Colômbia
Créditos / ElTiempo

A violência do caso evoca o assassinato de Gisberta, uma mulher trans brasileira que, em 2006, após vários dias de agressões, foi espancada até à morte no Porto, por um grupo de adolescentes. Quase 20 anos depois, noutro continente, a brutalidade do ódio vitimou Sara Millerey González Borja, uma mulher trans de 32 anos, foi assassinada brutalmente em Bello, uma cidade na zona norte da Área Metropolitana de Medelín, na Colômbia.

A presidente da Câmara da cidade descreveu o homícidio à comunicação social: «[Sara] foi vítima de um acto hediondo e odioso. Foi agredida, os seus braços e pernas foram partidos e depois atiraram-na ao rio». Depois de duas horas em agonia, captados por um vídeo divulgado nas redes sociais com autoria desconhecida, bombeiros foram alertados para a situação e resgataram a mulher, que acabou por morrer no hospital, a 4 de Abril de 2025.

Uma autarca local, em declarações prestadas à emissora Blue Radio, destacou o facto de Sara ser «uma pessoa muito querida pelas pessoas, fazia parte da dinâmica do bairro» onde acabou por ser assassinada..

Gustavo Petro: «O fascismo é a eliminação violenta das diferenças no ser humano: diferenças políticas, religiosas, étnicas, sexuais» e o que se passou em Bello «é o fascismo»

Neste momento, «a Polícia e a Fiscalía General de la Nación [um órgão judicial] têm uma enorme dívida para com a vida e para com a democracia em Bello», afirmou Gustavo Petro, Presidente da Colômbia, nas suas redes sociais. Perante mais um crime de ódio no país, Petro assumiu a necessidade de uma intervenção maior do Governo neste combate: somos democratas que amam a vida e não nazis tenebrosos».

A posição de Petro foi reiterada pelo Ministério da Igualdade e Equidade: «reivindicamos as suas vidas, sonhos, histórias, legados e o direito a viver com dignidade e liberdade. Erguemos as nossas vozes e juntamo-nos ao apelo urgente contra a violência de género e os transfeminicídios. O silêncio mata e nós não seremos cúmplices da barbárie e da dor que a desigualdade gera». Ao início de Abril de 2025, 25 pessoas LGBT já tinham sido assassinadas na Colômbia.

Nas cerimónias fúnebres de Sara, a sua mãe defendeu que o seu assassinato, cometido «de uma forma tão cruel», se deveu ao facto de «ser extrovertida e por ser uma pessoa trans». A opinião foi secundada por Gustavo Petro, dias mais tarde, num longo texto publicado nas redes sociais em que o Presidente da Colômbia descreve a longa prática de homícidios no país contra «os marginais», os que vivem à margem da normatividade.

«Acreditam que, matando as diferenças, a sociedade fica melhor; é assim que eles também pensavam, e eram como esses assassinos [da Sara], aqueles que matavam o ladrão do bairro, ou o bandido sujo da esquina, que baptizavam como descartável, tão descartável que chamavam ao acto de o assassinar uma “limpeza social”».

«Parecia-lhes que o sindicalista devia morrer, porque a voz do patrão era lei sagrada, e os seus lucros sagrados (...) os pais dos assassinos e os seus avós e bisavós tinham sempre obedecido, mesmo que alguns deles tivessem a pele negra e usassem correntes. Que viva a ordem e assustavam-se quando alguém dizia: viva a ordem justa!».

São milhões, os que mataram a Sara na Colômbia. «O pecado que cometemos é que agora somos mais».

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